Indústria de cerâmica opera com 60% da produtividade em Minas Gerais
Para o segundo semestre havia uma expectativa de melhora, mas o ritmo apresentado em agosto fez o sindicato apostar na estabilidade
O setor da indústria da cerâmica estima crescer 6% neste ano na comparação com 2023. O ritmo, entretanto, poderia ser maior, caso a construção civil também tivesse registrado desempenho melhor neste ano.
O motivo do crescimento abaixo do esperado, de acordo com o presidente Sindicato das Indústrias de Cerâmica para Construção e Olaria no Estado de Minas Gerais (Sindicer-MG), Ralph Perrupato, é um ritmo mais lento da construção civil.
“O crescimento está aquém do potencial. Na época da pandemia, as fábricas estavam produzindo com 100% da capacidade. Hoje, estão na faixa de 60% a 70%”, diz. Ele explica que a indústria da cerâmica teve um faturamento maior em relação ao ano passado, mas ressalta que 2023 foi um ano considerado fraco para o setor.
Para o segundo semestre, havia uma expectativa de melhora, já que historicamente é um período melhor. Porém, o ritmo apresentado em agosto fez o sindicato rever a previsão e apostar na estabilidade, mantendo os 6% de aumento do primeiro semestre e no crescimento anual.
“Estávamos acreditando mais nos investimentos do ‘Minha Casa, Minha Vida’. Deu uma melhorada este ano, mas não foi o suficiente para ocupar plenamente as fábricas que estão ociosas”.
O motivo da desaceleração é atribuído à falta da mão de obra, que acaba impactando os resultados da construção civil e, consequentemente, do setor das cerâmicas, já que caminham lado a lado. “É um setor que depende muito da mão de obra braçal, que está em falta. Estão preferindo as bolsas sociais a ganhar mais neste tipo de trabalho”, ponderou.
Para superar este momento, Perrupato acredita que o setor de construção civil precisaria investir mais em automação e melhorar a produtividade. Porém, pondera que com a taxa de juros mais alta, os bancos acabam inibindo financiamentos, o que impede os empresários de tomar mais recursos.
A taxa básica de juros é, inclusive, outro problema apontado pelo presidente do Sindicer. A indicação de elevação, após a sequência de queda, impacta negativamente também os setores. “Achávamos que ia cair mais, mas a tendência é de alta novamente. Então, essa instabilidade atrapalha”, comenta.
Alternativas à cerâmica prejudicam ambiente e qualidade de vida
Apesar de se tornar uma alternativa à falta de mão de obra, a construção industrializada impacta negativamente o setor da indústria da cerâmica e o meio ambiente na visão de Ralph Perrupato.
O uso de pré-fabricados, como as paredes de concreto, elimina a necessidade da mão de obra que precisaria assentar tijolo a tijolo, mas interfere na produção de cerâmicas. De acordo com Perrupato, os materiais alternativos, como as variações do plástico, o isopor ou até o gesso acartonado, são soluções desfavoráveis ao meio ambiente e prejudicam a qualidade de vida das pessoas.
“Ecologicamente, a cerâmica é a melhor alternativa. Mas por diversas questões como a carência de mão de obra e a necessidade da redução de custos, as construtoras acabam optando por soluções diferentes”, diz.
Ele exemplifica que um prédio construído com tijolo e telhado de cerâmica possui um isolamento térmico e acústico melhor que os produtos alternativos. Fatores que interferem diretamente na qualidade de vida.
“Você substitui uma parede de 15 cm por uma de 8 cm. Já aconteceu nos estados do Rio de Janeiro e no Norte do País, prédios que, de tão quentes, não conseguem moradores. É um ‘forninho’. Então, a qualidade de vida dentro da habitação cai muito”, opina.