O volume de serviços no Brasil registrou uma queda de 0,9% em novembro, segundo dados do IBGE divulgados nesta quarta-feira, 15. Embora o crescimento de 1,1% na série com ajustes sazonais tenha ficado abaixo das expectativas de mercado, o setor ainda demonstrou resiliência ao consolidar uma expansão anual de 2,9%, o oitavo mês consecutivo de crescimento. No entanto, a desaceleração do setor de serviços acende um alerta sobre o ritmo de recuperação da economia.
O desempenho mais fraco não foi generalizado. Apenas duas das cinco atividades monitoradas pelo IBGE apresentaram retração em relação a outubro: o setor de transportes caiu 2,7%, e os serviços profissionais, administrativos e complementares recuaram 2,6%. Por outro lado, segmentos como informação e comunicação (+1%), outros serviços (+1,8%) e os serviços prestados às famílias (+1,7%) tiveram desempenhos positivos. “O recuo reflete um ajuste natural após o setor atingir um recorde histórico em meses anteriores”, diz Igor Cadilhac, economista do PicPay.
Apesar da acomodação natural após meses de recordes, a desaceleração do setor de serviços acompanha um movimento semelhante observado no varejo e na produção industrial, que também registraram quedas em novembro, o que demonstra que os setores começam a sentir os efeitos da política monetária mais contracionista e as incertezas que se avolumam, diminuindo a atratividade e a confiança na economia.
Com a inflação, a valorização do dólar pressionando os custos de importação e a manutenção de taxas de juros elevadas para controlar o consumo, o setor de serviços pode perder ímpeto neste ano, afetando a trajetória de crescimento.
Como o setor de serviços responde por aproximadamente 70% do PIB, seu desempenho positivo foi um dos principais motores da economia em 2024. Contudo, sinais de enfraquecimento em 2025 podem acender alertas sobre uma possível perda de tração econômica. Sem um crescimento sustentável, o governo enfrenta maiores dificuldades para financiar suas políticas públicas, especialmente em um ambiente de juros elevados, que encarece a dívida pública. O enfraquecimento do setor de serviços não apenas impacta diretamente a arrecadação tributária, mas também limita a capacidade de alavancar outras áreas da economia, tornando a manutenção do equilíbrio fiscal ainda mais desafiadora.
Contudo, apesar dos ventos contrários, há sinais de que o setor de serviços ainda pode contribuir para a expansão econômica em 2025. “As condições mais favoráveis para a renda e o consumo das famílias, impulsionadas pelo mercado de trabalho, podem amenizar uma desaceleração mais severa”, diz Rafael Perez, economista da Suno Research. A taxa de desemprego caiu para os menores níveis em uma década, o que sustenta o poder de compra e a demanda por serviços.
No entanto, o otimismo é moderado, com os economistas projetando um crescimento menor do PIB, dado o efeito combinado de uma política monetária mais contracionista e um mercado de trabalho que já atingiu boa parte de seu potencial de avanço. “Para 2025, projetamos uma expansão do PIB de 2%, menor que os 3,5% previstos para 2024”, diz Heliezer Jacob, economista do C6 Bank.
O Banco Central indicou que as taxas de juros podem permanecer elevadas por mais tempo, o que manterá o crédito caro e o consumo mais contido. Ainda assim, o setor de serviços segue sendo um dos principais motores para a expansão da economia neste ano, embora sua contribuição seja mais tímida.