Fortaleza – CE | quarta-feira 18 de junho de 2025 / 09:52

Indústria teme impacto de guerra tarifária e pressiona governo por proteção comercial

Setores de aço, químicos e têxteis iniciam diálogo com autoridades diante do risco de aumento nas importações após medidas dos EUA contra a China

Representantes da indústria brasileira iniciaram conversas com o governo federal em busca de medidas de proteção comercial, diante do temor de que a recente escalada da guerra tarifária entre Estados Unidos e China provoque um redirecionamento de exportações para o Brasil. O receio é de que a imposição de tarifas elevadas pelos norte-americanos leve produtos chineses e de outros países a inundarem o mercado brasileiro.

A preocupação tem sido manifestada por setores como o químico, têxtil e siderúrgico. Os Estados Unidos e a China mantêm a maior corrente de comércio bilateral do mundo, totalizando US$ 582 bilhões. Com a aplicação de tarifas superiores a 100% em alguns casos, especialistas do setor temem que essas mercadorias busquem novos destinos, entre eles o Brasil.

Indústria química pede novas medidas

O setor químico já iniciou tratativas com integrantes do governo federal para solicitar salvaguardas, cotas de importação, medidas compensatórias e outros instrumentos de defesa comercial. Entre 2000 e 2023, a participação de produtos importados no mercado químico brasileiro aumentou de 21% para 47%.

No ano passado, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) elevou temporariamente as tarifas de importação de 30 produtos químicos. No entanto, para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), André Passos Cordeiro, a medida é insuficiente diante do novo cenário internacional.

“Temos realmente esse temor ao observarmos as elevações de tarifas nos EUA. Com isso, a situação vai se agravar. Os produtos chineses vão procurar outros mercados. A Camex atendeu ao pedido da indústria no ano passado, mas essa medida não será suficiente para enfrentar esse novo cenário”, afirmou Cordeiro.

Setor têxtil vê risco de mercado ser inundado

O segmento têxtil também manifesta preocupação com o avanço de produtos chineses no mercado nacional. Apenas em 2024, as importações no setor cresceram quase 15%, totalizando US$ 6,6 bilhões. A apreensão gira em torno de parte dos US$ 28 bilhões exportados da China para os Estados Unidos que, diante das tarifas de até 145%, devem buscar novos mercados.

O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, informou que a entidade já iniciou diálogos com autoridades e defende que o aparato de defesa comercial esteja pronto para ser acionado, ainda que inicialmente com cotas temporárias.

“É enorme o risco que se apresenta neste momento. Nós monitoramos e todas as luzes do painel estão acesas. Já iniciamos conversas com nossas autoridades, que estão sensíveis à situação”, declarou Pimentel.

Siderúrgicas pressionam por cotas contra o aço importado

Já o setor siderúrgico concentra sua preocupação nas tarifas de 25% impostas pelos Estados Unidos às importações de aço. A indústria americana adquiriu cerca de US$ 26 bilhões em produtos siderúrgicos, incluindo do Brasil, e há receio sobre o novo destino dessas cargas diante das barreiras comerciais.

Em abril deste ano, a Camex estabeleceu cotas para importações de aço com o objetivo de resguardar a produção nacional. Ainda assim, o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, afirmou que o cenário exige atenção constante e novas medidas podem ser necessárias.

“A preocupação com a defesa comercial já vem de longa data. Agora, com a questão dos EUA, pode haver um agravamento. Temos reuniões recorrentes com o Mdic [Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços] e o MRE [Ministério das Relações Exteriores], em que analisamos a conjuntura”, disse Lopes.

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