Scania eleva apostas no gás para veículos pesados no Brasil

Primeiros caminhões a GNV serão entregues em abril; empresa estima vender de 200 a 300 unidades este ano; ônibus chegam no segundo semestre

Scania elevou suas apostas no gás para veículos pesados no Brasil, para atender as crescentes demandas de embarcadores e clientes por transporte mais sustentável de carga e passageiros. A empresa investiu R$ 30 milhões em sua linha de montagem brasileira em São Bernardo do Campo (SP) para produzir, a partir de março, com motores ciclo otto importados, caminhões e ônibus movidos pelo combustível gasoso na forma comprimida (GNC) ou liquefeita (GNL).

Os primeiros caminhões Scania a gás natural veicular (GNV) já estão em testes nas frotas de clientes e as primeiras unidades vendidas devem ser entregues a partir de abril. O fabricante prevê entregar de 200 a 300 modelos a GNV este ano e projeta mercado crescente nos próximos anos. Os ônibus a GNV da empresa sueca chegam ao mercado brasileiro no segundo semestre.

“Temos certeza que acertamos ao oferecer o caminhão a gás no Brasil, é um produto que entrega sustentabilidade no transporte e aumenta a rentabilidade dos clientes”, disse Roberto Barral, vice-presidente de operações comerciais da Scania no Brasil.

GANHO AMBIENTAL E ECONÔMICO

Com muitos componentes importados, como o motor, o veículo a GNV custa atualmente de 30% a 35% mais caro do que os similares a diesel, mas como o gás é mais barato o custo de operação é 15% menor, segundo demonstraram os testes feitos pelo fabricante com frotistas. O ganho ambiental também é relevante: usando gás natural fóssil, que tem queima mais eficiente que o combustível líquido, o novo modelo Scania reduz em até 15% as emissões de CO2 na comparação com um modelo equivalente a diesel.

O caminhão a gás também pode usar o biometano (derivado de lixo e matérias orgânicas em decomposição) sem necessitar nenhuma adaptação, o que eleva a redução de CO2 a até 90%, pois o biogás tem pegada de carbono quase neutra em seu ciclo de produção – parecida com o etanol, com emissões reabsorvidas pelas plantações de cana.

Existem ainda outros ganhos paralelos. Como o motor a gás é mais limpo, ele tem nível de emissões de poluentes que ficam abaixo dos limites apertados da legislação europeia Euro 6 – equivalente ao Proconve P8 que irá vigorar no Brasil a partir de 2023. Por isso, o caminhão GNV já nasce Euro 6, sem que para isso precise usar o catalisador de pós-tratamento de gases (SCR) ou o filtro de partículas (DPF), pois o nível de NOx emitido é 98% menor do que na queima do diesel e não há emissões de material particulado.

PRESSÃO POR SUSTENTABILIDADE

“Existem no Brasil grandes embarcadores que têm metas de sustentabilidade como estratégia de seu negócio, por isso há demanda por transporte sustentável de seus produtos e o caminhão a gás surge como solução bastante viável. É uma tecnologia disponível e existe abundância de gás no mundo inteiro, o que fará governos adotarem programas para aumentar o uso do GNV”, avalia Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania no Brasil.

A Scania conversa atualmente com oito embarcadores de grande porte já demonstraram interesse em fazer seus prestadores de serviços de transporte adotarem caminhões a gás em suas frotas. Estão nessa lista Unilever, Ambev, Citrosuco, Usina Cocal, Usina São Martinho, Solar Coca-Cola, Pepsico e Syngenta. Alguns deles já estão fazendo testes com a versão GNV do cavalo mecânico R 410 6×2, equipado com motor ciclo otto de seis cilindros, 13 litros e 410 cavalos.

A Ambev, por exemplo, começou a testar o R 410 com tanques de gás liquefeito (GNL) na rota de transporte de bebidas entre Jaguariúna (SP) e a cidade de São Paulo. Rodando com a forma líquida do GNV, é possível armazenar muito mais combustível e a autonomia pode dobrar em relação aos 500 quilômetros que podem ser percorridos pelo mesmo caminhão equipado com tanques de gás comprimido.

No Nordeste do País, o Grupo HCL testa o mesmo caminhão a gás em operação da Solar Coca-Cola, segunda maior fabricante da Coca-Cola no Brasil. Na primeira fase de testes, prevista para durar de três a cinco meses, o R 410 a GNV vai transportar 30 toneladas de açúcar e rodar 200 km diariamente em estradas de Pernambuco.

“O consumo do gás é muito similar ao do diesel, mas o valor do gás em Pernambuco é mais acessível que em outros estados, o que torna o frete também mais barato. Estou tão satisfeito que já fiz pedido de um caminhão para a Scania”, comenta Hebert Cordeiro de Carvalho, proprietário do Grupo HCL, que até então não tinha modelos Scania na frota de 100 veículos. Carvalho também é proprietário de postos de abastecimento na região e pensa em outras soluções sustentáveis. “Estamos estudando a viabilidade de produzir o nosso próprio combustível. Com isso, a redução do custo cai para mais de 60% em comparação a um modelo a diesel”, revela.

MERCADO DE GÁS PODE TER RÁPIDA ASCENÇÃO

Segundo explica Silvio Munhoz, da Scania, no momento o principal entrave para o aumento da venda de caminhões a gás no País é a dificuldade de reabastecimento, pois poucos postos estão preparados para abastecer caminhões com GNV, o que requer bombas especificas com bicos específicos. Mas ele avalia que isso irá mudar rapidamente com a grande disponibilidade de gás em alguns estados que planejam adotar políticas de estímulo para aumentar o uso do combustível gasoso.

“Vai acontecer. Quanto mais se falar em gás, mais vai crescer a demanda. Não só por nossa causa, mas porque outros fabricantes também vão trazer a tecnologia e isso vai estimular municípios e estados a aumentar a distribuição do GNV”, avalia Munhoz. Sobre a recente medida do governo que zerou o imposto de importação e caminhões a gás, o executivo admite que é uma ameaça para quem decidiu produzir o veículo no País, mas confia que sua rede de assistência já instalada será um diferencial a favor da Scania na competição.

Munhoz destaca que o País tem muitas possibilidades a explorar para aumentar o uso do combustível gasoso, tanto fóssil como biológico. Ele lembra que o gás natural é um subproduto da exploração de petróleo e a Petrobras já produz muito em suas plataformas marítimas, mas como ainda não há demanda precisa queimar ou reinjetatar o metano produzido em poços mortos para ser guardado, em uma operação cara que poderia ser evitada.

“Também existe aqui o chamado ‘pré-sal caipira’: fazendas que podem produzir muito biometano em biodigestores a partir de dejetos orgânicos que não são aproveitados hoje”, aponta o diretor da Scania. “Há muito potencial que pode ser rapidamente aproveitado com a adoção de programas de estímulo coordenados por governos e iniciativa privada”, conclui.

Fonte: automotivebusiness