Fortaleza – CE | terça-feira 17 de junho de 2025 / 19:22

Indústria do Ceará desacelera em abril: confecção e máquinas puxam retração

Setores tradicionais sofrem impacto de informalidade, juros altos e sazonalidade; estado vai na contramão da expansão nordestina

A indústria cearense teve o pior desempenho do país em abril, com uma queda de 3,9% na produção, segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE divulgada nesta quarta-feira (11). O resultado eliminou o crescimento de 2,8% registrado em março, refletindo uma tendência de desaceleração no setor. Dos 15 estados avaliados, o Ceará teve a maior retração.

Na comparação com abril de 2024, o desempenho foi ainda mais negativo, com queda de 5,3%. Já no acumulado de 2025, de janeiro a abril, a indústria local recua 1,8%. Apesar disso, a variação dos últimos 12 meses ainda é positiva, com alta de 3,8%.

Máquinas e vestuário entre os setores mais afetados

Os segmentos mais impactados são fabricação de máquinas (-39,4%), derivados de petróleo e biocombustíveis (-21,4%) e confecção de vestuário (-17%). A queda acentuada desses setores tradicionais contribuiu fortemente para o resultado negativo do estado.

Por outro lado, produtos químicos e metalurgia apresentaram desempenho positivo, com crescimento de mais de 50% e 27%, respectivamente. De acordo com Luis Eduardo Barros, diretor de fomento da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), o destaque do setor químico é resultado de políticas de incentivo, como o polo de Guaiuba, que atraiu novas empresas.

Informalidade e sazonalidade agravam cenário

Barros também atribui a retração no setor de confecção à alta informalidade, que escapa das estatísticas oficiais. “A produção informal cresce, mas não aparece nos dados do IBGE”, afirma.

O economista Alex Araújo acrescenta que o resultado negativo é influenciado por fatores sazonais, afetando setores como calçados, bebidas e materiais elétricos, voltados ao consumo local. Ainda assim, ele acredita que a indústria cearense mantém competitividade e pode se recuperar nos próximos trimestres.

Juros altos e comparação desfavorável pesam no resultado

Segundo Guilherme Muchale, economista-chefe da FIEC, a retração de abril também reflete uma base de comparação elevada, já que o mesmo mês em 2024 teve expansão de 12,2%. Além disso, ele cita a alta taxa de juros real e as incertezas externas como fatores que freiam o ritmo da produção.

Muchale lembra que outros setores industriais, como construção e distribuição de água e saneamento, que não são medidos pela PIM, seguem gerando empregos e sustentando parte da economia local.

Recuperação pode vir no segundo semestre

Apesar do sinal de alerta, Luis Eduardo Barros mantém otimismo para o segundo semestre de 2025, com a expectativa de reaquecimento da indústria. “Se a retração se repetir nos próximos meses, poderemos estar diante de uma tendência mais séria. Mas, por ora, é uma oscilação natural dentro de um cenário estável”, analisa.

Nordeste lidera expansão; Ceará segue na contramão

Enquanto o Ceará lidera as quedas, Pernambuco registrou a maior alta do país, com crescimento de 31% na produção industrial em abril, puxando o Nordeste a uma expansão regional de 7,2%. Goiás (4,6%) e Bahia (0,5%) também tiveram resultados positivos.

Já outros estados com desempenho negativo ao lado do Ceará incluem Espírito Santo (-3,5%), Rio de Janeiro (-1,9%), Mato Grosso (-1,4%) e Amazonas (-1,3%).

Apesar das oscilações estaduais, o setor industrial nacional teve variação positiva de 0,1% em abril e acumula alta de 2,4% nos últimos 12 meses, segundo o IBGE.

Fonte: Redação

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