Como as cidades estão assumindo um papel central no combate à crise climática
Desde que o acordo de Paris foi firmado em 2015, minimizar os efeitos e consequências das mudanças climáticas em curso no planeta tem sido, pelo menos declarativamente, um objetivo comum em todo o mundo; no entanto, as ações que estão sendo tomadas variam amplamente de país para país. Pensando nisso, as principais grandes cidades do planeta decidiram se posicionar e partir para a ação ao invés de apenas esperar ordens de cima. Fato é que muitas das iniciativas levadas a cabo pelas administrações municipais e regionais acabam sendo neutralizadas pelo consequente aumento das emissões de carbono em outras regiões do país e do mundo. Além disso, é importante ressaltar que a vulnerabilidade e a capacidade de adaptação frente às consequências do agravamento da crise climática varia muito de lugar para lugar. Procurando esclarecer e discutir o conceito de desigualdade ambiental, este artigo chama a atenção para o fato de que a crise climática só pode ser combatida de maneira eficaz através de um esforço global conjunto, coordenado e transdisciplinar.
Desigualdade ambiental pode ser definida como a carga de exposição de uma determinada sociedade aos possíveis riscos ambientais inerentes à sua situação desfavorável. Como um conceito bastante abrangente, a ideia de desigualdade ambiental permeia uma ampla gama de escalas e condições socioeconômicas de determinadas comunidades ou nações. Não é nenhuma novidade que o aquecimento global foi responsável pelo agravamento de muitas das desigualdades presentes em nosso planeta—a crise climática, por sua vez, deverá afetar ainda mais as principais regiões subdesenvolvidas do globo. Por outro lado, embora os investimentos em desenvolvimento de novas tecnologias de energias renováveis seja uma realidade bastante palpável em muitos países, o atual descompasso entre os países mais ricos e as nações menos desenvolvidas é abissal.
Disparidades e os Riscos Climáticos
Além de observar as mudanças climáticas a partir de lugares completamente distintos, os países de economia emergente também experimentam as consequências do aquecimento global de maneira bastante diversa em relação a seus primos abastados—principalmente pela alta vulnerabilidade de suas populações e pela pouca capacidade de adaptação aos desafios que elas representam. Dito isso, acredita-se que a África Subsaariana e o Sul da Ásia serão as duas das regiões mais severamente afetadas pelas consequências do aquecimento global, com as maiores perdas esperadas na agricultura, enquanto a região do Oceano Pacífico Ocidental sofrerá grandes perdas de território devido ao aumento dos níveis dos mares. Isso significa dizer que os níveis de riscos climáticos não são podem ser comparados em diferentes regiões do planeta; portanto, os impactos de nossas ações diferem de lugar para lugar.
Por exemplo, as Ilhas Marshall ou outras nações insulares do Pacífico são alguns dos territórios que mais sofrerão com o aumento de temperatura no planeta. Para estes pequenos territórios isolados em meio ao Oceano, o limite máximo aceitável é de 1,5 graus Celsius—acima disso as perdas de território passam a ser progressivas. Sob o lema “1.5 to stay alive”, as Maldivas, Tuvalu, Kiribati, juntamente com outros 40 estados que compõem a Aliança dos Pequenos Estados Insulares, são atualmente os países mais engajados nesta luta. Na ocasião da assinatura do acordo de Paris em 2015, o limite de 1,5 graus foi endossado por 106 países, ou seja, a absoluta maioria. Uma opção levantada pelas autoridades das Ilhas Marshall poderia ser a adaptação ao aumento do nível do mar recuperando e elevando o nível do solo, técnicas já comumente utilizadas em países como a Holanda e a Dinamarca. No entanto, os custos de tais empreendimentos são altos demais para estas pequenas nações insulares—trazendo à tona a questão da desigualdade ambiental.
Um Desenvolvimento Sustentável Desigual
Recentemente, o governo da Noruega apresentou um projeto inovador que está sendo desenvolvido para viabilizar soluções técnicas para enterrar CO2 em jazidas esgotadas de petróleo e gás no fundo do Mar do Norte, enquanto a cidade de Nova Iorque anunciou um investimento significativo em novas tecnologias de fixação de carbono. Enquanto os países e cidades mais ricas estão na vanguarda da descarbonização de seus sistemas energéticos, investindo alto em novas tecnologias que permitirão mitigar as consequências do aquecimento global com maior facilidade, outras nações menores e países de economias emergentes ainda estão muito defasados neste sentido, algo que poderia ter consequências significativas em escala global. Enquanto a União Européia caminha firme para cumprir a sua meta de ter pelo menos 32% de toda a energia produzida no continente oriunda de fontes de energia renovável até 2030, o continente africano sequer alcançará a meta de 10%, enquanto a demanda por energia deverá dobrar neste mesmo período.
O Fórum Econômico Mundial defende uma transição equilibrada para fontes de energias renováveis de maneira que as economias emergentes não sejam afetadas negativamente por cobranças exageradas. Uma transição equilibrada de sistemas energéticos baseados em combustíveis fósseis para fontes renováveis não será possível sem um esforço conjunto e coordenado por vários países, ou melhor, pela imensa maioria deles. Neste sentido, a contribuição dos países ricos para a causa tem sido amplamente discutida. Em junho deste ano, os líderes do G7 se comprometeram a aumentar suas contribuições para equilibrar a conta dos países mais pobres—reduzindo as emissões de carbono em escala global, além de assumir a posição privilegiada na qual se encontram. No entanto, promessas são promessas, como aquelas feitas em 2009, as quais, de maneira geral, nunca foram de fato cumpridas—neste ano de 2021, nem mesmo promessas foram feitas.
Considerando que a maior parte da população mundial atualmente vive em áreas urbanizadas, as cidades devem estar na vanguarda das mudanças que se esperam delas. A C40 Cities é uma rede que conta hoje com 97 das maiores cidades do planeta, as quais se comprometeram a operar juntas em busca de mitigar os efeitos e consequências das mudanças climáticas. Operando em conjunto, a C40 busca dar suporte a processos colaborativos além de incentivar intercâmbios e trocas de conhecimento entre as cidades envolvidas, impulsionando o surgimento de iniciativas ligadas ao transporte público, a geração de energia e o desenvolvimento de infraestruturas verdes. A medida que os governos centrais ainda encontram enormes dificuldades para estabelecer um plano de ação viável, esbarrando em processos burocráticos, a luta para mitigar os riscos climáticos e estabelecer uma transição para um futuro mais sustentável ainda é, em grande parte, responsabilidade das grandes cidades e seus governantes.