Empresas automotivas buscam um propósito além do lucro

Estudo mostra evolução da cultura corporativa das organizações do segmento

O propósito, ou razão de existir de uma empresa, é um tema que ganha cada vez mais espaço no mundo corporativo. No setor automotivo, este debate também atrai atenção, como mostra a 2ª edição do estudo Liderança do Setor Automotivo, realizado por Automotive Business em parceria com a Mandalah e com a MHD Consultoria com 673 entrevistados.

Entre os profissionais que responderam à pesquisa, 37% declararam que a empresa em que trabalharam tem um propósito claramente definido que direciona todas as decisões estratégicas e ações do dia a dia. O número representa uma evolução expressiva na comparação com a primeira edição da pesquisa, feita em 2018, quando apenas 6% dos entrevistados conseguiram definir o por quê de existir da própria organização.

“Propósito é um objetivo mais elevado, que vai além do lucro e indica o impacto positivo que uma organização gera no mundo”, esclarece Tom Moore, sócio da Mandalah.

Apesar do avanço, 63% das pessoas entrevistadas apontam que a companhia em que trabalham ainda não tem este olhar amadurecido – estão em alguma etapa entre não ter interesse pelo tema e estar começando o trabalho para implementar esta visão.

Segundo os respondentes, as maiores dificuldades deste processo estão, em primeiro lugar, no foco excessivo das empresas no curto prazo, seguido do contexto de mercado em que as organizações estão inseridas e da falta de clareza sobre quais passos tomar para ativar um propósito.

Ana Theresa Borsari, diretora geral das marcas Peugeot, Citroën e DS no Brasil, entende que mostrar qual é a razão que move uma organização é essencial para gerar engajamento interno. “Acordamos de manhã e queremos saber por que estamos indo trabalhar, que bem vamos fazer”, diz. E complementa:

“As empresas precisam entender que este não é um esforço apenas institucional, mas algo inerente às pessoas. Propósito não é criar uma frase de efeito, mas sim fomentar a contribuição humana para o mundo. O ambiente de trabalho pode ser um espaço para que as pessoas realizem isso.”

CLIMA DAS ORGANIZAÇÕES AUTOMOTIVAS

O estudo Liderança do Setor Automotivo também apurou aspectos relacionados ao clima das empresas – algo intimamente conectado com a postura dos profissionais em posição de comando. Pelo levantamento, as organizações do setor alcançaram 39 pontos no eNPS (Net Promoter Score) – índice que aponta o grau de satisfação e lealdade dos colaboradores.

O resultado pode ser considerado positivo, mas mostra que há também grande parcela de lideranças neutras, que não são nem detratoras, nem defensoras das organizações em que trabalham – algo que pode melhorar.

Para os entrevistados, empatia é a principal característica de uma boa liderança e algo nem sempre fácil de encontrar. Para 44%, os gestores da empresa em que trabalham não apresentam este atributo. Roberto Cortes, CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, entende que esta é uma característica essencial:

“Uma boa liderança tem serenidade, calor humano e coragem para fazer o que tem de ser feito. É essencial saber agir de forma contundente e trazer a equipe naturalmente, sem precisar recorrer a uma postura agressiva.”

A maior parte da liderança do setor automotivo (39%) se encaixa no perfil de Candura Radical – conceito que aponta que um bom gestor precisa reunir a capacidade de importar-se pessoalmente com as pessoas do seu time e, ao mesmo tempo, desafiar diretamente estes mesmos indivíduos. Antonio Filosa, presidente da FCA América Latina, aponta que este equilíbrio depende também de um bom clima organizacional:

“Ter lideranças empáticas é resultado de um trabalho de recrutamento bem feito, mas também de um ambiente organizacional que dê espaço para isso. Há um problema no mundo corporativo que mata muitas evoluções: a cultura da culpa.”

O executivo aponta que “é nela que está a diferença entre profissionais e times que se isentam da responsabilidade quando surge um problema e aqueles que preferem se reunir e trabalhar para identificar soluções.”

FONTE: AUTOMOTIVE BUSSINESS