Como utilizar blockchain na construção e mercado imobiliário?
Embora o cenário atual esteja talvez mais propício para desenvolver soluções tecnológicas descentralizadas, em algum momento antes, você já deve ter escutado falar de Blockchain.
Comumente conhecida a partir do dinheiro eletrônico ou moeda virtual, mais precisamente pelo bitcoin, possui propriedades bem mais fortes, pois é uma tecnologia que vai além da utilização em finanças.
Coincidência ou não, a tecnologia apareceu na crise financeira de 2008 nos EUA, devido a desconfiança crescente na economia, que envolveu tanto as corporações quanto os governos. Eles que normalmente deveriam melhorar tal situação e como não ocorreu, levou muitas pessoas a procurarem alternativas.
Em seguida, as revelações de Snowden, em 2013, mostrou quão ativo o governo era para casos em que os cidadãos acreditam ter privacidade. Foi a gota d´água. Apesar da tecnologia Blockchain não terem sido adotadas como resultado único, o espírito da descentralização foi uma alternativa para ter de volta a confiança perdida.
A essência da rede Blockchain trata de uma tecnologia que grava transações permanentes (não podem ser apagadas, nem alteradas). Fazendo analogia a um grande banco de dados distribuído (sem um administrador centralizado), caso seja necessário alterar algum dado que lá se encontra, é permitido gravar outro registro referenciando o antigo com a informação que foi alterada, mantendo um histórico de todas essas intervenções.
Aparentemente não tão simples de ser entendida devido a sua estrutura, seu funcionamento tem grandes aplicações. Está fazendo empresas repensarem seus negócios, principalmente na forma de armazenar dados e mover ativos.
Utilizando as teorias de jogos, criptografia e a engenharia de software, as transações são submetidas à rede para validação, como forma de desafio. Solucionar esse enigma consiste em decifrar o código (combinação das três teorias acima) a partir de computadores muitos rápidos para consistir se realmente as informações estão presentes na transação para serem efetivadas.
Consistir busca provar/verificar a veracidade e a autenticidade dos fatos, dados, processos, eventos ou qualquer outra coisa. Ela pode confirmar se foi ou não realizada.
Os princípios básicos da confiança trabalhado pela blockchain é a busca por transparência e a verdade. A transparência faz a pergunta: podemos ver? A confiança faz a pergunta: Podemos verificar?
A responsabilidade de provar que algo aconteceu é uma especialidade da rede. Os métodos de provas variam desde estarem embutidos como parte de um protocolo de consenso, prova-como-serviço até prova-em-serviço. São a partir desses formatos que podem surgir inovações nos negócios, em várias categorias. Seguem alguns exemplos:
PROVA-EM-SERVIÇO
- Registro de Casamento
- Transações entre as partes
- Registro de Terras
- Auditoria Contábil
- Cadeia de Suprimentos
- Votação
- Registro de Ativos
- Transferência de Escritura
PROVA-COMO-SERVIÇO
- Prova de Ativos
- Prova de Propriedade
- Prova de Identidade
- Prova de Endereço físico
- Prova de Autenticidade
- Prova de Proveniência
- Prova de Individualidade
- Prova de Recebimento
PROVA-POR-SERVIÇO
- Prova de Trabalho
- Prova de autoridade
- Prova de Participação
- Prova de Existência
Vários insights …
Você deve ter tido vários insights do quão abrangente podem ser as aplicações da Blockchain no segmento da construção e mercado imobiliário, a partir dos quadros acima.
Na visão “Imóveis”, pode estar presente em processos como transações imobiliárias, escrituração, autenticidade de assinaturas, validação de propriedade, dentre outras, provando ser uma ferramenta que confere agilidade e segurança aos processos que é aplicada.
Na visão “Construção”, ela pode garantir mais segurança e visibilidade das informações. Age justamente em processos “truncados”, como a verificação entre entregas reais versus o que foi firmado em contrato, por exemplo. Sua característica descentralizada e segura traz maior organização no fluxo de informações e no controle de projetos, facilitando o trabalho de fiscalização e análise.
Em ambos os casos, a tecnologia permite que, por exemplo, os envolvidos de um mesmo projeto acompanhem em tempo real qualquer alteração ou aprovação feita em um documento de uma obra. Essas alterações ficam registradas, contendo informações como data, hora e responsável. Assim, é possível evitar fraudes, aumentar a confiança de todos os envolvidos e também possibilitar o rastreio de erros diretamente em sua fonte.
A inteligência nos contratos
Execução de Contratos sempre foi um problema em vários segmentos. Muitas vezes são feitos para formalizar alguma relação comercial entre cliente e fornecedor, mas acabam dentro de gavetas, quanto muito são resgatados para orientar alguma parte que não cumpriu sua parte do acordo. Existe uma necessidade eminente de clareza e mais segurança com relação a esses trâmites.
Surgiu a partir de estudos do cientista da computação Nick Szabo, os Smart Contracts são contratos digitais autoexecutáveis que usam a tecnologia para garantir que os acordos firmados serão cumpridos.
Bem mais seguros que os físicos, pois os contratos tradicionais contêm uma linguagem jurídica passível de múltiplas interpretações. Além disso, sua validação depende de terceiros e está sujeita a um sistema judicial público que, muitas vezes, pode ser caro, demorado e ineficiente.
Já os smart contracts são totalmente digitais e escritos em uma linguagem de programação inalterável. Além de estabelecer obrigações e consequências da mesma forma que o documento físico habitual, o código pode ser automaticamente executado. Portanto, é capaz de obter e processar informações referentes à negociação, já tomando as providências conforme as regras do contrato.
Lembrando que a qualquer alteração de contrato, deve seguir a regra da Blockchain, ou seja, cria-se um novo, altera o que precisa ser alterado, liga-se ao original (mantendo-o intacto), possibilitando a rastreabilidade.
Em uma obra, por exemplo, consideremos que haja uma cláusula especificando que o pagamento de parcelas para empreiteiros será realizado apenas após as respectivas fases da execução. Com o blockchain, é possível rastrear e identificar a conclusão dessas fases e acionar a cláusula, liberando o pagamento. Tudo de forma automática, em tempo real e sem intermédio de pessoas.
As informações sobre o andamento, conclusão e demais detalhes da obra seriam integrados à plataforma de blockchain através da leitura de sensores inteligentes, localizados próximos ou mesmo in loco.
Blockchain e BIM: a dupla de sucesso
O BIM (Building Information Modeling) é uma ferramenta de modelagem de obras e edificações. “Com ela é possível criar digitalmente um ou mais modelos virtuais precisos de uma construção. Eles oferecem suporte ao projeto ao longo de suas fases, permitindo melhor análise e controle do que os processos manuais. Quando concluídos, esses modelos gerados por computador contêm geometria e dados precisos necessários para o apoio às atividades de construção, fabricação e aquisição por meio das quais a construção é realizada.” (definição do Handbook of BIM (Eastman, Teicholz, Sacks e Liston, 2011)
Com a Blockchain e o uso de dispositivos que possam captar a leitura do andamento da obra (seja por câmera de vídeo, fotos, drones ou outro meio), é possível obter dados exatos de cada fase do empreendimento. Dessa forma, há uma integração fiel entre a obra física e seu modelo digital. O que possibilita aos envolvidos acompanhar a evolução de modo assertivo, medindo a produtividade em cada etapa.
Ao ser aplicada à Construção e aos processos da cadeia de valor do segmento, os benefícios são muitos. Transparência, rastreabilidade, confiança entre as partes e acompanhamento em tempo real, fazem parte de uma realidade promissora para as empresas que a adotar essa tecnologia.