Vendas do Minha Casa sobem 23% este ano

Depois de anos de crise, mais uma pesquisa aponta uma lenta recuperação do mercado imobiliário, ainda que com realidades diferentes para os segmentos popular (a todo vapor) e alto padrão (ainda no negativo).

Enquanto a comercialização de imóveis de alto padrão caiu 13% entre janeiro e agosto deste ano, em comparação ao mesmo período de 2016, a venda de unidades do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) aumentou em 23% nesse intervalo, segundo informa uma pesquisa feita entre as 20 maiores incorporadoras do país. O setor continua expressando otimismo. E quem está nas estatísticas como potencial comprador precisa ficar atento para não ter prejuízo.

“O segmento de luxo foi afetado pelo número de distratos, 46% em 2017” – Luiz França, presidente da Abrainc

A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), responsável pelo levantamento, destaca que enquanto a demanda por casas populares continua aquecida, na outra ponta do mercado, quase metade dos negócios fechados acabam em distrato.

“O segmento médio e alto padrão foi muito afetado pelo alto número de distratos, 46% em 2017, e pela crise econômica vivida no país”, afirma o presidente da Abrainc, Luiz França, que, entretanto, considera que o mercado como um todo está se recuperando gradualmente.

O Sindicato da Indústria da Construção da Bahia (Sinduscon-BA) considera os números da pesquisa próximos à realidade do estado e acredita que o mercado de alto padrão está se remodelando após a crise. “Está chegando ao fim o padrão de condomínios-clube. A tendência é que os novos lançamentos sejam de uma única torre”, aposta Carlos Henrique Passos, presidente da entidade.

A Abrainc destaca que há um comportamento bem distinto entre os segmentos. A lógica é que os compradores de imóveis populares não têm alternativa: adquirem o imóvel porque precisam dele. Enquanto quem vai comprar um imóvel de alto padrão pode desistir mesmo depois de ter assinado o contrato.

“Essa tendência vem se confirmando nos últimos anos, pois o MCMV mostra crescimento devido ao alto déficit habitacional existente no Brasil e à possibilidade de uso do funding FGTS (financiamento com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), que proporciona acesso a imóveis com um valor de prestação mais adequado”, diz França.

Segundo ele, o mercado como um todo vem aos poucos melhorando ao longo de 2017. “O primeiro trimestre de 2017 foi pior do que o mesmo período de 2016 enquanto o segundo trimestre deste ano foi melhor que o mesmo período de 2016”, compara França.

Um ponto destacado pelo executivo é que, além das unidades do MCMV, os incorporadores começaram a detectar também uma “ boa comercialização” em produtos específicos, que são focados em regiões de alta renda.

” O entendimento do STJ é que o comprador é responsável pelo débito existente” – Paula Farias, advogada

Cuidados na compra

Para quem está voltando a se animar a comprar um imóvel, a advogada Paula Farias faz algumas ponderações. No caso de imóveis usados, é preciso correr atrás de todas as certidões negativas antes de fechar negócio. “O entendimento do Supremo Tribunal de Justiça é que comprador é responsável por qualquer débito existente”, diz a advogada.

Ela destaca o caso recente de uma pousada de Santos, litoral de São Paulo, que tinha dívidas trabalhistas e vendeu seus três bangalôs a compradores diferentes. As três pessoas que adquiriram as unidades tiveram que arcar com as despesas.

Um documento fundamental é a matrícula de um imóvel em cartório. A matrícula registra as características de um imóvel e a sua localização. A cada modificação nas características do imóvel ou de seu proprietário, como mudança de estado civil, é preciso atualizar as informações. Essas atualizações são chamadas de averbações. “Pode acontecer de o comprador tirar a matrícula no cartório e horas depois entrar uma averbação”, explica Paula, que recomenda que a matrícula seja retirada o mais próximo possível do momento da compra.

MAIS DETALHES DA PESQUISA ABRAINC

Lançamentos – Os imóveis de médio e alto padrão (MAP) representaram 20,9% do total de lançamentos do período. Os imóveis Minha Casa, Minha Vida (MCMV) totalizaram 77%. Os lançamentos de imóveis novos somaram 42.058 unidades entre janeiro e agosto de 2017, volume 9% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior;

Vendas – No período de 12 meses pesquisado, entre agosto de 2016 e de 2017, 33,6% dos imóveis vendidos foram MAP, enquanto 58,7% foram de MCMV. Na mesma base de comparação, as vendas de imóveis novos totalizaram 68.632 unidades, alta de 3,4% em relação ao volume comercializado no mesmo intervalo em 2016;

Distratos – Em todos os segmentos, foram contabilizados 37,3 mil distratos nos últimos 12 meses, o equivalente a 35,4% das vendas de imóveis novos. No segmento MAP foi de 45,6%, e no MCMV esse percentual foi de 19,8%.