Construção civil busca materiais alternativos
Com a intenção de utilizar opções ecologicamente mais corretas ou simplesmente para acelerar e baratear o custo das edificações, o ramo da construção civil está ampliando o leque de produtos aproveitados, além dos tradicionais tijolos e concreto. Entretanto, para que materiais de menor impacto ambiental ou com preços mais acessíveis possam ser mais utilizados, é preciso ainda mudar a mentalidade dos agentes desse segmento.
“Isso passa pela criação de uma cultura”, frisa o diretor do Instituto de Arquitetos do Brasil departamento do Rio Grande do Sul (IAB-RS) e professor da faculdade de Arquitetura da UniRitter, Rodrigo Troyano. Para a realidade gaúcha, o diretor do IAB-RS vê oportunidades em tijolos maciços feitos com resíduos industriais, assim como no emprego do bambu e do barro. Outra sugestão de Troyano é procurar soluções pré-fabricadas, que geram menos rejeitos nas obras.
O professor da UniRitter recorda que a construção civil é a indústria que mais gera resíduos no planeta, e que é necessário reduzir esse volume. Troyano defende que é preciso observar o cuidado com o meio ambiente ao se adotar um material alternativo, dando preferência a insumos renováveis. O arquiteto Alberto Cabral comenta que o Brasil ainda se encontra em uma situação atrasada quanto à construção civil em relação às nações mais desenvolvidas. O País utiliza muitos materiais que absorvem uma grande quantidade de energia para serem produzidos. Outro problema é que, em várias ocasiões, há a necessidade de transportar os produtos por longas distâncias. “Mas, olhando o Brasil como um todo, já existe um movimento interessante por parte de construtores para que suas obras sejam mais sustentáveis”, afirma o arquiteto.
A empresa GeoBrick, de Ivoti, desenvolve, por exemplo, o que chama de tijolo ecológico, feito a partir da mistura de solo, cimento e água. O produto é considerado ecológico, pois não é feita a cura em fornos a lenha, como acontece com o tijolo convencional. O responsável pelas áreas de Administração e Marketing da GeoBrick, Fabio Nunes Frota, comenta que, como o item é prensado, consequentemente, possui uma resistência final maior à do tijolo convencional.
Frota informa ainda que, comparado ao tijolo à vista convencional, o artigo não é muito mais caro. O ecológico é tratado externamente com um tipo de impermeabilizante e não possui um limite de vida útil. “É claro que, se deixar exposto à natureza sem qualquer tipo de tratamento, com o tempo, irá sofrer os danos, como qualquer outro bloco ou material”, argumenta.
Agilidade é considerada como um diferencial em obras
Outra empresa gaúcha, a Bazze, do município de Portão, também aposta na durabilidade e na rapidez que seu produto proporciona: formas de PVC para a construção de paredes. Esses perfis são preenchidos com concreto para dar resistência, e as edificações permanecem com o plástico do lado externo quando a obra é concluída.
Paredes em PVC são preenchidas com concreto para dar resistência /BAZZE/DIVULGAÇÃO/JC
O diretor comercial da Bazze, Fábio Luiz de Souza, vê como vantagens do uso do PVC a baixa manutenção e uma vida útil de mais de 50 anos. O executivo detalha que a conservação do produto é baseada na limpeza com água e sabão. A solução está sendo empregada na implantação de uma escola pública em Sorocaba, estado de São Paulo, que será concluída ainda neste semestre, com 25 salas de aula e 3,5 mil metros quadrados de área construída. Souza explica que a prefeitura tinha pouco prazo para construir o colégio e viu no sistema de PVC uma resposta que atendia a essa necessidade. As paredes foram executadas em 90 dias, comenta o diretor comercial.
A Bazze já tinha usado a técnica com o plástico em um projeto habitacional, com 101 casas, dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, no município de Sapiranga. No entanto Souza comenta que a maior utilização do PVC para esse tipo de finalidade ainda precisa superar algumas barreiras culturais. O diretor ressalta que hoje a construção no Brasil ainda é muito ligada às operações tradicionais com tijolos, cimento, reboco etc. “Mas esses sistemas demandam muita mão de obra, então, além de serem mais demorados, acabam sendo mais caros”, argumenta.
Já o Grupo Colmeia Engenharia Inteligente, de Esteio, aposta em outro produto de rápida aplicação: contêineres que são usados para habitação. O diretor comercial da empresa, Julio Delfino, informa que um dos itens é o contêiner modulável e desmontável, muito utilizado como escritório, alojamento, refeitório ou banheiro de canteiros de obra, mas que também pode ser utilizado como residência. O executivo enfatiza que se trata de um dos contêineres mais leves do mundo, com 800 quilos, feito em aço galvanizado. A unidade tem até 6 metros de cumprimento, por 2,30 metros de largura e 2,50 metros de altura.
“É uma casa transportada totalmente pronta, que demora 15 dias para entregar”, afirma. O desenho da unidade depende do projeto que o cliente demanda, mas, normalmente, o contêiner possui uma porta, uma janela e a abertura para o ar-condicionado, com revestimento térmico completo. Dependendo do modelo, o custo para adquirir um produto como esse pode variar de R$ 7 mil a R$ 30 mil, e a empresa também trabalha com locação. Delfino revela que, em média, mensalmente, são locados cerca de 40 contêineres e vendidos 20.
Vendas de materiais ficam estáveis
As vendas de materiais de construção no varejo ficaram estáveis em fevereiro em comparação com o mesmo mês do ano passado. Já frente a janeiro, houve queda de 9%. Os dados foram divulgados pela Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). O levantamento considera a performance de 530 lojistas de todo o País.
Todas as regiões apresentaram variações negativas em fevereiro na comparação anual: Nordeste (-16%), Norte (-8%), Centro-Oeste (-6%), Sudeste (-9%) e Sul (-15%). Com o fim do período chuvoso e a implantação gradual do Cartão Reforma – programa do governo federal que subsidiará a compra de materiais de construção por famílias de baixa renda -, a tendência é de uma melhora das vendas nos próximos meses, segundo o presidente da Anamaco, Cláudio Conz.
“O governo, aos poucos, está lançando o programa em cada estado contemplado, dispondo um subsídio às famílias de baixa renda para compra de material de construção”, afirmou Conz.
Fonte: Obra 24horas