Indústria nacional de cimento apura uma retração de 3,4% nas vendas

Expectativa é de recuo de até 2%

A conjuntura econômica nacional fez com que a indústria de cimento revisasse para baixo as projeções de 2022. Diante da combinação entre alta de preços e de juros e menor consumo e maior endividamento da população, o setor já iniciou o ano com expectativa de manter os mesmos níveis apurados no ano passado. Mas transcorrido mais da metade do exercício, a nova estimativa é de fechar 2022 com resultado entre 1% e 2% negativo.

Conforme o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), no acumulado de janeiro a julho as vendas do setor totalizaram 36,3 milhões de toneladas contra 37,5 milhões de toneladas na mesma época do ano passado. Isso representou baixa de 3,4% entre os períodos. Apenas em julho, as vendas do produto registraram queda de 6,8% na comparação com o mesmo mês de 2021. O despacho de cimento por dia útil no sétimo mês deste ano somou 234,5 mil toneladas, indicando retração de 2,6% sobre mesmo mês do ano passado.

Na avaliação do economista do Snic, Flávio Guimarães, para além das intempéries do ambiente doméstico, influências internacionais também têm contribuído para o desempenho negativo do setor. A guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura mais de seis meses, por exemplo, acelerou a elevação dos preços de insumos energéticos, principalmente no coque de petróleo, matéria-prima essencial da indústria do cimento. Isso sem contar com os sucessivos aumentos de energia elétrica, frete, sacaria, gesso e refratários.

“Não se trata de uma novidade, pois o setor já vem sofrendo pressão de custos desde o início de 2020. O coque entregue no porto brasileiro já acumula aumento de 400% e junto com a energia elétrica já responde por mais de 60% dos custos de produção da indústria cimenteira”, diz.

diretor-executivo do sindicato, Bernardo Jannuzzi, complementa que por não terem condições de repassar tamanha variação, as fábricas tentam ganhar eficiência e produtividade. A estratégia resulta até mesmo no fechamento de fábricas e linhas em vistas de diminuir os custos de produção.

Indústria de Cimento

Hoje o País conta com 91 fábricas de cimento pertencentes a 22 grupos industriais, que estão distribuídas entre 80 municípios. Além dessas, há 11 unidades hibernadas, em função de redução de demanda, sendo quatro integradas e oito de moagem. Apenas em Minas Gerais são 15 fábricas, 13 integrais e duas de moagens.

A capacidade instalada do setor no País é de 94 milhões de toneladas/ano, volume que já chegou a 100 milhões de toneladas/ano, mas que foi reduzido justamente por esses fechamentos. E não há previsão de investimentos em ampliação, pois, segundo os representantes do sindicato, todas as fábricas estão com capacidade ociosa. E o ideal seria, primeiramente, retomar as unidades paradas.

Guimarães recorda que o recorde de produção do setor ocorreu em 2014, quando foram somadas 72,5 milhões de toneladas. Depois disso, entre 2015 e 2018, o setor perdeu cerca de 30% dessa produção. Passado o pior momento, 2019 foi o primeiro período de recuperação, mas não chegou nem perto dos 72 milhões – ficando próximo de 60 milhões de toneladas.

“Em 2020 o crescimento foi impulsionado pela pandemia e o maior desejo das pessoas de reformar suas casas. Em 2021 esse movimento foi continuado, mas o crescimento já foi um pouco menor e totalizamos 65,9 milhões de toneladas. Ou seja, nem recuperamos a perda de 30% acumulada entre 2015 e 2018 e já voltaremos a um resultado negativo em 2022”, lamenta.

De toda maneira, o economista lembra que o mercado brasileiro para construção civil e especificamente para a indústria de cimento é promissor. Isso porque ainda é elevado o déficit habitacional e precária a infraestrutura. Conforme ele, o consumo per capita de cimento no País é cerca de metade da média mundial. “Há um grande potencial de crescimento”, diz.

Por fim, Jannuzzi afirma que em 2023 já poderá haver novo movimento de alta no setor. Mas isso dependerá da conjuntura econômica brasileira e global. “O eminente risco de recessão global traz preocupações, assim como no mercado interno, a recuperação também vai depender da política de governo de quem assumir a Presidência da República”, conclui.

Fonte: Diário do Comércio