Arquitetura e vidro: conhecimento técnico ainda é baixo em universidades brasileiras
Arquitetos não estão familiarizados com o material; e vidraceiros devem buscar qualificação para se destacar da concorrência.
O vidro é um dos únicos materiais presentes em todos os projetos arquitetônicos, porém ele ainda desperta muitas dúvidas em quem tem contato com ele, como os arquitetos. Durante a formação desse profissional, o ensino sobre o uso técnico do material é praticamente inexistente e isso impacta diretamente em seu trabalho, tanto nos benefícios que tem a oferecer quanto na segurança de futuros clientes. Pensando nisso, algumas instituições, organizações e até empresas do setor vidreiro estão auxiliando no encontro entre o arquiteto e o vidro.
Um exemplo disso é a Divinal Vidros, empresa especificadora de vidros, que ao longo de sua atuação no mercado sempre investiu em ações voltadas em conhecimento técnico para alunos, professores e profissionais. A empresa já realizou treinamentos e workshops sobre instalação de box, envidraçamento de sacada, o vidro certo para cada projeto, entre outros, todos realizados em seu centro de treinamento, dentro da fábrica.
Após o sucesso das ações, foi natural que a empresa recebesse muitas solicitações de ajuda e, por isso, decidiu investir em mais uma iniciativa significativa para o setor: o Divinal Educa. O projeto é voltado a estudantes dos cursos de Design de Interiores e de Arquitetura e Urbanismo, que irão desenvolver três projetos utilizando o vidro em três ambientes distintos: banheiro, sala de jantar e varanda. Os projetos passarão por uma comissão julgadora que escolherá um projeto em cada ambiente. Os vencedores poderão montar seus projetos no estande da Divinal durante a Glass South América, que acontece entre os dias 09 e 12 de maio de 2018.
“Pensamos no que poderíamos trazer de novo para o setor e daí surgiu a ideia do projeto. Visitamos algumas faculdades e uma delas nos procurou, o que foi muito bacana. Pretendemos continuar a realizar ações que envolvam o vidro, seja com cursos, concursos ou prestando alguma consultoria. Desejamos unir toda a cadeia do vidro”, comenta Marlene Moura, responsável pelo marketing da Divinal. Nesta primeira edição, participam a Universidade Anhembi Morumbi e a Universidade Cidade de São Paulo (Unicid).
A banca julgadora será composta por um arquiteto, um designer de interiores e o jornalista da revista Projeto, Fernando Mungioli, que está animado com a iniciativa e a classifica como a junção do uso criativo e eficiente do vidro na arquitetura. O publisher já esteve presente em outros projetos de fomentação do conhecimento. “Nos últimos quatro anos desenvolvemos junto ao nosso tradicional concurso universitário, o Opera Prima, um trabalho conjunto com a Cebrace no intuito de esclarecer essas dúvidas perante esse público. Foram mais de 100 palestras realizadas ao longo do período, em diversas universidades em todo país, o que mostra justamente a carência de informações nesse segmento”, explica.
Mungioli acredita que nas últimas duas décadas o uso do vidro em projetos de arquitetura passou por um grande aumento, devido ao advento dos sistemas de fachadas que permitiram as torres com peles de vidro, fachadas stick, unitizadas, etc. Para ele, as maiores dúvidas são o uso técnico, ou seja, a capacidade de reflexão, absorção/controle de calor, o uso como elemento estrutural, fixação e a capacidade do uso criativo.
O vidraceiro e o arquiteto
Para entender melhor como se trabalhar com o vidro, a relação com o vidraceiro é de grande importância para o arquiteto, mas na maioria das vezes essa troca não acontece. “Infelizmente ainda é uma relação distante, que se dá apenas no momento da contratação. O ideal seria que o arquiteto tivesse contato inicialmente com os fabricantes, para entender as características de cada produto, e participasse junto ao vidraceiro na especificação e beneficiamento desse vidro, ou seja, durante o processo do projeto”, opina o jornalista.
Os vidraceiros também precisam buscar atualização e maior qualificação para, assim, melhor desenvolvimento do projeto e relacionamento com os outros profissionais envolvidos. Por conta disso, a Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos (Abravidro) iniciou em agosto de 2016 as reuniões do Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37). Por meio da autorização da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a Comissão vem estudando um modelo de qualificação do profissional vidraceiro. Segundo a Abravidro, o setor vidreiro tem procurado referências técnicas sobre o perfil do vidraceiro padrão e isso incentivou a criação do grupo que deseja criar uma norma em que esteja estabelecida as competências do profissional.
“Alguns vidraceiros já possuem os conhecimentos que serão citados no texto da norma e outros terão que os adquirir por meio de cursos. As escolas profissionalizantes poderão utilizar os requisitos da futura norma como base no desenvolvimento da grade curricular de seus cursos para vidraceiros. Após sua publicação, ela deverá contribuir com a melhoria da qualidade dos serviços prestados, pois orientará sobre as práticas corretas da profissão e os conscientizarão quanto à importância de se aplicar as determinações das normas relacionadas aos vidros planos”, esclarece Silvio Ricardo Bueno de Carvalho, gerente-técnico da Abravidro.
A associação explica também que após a publicação da norma o próximo passo é a certificação, que permitiria aos vidraceiros que trabalham corretamente se diferenciarem dos demais. Ainda não existe um prazo para a finalização dessa norma, mas após a conclusão dos trabalhos, o texto segue para consulta nacional, que tem a duração de 60 dias, em seguida, será realizada uma reunião de análise da consulta. Caso o texto seja aprovado, ele segue para publicação. Assim que for publicada, a norma entra em vigor.
“No futuro, aqueles que trabalharem corretamente terão respaldo técnico para as suas atividades. Desta forma, todos ganham: vidraceiros, consumidores e, consequentemente, todo o setor”, conclui o gerente-técnico da Abravidro.
Fonte: Obra 24horas.