Fortaleza – CE | terça-feira 17 de junho de 2025 / 19:22

Alta nas vendas de cimento em maio anima setor, mas indústria segue em alerta com cenário instável

Com 5,7 milhões de toneladas vendidas, setor cresce 6,5% no mês, mas alta nos estoques e retração no crédito indicam possíveis desafios no segundo semestre

As vendas de cimento no Brasil cresceram 6,5% em maio de 2025, alcançando 5,7 milhões de toneladas, segundo dados divulgados pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). O resultado representa uma recuperação frente à retração registrada em abril e reflete, em parte, uma base comparativa fraca no mesmo período de 2024, quando desastres climáticos impactaram a região Sul do país.

No acumulado de janeiro a maio, as vendas cresceram 4,6%. Considerando apenas os dias úteis, o volume diário comercializado foi de 244,1 mil toneladas, um avanço de 3,1% ante abril e de 4,2% na comparação com maio do ano anterior. No acumulado anual por dia útil, o crescimento chega a 6%.

Apesar dos bons números no primeiro semestre, o SNIC alerta para uma desaceleração nos próximos meses. A entidade aponta que os dados positivos foram impulsionados principalmente por uma base deprimida no início de 2024, especialmente em maio, quando o mercado ainda sentia os efeitos dos eventos climáticos extremos no Sul do país.

A retomada das vendas tem sido sustentada por fatores como o mercado de trabalho aquecido, com taxa de desemprego em 6,6% até abril, a mais baixa para o período desde 2012. Além disso, há recorde de profissionais com carteira assinada e redução da informalidade, o que fortalece o consumo.

Outro pilar do desempenho tem sido o programa Minha Casa, Minha Vida, responsável por 53% dos lançamentos residenciais no primeiro trimestre. O setor imobiliário segue ativo, e a confiança do consumidor aumentou em maio, com melhora nas percepções atuais e nas expectativas futuras. Já o índice de confiança da indústria atingiu seu melhor patamar no ano, de acordo com a FGV.

Contudo, o aumento dos estoques pelo segundo mês consecutivo acende um sinal de alerta entre os empresários do setor. O SNIC observa que a política monetária contracionista, somada à expectativa de desaceleração econômica, pode representar um desafio para o setor de cimento no segundo semestre.

Na construção civil, a confiança voltou a cair, atingindo o nível mais baixo desde junho de 2021, refletindo dificuldades no ambiente de negócios. Segundo o sindicato, os financiamentos imobiliários estão cada vez mais escassos, especialmente para incorporadoras de médio padrão, que enfrentam dificuldades para manter seus compromissos financeiros.

Nos quatro primeiros meses de 2025, os recursos da poupança aplicados no setor caíram 48,6%, comparado ao mesmo período de 2024. Esse recuo acentua as preocupações do setor produtivo frente à combinação de inflação elevada, juros no maior patamar em 20 anos, sinais de desaceleração da economia e cortes no orçamento federal.

Para o presidente do SNIC, Paulo Camillo Penna, mesmo com fatores estruturais positivos como concessões rodoviárias, necessidade de obras de infraestrutura e demanda por moradia, o cenário permanece desafiador. Ele destaca que o financiamento imobiliário caiu 70,4% em número de unidades até abril, efeito direto da alta da taxa Selic.

Penna também alerta que os ativos financeiros estão atraindo mais investidores do que o mercado imobiliário, o que afeta diretamente o consumo de cimento. “O desvio de investimentos para aplicações financeiras é extremamente preocupante para o setor da construção civil e pode impactar negativamente as vendas no segundo semestre”, conclui.

Fonte: Redação

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