Fortaleza – CE | sexta-feira 16 de maio de 2025 / 05:44

Especialistas analisam efeitos dos juros altos no mercado imobiliário

Apesar de resiliência em 2025, cenário atual remete a 2015 e levanta dúvidas sobre sustentabilidade do setor

Com a taxa Selic em 14,75%, o ano de 2025 acende o sinal de alerta no mercado imobiliário. A situação atual lembra o cenário de 2015, quando os juros chegaram a 14,25% e a construção civil registrou queda de 33% nos financiamentos imobiliários. Naquele período, a economia brasileira entrou em recessão, com aumento do desemprego e forte desaceleração da atividade.

Apesar disso, o mercado tem mostrado resiliência em 2025: a taxa de desocupação entre janeiro e março foi de 7%, a menor em 13 anos. Mas especialistas alertam que o fôlego pode ser curto diante dos juros elevados e das incertezas globais.

Adaptação e planejamento são essenciais

A advogada Gabriela Campostrini, especialista em reestruturação empresarial, aponta que as empresas do setor imobiliário precisam se reinventar. “A alta da Selic impõe um novo jogo ao mercado. Cortar custos, ajustar preços e garantir liquidez são as regras. A disciplina financeira e um planejamento jurídico sólido serão fundamentais para estabilidade e crescimento sustentável”, afirma.

Campostrini destaca a recuperação judicial como uma alternativa legítima para empresas viáveis que enfrentam dificuldades. “A Lei 11.101 oferece um caminho de reestruturação. Não é um atalho para postergar o inevitável, mas uma ferramenta para atravessar a crise e manter a capacidade de retomada. O mercado pune a ineficiência, mas recompensa quem se adapta”, ressalta.

Juros elevados e desalinhamento econômico

O economista Vaner Correa, auditor e perito judicial, oferece uma visão macroeconômica. Ele lembra os princípios da Teoria Geral do Emprego, Juro e Renda, de John Maynard Keynes, segundo os quais a economia real deveria ser mais rentável do que a especulativa. “Hoje ocorre o oposto: com juros altos, o rentismo cresce e a economia produtiva enfraquece. O remédio virou veneno”, avalia.

Segundo Correa, o problema é agravado pela falta de equilíbrio fiscal. “O governo não reduz gastos, o que pressiona os juros e faz com que os bancos prefiram financiar a dívida pública do que a economia real, por conta dos riscos da inadimplência”, critica. Para ele, o desalinhamento entre a política econômica do governo e a atuação do Banco Central prejudica o crescimento sustentável.

Correa conclui que, se persistir esse cenário, o mercado de capitais será cada vez mais o destino dos investimentos privados, em detrimento do crédito produtivo, o que pode limitar ainda mais o desempenho do setor imobiliário nos próximos anos.

Fonte: Redação

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