Complexo do Pecém pode perder térmica de R$ 4,7 bilhões

UTE Portocem foi negociada pela Ceyba Energy, proprietária do investimento, com a New Fortress Energy, em troca de ações preferenciais. Investimento deve ser redirecionado para PA e SC

Maior investimento no Complexo do Pecém desde a instalação da siderúrgica, com montante de R$ 4,7 bilhões, a térmica a gás Portocem pode ter a instalação na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará cancelada. Os recursos devem ser transferidos para Bacarena, no Pará, e para o Terminal Gás Sul, em Santa Catarina.

O motivo é que a Ceiba Energy, proprietária da usina em instalação, repassou o ativo para a New Fortress Energy (NFE) em troca de ações preferenciais conversíveis. A operação foi informada pela NFE em comunicado ao mercado ainda em 27 de dezembro de 2023.

“Seguindo as condições habituais de fechamento, incluindo a aprovação regulatória para a transferência do PPA (Portocem) em Brasil, o PPA contribuirá com pagamentos firmes de capacidade de US$ 280 milhões por ano durante a vigência do contrato de 15 anos. A NFE espera que a transação seja concluída em março de 2024, com fluxos de caixa do projeto esperados para começar o mais tardar julho de 2026”, diz o texto.

Emílio Vicens, diretor presidente da Ceiba Energy, também comemorou a operação no comunicado: “Temos o prazer de apoiar os esforços da NFE para expandir as suas atividades no Brasil. Também é importante ressaltar que a transação permite que a Ceiba Energy continue desenvolvendo seu centro de importação de energia de GNL (gás natural liquefeito) no Estado do Ceará”, disse Emílio Vicens, Diretor Presidente da Ceiba Energia.

Licenciamentos emitidos

Se confirmada a saída do empreendimento, os esforços de captação e licenciamento do Estado podem significar trabalho perdido. A Portocem firmou o pré-contrato para a instalação ainda em dezembro de 2022. Desde a assinatura entre os diretores do governo cearense, a térmica passou a pagar por um espaço na ZPE do Ceará.

O processo de instalação ainda contou com a aprovação do projeto da linha de transmissão de energia. Com capacidade de 500 quilovolts (kV) e 5,526 km, o equipamento teve a aprovação do projeto pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente em novembro de 2023.

Com pedra fundamental lançada com a presença do governador Elmano de Freitas (PT), a usina assinou ainda com o consórcio formado pela Consag e Mitsubishi Power para a construção da termelétrica.

Com capacidade de 1.572 megawatts (MW), a térmica foi a maior vencedora do 1º Leilão de Reserva de Capacidade de Potência, realizado em dezembro de 2021 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), para contratação de reserva de potência para o Sistema Interligado Nacional (SIN).

Recursos vão para e Santa Catarina e Pará

A New Fortress Energy quer dividir os megawatts contratados no leilão entre dois empreendimentos que já possui no Brasil, segundo informou ao mercado na semana passada. “Ao utilizar a sua base de ativos existente, a NFE espera reduzir custos e gerar rendimento e ganhos incrementais nos seus terminais”, diz o comunicado.

No Pará, a NFE possui um complexo de energia em Barcarena, o qual quer expandir em 1,2 GW com os recursos da Portocem – mantendo “o desenvolvimento original de 630 MW”. Em Santa Catarina, a empresa tem o Terminal Gás Sul, que deve receber 0,4 GW do projeto da Portocem e “continuar a aliviar os problemas de fornecimento de gás natural para mais de 3 GW de clientes industriais e de geração de energia existentes que atualmente enfrentam limitações no fornecimento na região.”

“Com a aquisição da Portocem hoje, adicionamos um ativo contratado de longa duração que é altamente complementar à nossa presença no Brasil. Isto se alinha com nossa estratégia de integração vertical e otimização de nossos ativos em um esforço para gerar valor para os acionistas no longo prazo”, afirmou André Dete, diretor geral da NFE.

O POVO entrou em contato com a Portocem sobre o desinvestimento, mas a empresa não se pronunciou até a publicação desta matéria. A ZPE do Ceará também não retornou ao contato.

Fonte: O POVO