Fortaleza – CE | quarta-feira 5 de fevereiro de 2025 / 06:58

Ultra aproveitamento de espaço: a tendência crescente dos imóveis compactos

“No Japão existem apartamentos compactos desde a década de 1990, e isso ocorre devido à escassez de terrenos e a grande densidade populacional que faz com que os custos de imóveis sejam altos. Atualmente, há micro apartamentos com pouco mais

“No Japão existem apartamentos compactos desde a década de 1990, e isso ocorre devido à escassez de terrenos e a grande densidade populacional que faz com que os custos de imóveis sejam altos. Atualmente, há micro apartamentos com pouco mais de 4 m² (considerando a área de piso), e são conhecidos como ‘Ququri’ (do grego, que significa casulo)”, diz Henrique De Geroni, sócio-diretor da Bioma Incorporadora.

Na China, complementa, existem apartamentos-cápsula que têm tamanho reduzido, com cerca de 3 m². Geralmente, contêm apenas uma cama e um espaço mínimo para movimentação e esses modelos foram criados como solução para o alto custo da moradia nas cidades do país.

No Brasil, desde 2004 vem ocorrendo uma compactação dos espaços. “De lá para cá, São Paulo lançou mais de 367 mil imóveis com até 45 m²”, afirma Henrique. “Além disso, houve uma redução nas áreas dos apartamentos. Em 2021, a metragem média de imóveis de um dormitório caiu 40%, e de 46 m² passaram a ter 27 m². Apartamentos de dois dormitórios perderam 13 m², ficando de 57 m² com 42 m². Já os de três ou quatro quartos, que costumavam ter entre 180 m² e 200 m², passaram a ter 80 m² e 120 m², respectivamente”.

“Essa compactação gerou desde mudanças na configuração das plantas – hoje, bastante comuns as do tipo open space, com cozinhas americanas e salas integradas – como a valorização das áreas comuns dos condomínios”, diz Guilherme Werner, sócio-consultor da Brain Inteligência Estratégica, empresa de consultoria em negócios, com atuação nacional no Mercado Imobiliário.

Isso tudo foi acarretando uma cadeia de transformações nos hábitos e no consumo dos brasileiros. “Por exemplo, atualmente, é comum as pessoas usarem os self storage ou chamados autoarmazenamentos, um serviço de aluguel de espaços privados para guardar objetos pessoais ou comerciais”, diz Guilherme.

“Outra mudança no decorrer dos anos se deu com o mobiliário, cada vez mais compacto e exercendo mais de uma função”. Até mesmo os eletroportáteis, completa, vem sofrendo alterações e se adaptando a essa realidade de espaços cada vez menores.

De forma mais geral, Lúcio Vicente, diretor geral do Instituto Akatu, diz que o conceito de ultra aproveitamento do espaço tem por trás a ideia do uso eficiente dos recursos, independentemente de quais forem. Isso reforça a reflexão sobre buscar o uso da melhor forma possível daquilo que se tem disponível, evitando desperdício.

O que fazer para tornar a área disponível eficiente

Criar ambientes que podem cumprir mais de uma função; aproveitar espaços pouco usados, como a verticalidade das paredes, e criar espaços modulares são algumas opções para ultra aproveitar as menores metragens. “Ao invés de ter, por exemplo, um escritório para home office e uma sala de estar, é possível ter um ambiente capaz de cumprir as duas funções, necessitando de menos espaço, ou seja, menos recursos”, diz Lúcio.

“Ter conforto com o mobiliário adequado ao espaço também é um grande desafio na hora de projetar ambientes pequenos”, diz o arquiteto Décio Navarro. “Quando a área é restrita, é imprescindível que os móveis tenham diversas funções. Em um estúdio, por exemplo, a cama pode ser também o sofá ou o balcão da cozinha substituir a mesa de refeições”.

Outra maneira de aproveitar o espaço disponível é optar por uma marcenaria bem planejada. “Substituir paredes por divisórias de madeira é uma forma de ganhar espaço”, complementa Décio. “Fazer alterações na planta, eliminando corredores desnecessários, também é uma solução”.

