A alta dos juros vai na contramão do avanço da economia brasileira. No mercado imobiliário, o possível comprador prefere manter recursos investidos em vez de adquirir imóveis neste momento. “A alta de juros compromete o mercado imobiliário em todas as faixas, incluindo os de alta renda, já que a venda fica mais lenta. O comprador passa a não ver vantagem em retirar o seu capital para adquirir o imóvel, em vez de deixar o dinheiro rendendo em CDI , o que acaba sendo mais atraente em um primeiro momento”, analisa Henrique Blecher, CEO da Origem Incorporadora.
Para 2025, a expectativa é de arrefecimento do mercado imobiliário, o que vai impactar no PIB nacional, segundo Henrique Blecher. “O mercado imobiliário representa 10% do PIB do nacional, porém, em outros países com economia semelhante à nossa, esse índice é duas vezes maior, o que demonstra claramente que o juro alto contínuo, que é o nosso juro aqui no Brasil, limita muito o crescimento do nosso mercado, que é um motor importante do PIB.”, analisa.
O quadro no setor imobiliário piorou devido ao quase completo esgotamento dos recursos destinados ao financiamento de imóveis neste ano, obrigando a Caixa – principal financiador do mercado – a orientar as empresas de construção a buscarem uma nova modalidade de crédito, que apresenta taxas superiores às dos empréstimos atrelados à caderneta de poupança.
Para Blecher, a alta de juros vai congelar os lançamentos no mercado imobiliário em 2025. “Se a incorporação repassar os custos da construção para o cliente final, vai acontecer uma estagnação nesses lançamentos, diminuindo assim o investimento no mercado imobiliário, o que vai impactar negativamente em toda a cadeia produtiva do setor”, analisa.
Em outubro de 2024, os saques na poupança superaram os depósitos em R$ 6,2 bilhões, segundo o Banco Central. Nos primeiros dez meses do ano, as retiradas somaram R$ 17,5 bilhões a mais que as aplicações. Em novembro de 2024, até o dia 22, a perda alcançava R$ 12,8 bilhões. Com rendimento inferior ao de CDBs e fundos de investimento, a poupança perde apelo junto ao investidor.
Leonardo Schneider, executivo da APSA e vice-presidente do Secovi Rio, analisa que o mercado também não vem respondendo bem aos ajustes fiscais propostos pelo governo, o que colabora na piora da projeção para 2025.
“O mercado percebe uma projeção de taxa de juros crescente para o ano que vem, e uma inflação que assusta um pouco, aliada a um déficit alto do governo, e a um pacote econômico que não foi bem aceito pelo mercado como um todo, por ser insuficiente para conter a alta de juros”, diz o executivo.