Na contramão do desemprego em baixa, construção civil relata escassez de mão de obra
25,4% dos empresários relataram escassez ou alto custo para contratar trabalhadores, conforme pesquisa da CNI e da CBIC
O Brasil atingiu o menor nível de desemprego da história no terceiro trimestre, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). A taxa chegou a 6,2%, segundo o órgão. Mas o setor da construção civil não tem observado esta realidade e 25,4% dos empresários relataram escassez ou alto custo para contratar mão de obra qualificada.
O percentual foi apurado em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O estudo citou que o problema não se limita aos profissionais com formação especializada. O levantamento identificou que a falta ou o alto custo de trabalhadores não qualificados foram dificuldades relatadas por 22% dos empresários no país que responderam ao questionamento.
Em Minas Gerais, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), o cenário reflete a realidade nacional, e o impacto da escassez é sentido em todos os níveis, desde serventes e pedreiros até engenheiros especializados. Felipe Boaventura, vice-presidente de Relações Trabalhistas do Sinduscon, diz que o desafio vai além da simples disponibilidade de profissionais.
Boaventura afirmou que a escassez está ligada a questões mais amplas, ligadas às escolhas e preferências dos trabalhadores e à cultura organizacional das empresas. No setor, segundo ele, há uma baixa participação feminina. Apesar de representarem 40% da força de trabalho em idade ativa, as mulheres ocupam apenas 10% das vagas na construção civil.
“Iniciativas de inclusão, como maior abertura para mulheres e outros grupos que nem sempre são considerados pelas áreas de recrutamento, podem atrair novos talentos e diversificar a força de trabalho. Nós devemos ampliar o foco para buscar soluções para a falta de trabalhadores”,observou.
A falta de qualificação é outro ponto crítico. Segundo Boaventura, os desafios enfrentados na contratação de mão de obra especializada tornam urgente a implementação de ações para capacitar e valorizar os trabalhadores. “O problema é estrutural e não se restringe a categorias específicas. Mas, naturalmente, a contratação de profissionais diretamente relacionados à construção, como serventes, pedreiros e engenheiros, têm se mostrado particularmente desafiadora”, apontou o vice-presidente do Sinduscon-MG.
Preços dos imóveis
De acordo com Felipe Boaventura, o cenário tem aumentado os custos do setor e impactado diretamente no preço dos imóveis, o que pode retrair o mercado imobiliário e o mercado de trabalho. Ele avaliou que há riscos, inclusive, de aumento da taxa de desemprego e migração de profissionais para outros segmentos econômicos.
O vice-presidente do Sinduscon ainda citou que iniciativas que promovam a capacitação profissional podem auxiliar a enfrentar o problema, podendo gerar ganhos mútuos para empresas e trabalhadores, revertendo a escassez, aumentando a produtividade e o valor gerado para ambos.
O Sinduscon, inclusive, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o Sesi, o Senai e sindicatos de trabalhadores, está desenvolvendo uma série de iniciativas para atender às necessidades do setor. “As empresas que enxergarem a capacitação e a valorização dos trabalhadores como investimentos estratégicos terão um diferencial competitivo importante no mercado”, ressaltou Boaventura.