Os eletrodomésticos acompanham essa tendência?

Os eletroportáteis, de modo geral, vem diminuindo ao longo dos anos. Já há algum tempo, as TVs tubo foram substituídas por modelos slim; as CPUs deram lugar aos notebooks e aos tablets; e os próprios celulares estão cada vez menores.

“Dentro de casa, no lugar de uma geladeira e de um freezer, as pessoas passaram a ter um side by side e o fogão, antes grande, deu lugar a cooktops”, pontua Guilherme. “Há apartamentos que não dispõem de espaço para um refrigerador alto. Como opção, temos modelos de frigobar com um pequeno freezer. Existe ainda no mercado cooktops com duas ou três bocas e fornos elétricos que também cumprem a função de micro-ondas”, exemplifica Décio. Em todos os casos, o mercado de eletrodomésticos se adaptou aos espaços atuais, cada vez menores.

A ideia está relacionada com a busca por maior eficiência no uso dos recursos naturais?

De certa forma, maior eficiência no uso dos recursos naturais significa menor gasto ou desperdício financeiro. Inevitavelmente, a questão econômica entra como um fator da equação, de modo com que haja também redução nos impactos ambientais ao usar os recursos de forma mais adequada.

“Há também outro fator: o de disponibilidade de espaço, de fato. Em centros urbanos há cada vez menos espaço disponível para novos empreendimentos, o que torna necessário rever o uso de área atual e como ela pode ser melhorada. Uma vez que muitos espaços foram utilizados por construções que aconteceram em contextos de maior disponibilidade de metragem, é esperado que adaptações ocorram para que os novos empreendimentos se instalem e aproveitem ao máximo aquele local, em maioria, escasso”, diz Lúcio.

Assim como na sustentabilidade, por mais que algumas iniciativas tenham um viés de impacto, fato é que a maioria ainda é movida pela questão financeira, trazendo os aspectos ambientais e sociais como secundários, ou consequência, nas palavras de Vicente.

Como o ultra aproveitamento do espaço pode contribuir para um modelo de consumo mais consciente no Brasil?

“Para além do espaço, esse conceito pode ser aplicado para diferentes áreas do cotidiano, seja no consumo de água, energia, alimentos, moda, compras gerais, seja nos deslocamentos, entre outros”, explica Lúcio.

Em outras palavras, complementa, o uso é apenas uma etapa do consumo, e o mesmo pode ser feito de maneira eficiente em todas as outras etapas: comprando o que é necessário, tendo consciência do que de fato irá satisfazer as necessidades; usando da melhor maneira possível, buscando estender a vida útil daquele produto, aproveitando ele ao máximo; e descartando somente aquilo que não pode ser aproveitado e fazendo-o da maneira correta, sempre que possível, possibilitando que aqueles recursos descartados possam ser reaproveitados no futuro.

É importante a mudança de hábito

“A mudança de hábito é fundamental para rever a maneira como usamos pequenos espaços. Temos que começar pelo desapego. Não dá para querer colocar em um espaço pequeno o que estava em um ambiente maior. É preciso acolher o minimalismo”, acredita Décio.

O que falta para as pessoas acreditarem nos benefícios a longo prazo do ultra aproveitamento do espaço?

“Quanto maior e mais confiável for o conjunto de informações disponíveis para respaldar os benefícios do ultra aproveitamento do espaço no longo prazo, tanto financeiramente, quanto para a sociedade e para o meio ambiente, maior é a probabilidade de que esse conceito seja implementado, assim como se sustente ao longo do tempo”, acredita Lúcio.

Aliado a isso, há a necessidade de conscientização e educação da população acerca do uso consciente de recursos, em diferentes aspectos da vida. Um grande desafio neste contexto é a mudança de mentalidade pensando no longo prazo.

Atualmente, o pensamento mais comum é aquele voltado ao preço e aspecto econômico, sem pensar, de fato, se aquilo compensará no longo prazo, o que torna de suma importância trabalhar a visão da população, e, principalmente, do consumidor, de que um investimento maior no início na maioria dos casos compensa no longo prazo, e retorna com muito mais benefícios.

Fonte: Casa & Jardim

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