Selic mais alta encarece financiamento, mas momento ainda é bom para comprar imóvel
Apesar das barreiras, como a disparada de matérias-primas e Selic a 6,25% ao ano, mercado deverá continuar aquecido até pelo menos 2025, dizem especialistas; pandemia impulsionou necessidade de ‘morar melhor’
Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros do País, a Selic, de 5,25% para 6,25% ao ano. A notícia tem impacto direto no mercado imobiliário. Afinal, quanto mais altos os juros básicos, mais caro fica o financiamento imobiliário. Mesmo assim, especialistas dizem que ainda é um bom momento para a compra de imóveis.
Ronnie Sang Jr., fundador da imobiliária AoCubo, diz que, apesar de o setor atravessar um momento de aumento dos custos de construção, com a disparada dos preços de produtos como o aço, por exemplo, e da alta da Selic, o mercado imobiliário não dá sinais de arrefecimento, graças às mudanças nos hábitos de morar. “Nos patamares superiores, apesar do repasse de preços, a pandemia tornou a necessidade de morar melhor algo urgente, e isso é um combustível atual do setor”, diz.
Para o engenheiro Vinicius Motta, presidente da plataforma Minha Casa Financiada, o aquecimento do mercado deve durar ainda pelo menos mais quatro anos. Ele acredita, portanto, que o momento é propício para comprar ou construir imóveis via financiamentos – filão explorado pela startup, que recorre às linhas de crédito da Caixa Econômica Federal para “aquisição de terreno e construção” e “construção em terreno próprio” para auxiliar os clientes a construírem casas do zero, reduzindo em 50% os custos se comparados à aquisição de um imóvel pronto. “Nós trabalhamos com duas linhas de financiamento aqui na MCF”, explica o empresário. “A primeira é atrelada ao aumento da poupança, que é imediato. A outra é atrelada à TR (Taxa Referencial), que está congelada em 7,72%. Ainda não foram repassados os aumentos da Selic para essa.”
Motta afirma que nunca existiram taxas tão baixas de financiamento imobiliário e que ficou mais barato optar pela modalidade, mesmo para quem tem dinheiro em caixa. “Por que, se você está pagando 7,72% de juros no imóvel e tem dinheiro aplicado rendendo 15% ao ano, vale a pena tirar esse dinheiro e pagar uma dívida de 7% ao ano? Não vale”, afirma. “Pessoas com dinheiro preferem pegar crédito no banco ao invés de se descapitalizar. Essa é a realidade de quando você tem taxas muito mais baixas do que o rendimento de um carteira de investimento do brasileiro.”
Taxas mais altas
As taxas de juros dos financiamentos imobiliários já tinham subido mesmo antes de o Copom anunciar a elevação, na semana passada. Quem puxou a fila dos aumentos foi o banco Santander, que subiu, no último dia 4, o juro do crédito imobiliário de 7,99% ao ano, mais variação da Taxa Referencial, para 8,99%, segundo a instituição. Na sequência, veio o Bradesco, que no dia 13 passou a ter taxas que variam entre 8,50% e 8,90% ao ano mais TR, dependendo do perfil do cliente. E, desde o dia 15, o Itaú Unibanco começa a cobrar 8,30% ao ano mais variação da TR nos financiamentos tradicionais, ante os juros de 7,30% ao ano vigentes anteriormente.
“A gradativa subida da Selic em 2021 está trazendo impacto e ajustes nos custos de contratação do crédito imobiliário durante esse ano”, diz Bruno Gama, presidente da CrediHome, fintech criada com o objetivo de facilitar a pesquisa e o processo de fechamento do crédito imobiliário. Segundo ele, como há a possibilidade de mais alguns ajustes nas taxas de financiamento, a recomendação é para o cliente buscar ainda este ano as melhores condições de crédito para a sua aquisição imobiliária.
Na contramão desse movimento dos bancos privados, porém, a Caixa Econômica Federal anunciou no dia 16 a redução de 0,4 ponto porcentual na taxa de juros da linha de crédito imobiliário com correção atrelada à poupança. Desde o dia 18 passou a ser possível contratar financiamento pela modalidade com juros a partir de 2,95% ao ano, somados à remuneração da caderneta.
No dia em que anunciou essa mudança, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse que a redução foi possível porque o banco registrou R$ 300 bilhões contratados na atual gestão e segue como o maior financiador da casa própria no País, com 67% de participação do mercado. Em agosto de 2021, foram R$ 14 bilhões em novos contratos, sendo o mês de maior contratação da história da Caixa.