Mercado imobiliário projeta cenário difícil para o setor em 2023

Estudo da FGV registrou uma queda no índice de confiança do empresariado, inclusive dos setores de construção civil e de serviços, do qual o setor imobiliário é parte integrante

Depois de uma boa performance em 2022 apesar do aumento dos juros dos financiamentos, o mercado imobiliário conta com avaliações de cenário menos positivas para este ano. A desaceleração econômica, prevista antes mesmo das eleições presidenciais, é um dos fatores desfavoráveis apontados pelo sócio e co-fundador da rede imobiliária HomeHubFred Judice Araujo. Para ele, as sinalizações emitidas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm contribuído para criar um ambiente de instabilidade em vários níveis.

O recuo do Produto Interno Bruto (PIB), de 3% em 2022 para menos de 1% em 2023, já era algo previsto por especialistas do mercado imobiliário. Mas, como ressalta Fred Judice Araujo, o aumento no teto de gastos do governo com a PEC da transição, além do loteamento político de cargos púbicos e a composição da atual equipe econômica têm gerado uma grande apreensão nos empresários do setor e do mercado financeiro.

 “O aumento de gastos do governo com a PEC da transição tendo sido aprovada com mais R$ 145 bilhões, o possível retorno de indicações políticas para as estatais e as escolhas dos nomes para a equipe econômica têm deteriorado as expectativas de muitos empresários e do mercado financeiro em relação a 2023”, explicou o empresário e economista.

Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE-FGV) detectou uma queda no índice de confiança do empresariado, inclusive dos setores de construção civil e de serviços, do qual o setor imobiliário é parte integrante. Segundo a sondagem, os últimos três meses registram quedas seguidas de confiabilidade.

De acordo com a avaliação do IBRE-FGV, os atuais movimentos da administração petista tendem a desencadear um aumento na inflação, levando o Banco Central (BC) a manter os juros elevados por mais tempo. Tal cenário inevitavelmente impactará de forma negativa o mercado imobiliário.

Mas, apesar da conjuntura delineada, especialistas destacam que algumas providências poderiam amortizar os possíveis efeitos negativos e produzir um reaquecimento do mercado imobiliário. Entre elas estão a tributação dos fundos imobiliários, medida que poderia atrair investidores para o mercado imobiliário; a redução ou isenção do imposto de renda sobre aluguel; e incentivos governamentais nos programas de habitação popular. No que diz respeito às diretrizes do governo, a adoção de uma política fiscal responsável, restituiria os níveis de confiança do empresariado, além de possibilitar uma redução dos juros pelo BC, ainda no primeiro semestre de 2023. Tais medidas, se adotadas, permitiriam que mercado imobiliário retomasse o seu movimento de expansão.

O ano de 2022, de acordo com Fred, registrou uma boa dinâmica, apesar das altas taxas de juros. Durante o período, houve um recuo de 12% no crédito imobiliário em relação a 2021 – um recorde histórico – mas ainda assim, o setor apresentou resultados muito bons na comparação com os últimos cinco anos. Além disso, varáveis, como a queda das taxas de inflação e do desemprego, e o PIB em alta, também ajudaram nos bons resultados daquele momento.

Os analistas do mercado imobiliário, no entanto, ressaltam que a desaceleração econômica atual deve ser vista com grande atenção diante das incertezas provocadas pelo cenário político desenhado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Para Wilton Alves, diretor da Sergio Castro Imóveis, apesar das previsões de queda de vendas, o mercado de imóveis comerciais deve prosperar. Estão previstos investimentos em educação e cultura, que devem impulsionar os operadores privados de unidades educacionais, e com isso, a locação de imóveis para universidades. Para Alves, uma possível política desenvolvimentista e o alinhamento entre os governos municipal e federal no Rio podem trazer resultados positivos para a cidade, lembrando que o Estado está com as contas equilibradas e investindo em áreas há muito abandonadas, como a pesca, e os créditos de carbono. Sem contar, a possibilidade de implantação de uma chamada Bolsa Verde no Centro do Rio.

Fonte: Diário do Rio