Arquitetura flutuante: por que as construções não afundam

Conversamos com especialistas que explicaram quais são os as aplicações e localidades que melhor se adaptam a esse tipo de construção

Em meio às mudanças climáticas, que ocasionam a elevação do nível dos oceanos, a arquitetura flutuante aparece como um alternativa que poderia tornar mais comum a criação de moradias sobre as águas, e, consequentemente, ajudar populações menos favorecidas a não ficarem desabrigadas.

“Esse conceito foi desenvolvido como resposta para o atual e futuro panorama do planeta. A tipologia surge como resposta a situações emergenciais climatológicas, permitindo que a construção seja capaz de se movimentar e garantir abrigo diante das instabilidades”, conta Nayara Pires, doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, professora e autora do livro ‘Flexibilidade: Arquitetura em Movimento’.

Tipos de construções

Nayara conta que as casas flutuantes são divididas em dois grupos: as construções de base flutuante e as construções anfíbias. “O que as difere é a mobilidade que oferecem, já que o modelo de base flutuante possibilita o deslocamento horizontal como qualquer outro barco através de motor ou reboque, e a construção anfíbia, por sua vez, é fixa, completamente limitada em seus movimentos”, diz.

Em relação às construções anfíbias, não há a necessidade de autossuficiência, já que costumam se localizarem às margens de rios ou lagosa, além de serem mais estáveis. Dessa forma, os abastecimentos de água, eletricidade, gás e drenagem são feitos por baixo do cais ou por falsas estacas, através de tubos flexíveis capazes de se ajustarem de acordo com a necessidade.

Já para os projetos com base flutuante, é indicado o desenvolvimento autossuficiente e sustentável, com a utilização de energia renovável. Há a possibilidade da criação de sistemas para o fornecimento de luz elétrica e água encanada, além de rede de esgoto e televisão a cabo.

Por que as construções não afundam?

Projeto de habitações em Maasbommel, na Holanda é um tipo de construção anfíbia (Foto: Reprodução/ Instagram/ schoonschipamsterdam)
Esta “aldeia flutuante” está em desenvolvimento desde 2010, na Holanda, e pretende ser um modelo de planejamento sustentável. Bombas de água que extraem calor da água do canal fornecem calor para as casas, enquanto os painéis solares fornecem eletricidade que é armazenada e comercializada com a rede elétrica nacional. (Foto: Reprodução/ Instagram/ schoonschipamsterdam)

O professor Ricardo Ramos, especialista em casas flutuantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie ressalta que a física dessas construções vem da relação entre massa (materialidade) e volume (desenho e geometria). “Trata-se daquela antiga equação de densidade. Mas, por não ser uma simples embarcação, são feitos alguns ajustes de ancoragem e, em algumas situações, adaptações de mobilidade”, afirma.

Já Nayara, destaca que essa questão também está relacionada aos materiais utilizados ou, no caso das construções anfíbias, à fixação das estruturas por estacas. Um desses materiais é muito similar ao que é utilizado nas balsas. “É uma estrutura de fundação feita de aço tubular ou bambu, que garante a firmeza e estabilidade estática num eixo vertical. Ele pode ser complementado com garrafas PETs ou formas de concreto preenchidas com isopor, por exemplo”. Também existem as bases feitas com estruturas de madeiras, aço e até barris vazios.

Qual é a utilização mais comum?

Arquitetura flutuante: por que as construções não afundam e quais são os modelos mais utilizados  (Foto: Getty Images)
As palafitas que aparecem ao longo do Rio Amazonas são feitas com um conjunto de estacas de madeira, que sustentam habitações (Foto: Getty Images)

No Brasil, há moradias flutuantes para a população de baixa renda que residem em beiras de rios, como nas comunidades ribeirinhas. Desde que seja oferecida uma infraestrutura para garantir a qualidade de vida da população, seria opção de residência para se reproduzir em outras localidades.

Já no cenário do turismo mundial, tanto as construções anfíbias, quanto às construções em base flutuante podem ser bastante requisitadas, tendo em vista que oferecem experiências diferenciadas. Entretanto, elas dependem de organização e boa estrutura para o seu funcionamento.

Arquitetura flutuante: por que as construções não afundam e quais são os modelos mais utilizados  (Foto: Reprodução / Instagram / triptofollow)
Esta casa-barco em Joanópolis, no interior de São Paulo, está disponível para hospedagem pelo Airbnb (Foto: Reprodução / Instagram / triptofollow)

Moradias flutuantes são economicamente viáveis?

As casas flutuantes são indicadas para águas calmas e precisam de acesso, seja pela própria água ou pela terra. “Para estabelecer uma casa em água nas regiões onde há falta de terra, o custo é muito alto”, diz Alberto Ajzental, coordenador do curso em Desenvolvimento de Negócios Imobiliários da Fundação Getulio Vargas.

Ajzental reforça que esses projetos demandam conhecimento de fabricação, tecnologia específica, materiais especiais e investimentos para a realização, quando se tratam de modelos mais detalhados. “Isso justifica o fato de se encontrarem mais exemplos nas regiões de mangues e litorâneas. Observa-se que a construção de palafitasé  mais simples e precisa de recursos se comparada com outros projetos”, finaliza.

Fonte: Casa Vogue