O setor da construção civil brasileira voltou a apresentar sinais de retração em junho de 2025. O índice que mede a evolução da atividade ficou abaixo da linha de 50 pontos, que separa crescimento de queda, atingindo 46,7 pontos — nível inferior ao registrado em abril (47,3) e mantendo-se em território de contração desde agosto de 2024. A última vez que o setor registrou expansão foi em julho do mesmo ano, com 50,1 pontos.
O diagnóstico consta na Sondagem Indústria da Construção, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Segundo Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, a principal causa da desaceleração é o crédito caro, provocado pelos juros elevados.
“Com o crédito mais caro, a demanda cai, influenciando diretamente a atividade do setor”, explica Azevedo.
Emprego e confiança em queda
O índice de evolução do número de empregados também segue abaixo de 50, fechando junho em 48,5 pontos — leve alta em relação a abril (48,1), mas ainda inferior aos 49 pontos de maio de 2024 e aos 50,7 pontos de 2023. Ou seja, as contratações seguem retraídas.
A Utilização da Capacidade Operacional (UCO) manteve-se estável pelo sétimo mês consecutivo em 67%, abaixo dos 69% observados no mesmo período de 2024 e no mesmo patamar de 2023. O indicador reflete baixa utilização dos recursos instalados, dificultando ganhos de produtividade.
Já o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) da construção caiu para 47,5 pontos em junho, queda de um ponto em relação ao mês anterior. É o sexto mês seguido de pessimismo entre os empresários do setor, alimentado por avaliações negativas sobre a situação presente e as perspectivas futuras.
“A percepção dos industriais sobre a economia piorou, mesmo com leve melhora na visão sobre as próprias empresas”, aponta o levantamento.
O Índice de Condições Atuais caiu para 43,6 pontos, baixa de 0,4 ponto em relação a maio. Já o Índice de Expectativas, que mede a projeção para os próximos seis meses, recuou 1,2 ponto, atingindo 49,5 pontos — retornando à zona de pessimismo.
Projeções para os próximos meses são moderadas
A sondagem ainda revela recursos limitados para crescimento nos próximos meses. Os principais indicadores de expectativas apresentaram retração, sinalizando cautela no setor:
Expectativa de novos empreendimentos e serviços: caiu 1,5 ponto, para 51,3;
Compras de insumos e matérias-primas: queda de 1,5 ponto, para 51,1;
Número de empregados: recuo de 1,8 ponto, para 51;
Nível de atividade: caiu 0,7 ponto, para 53,1 pontos.
Mesmo acima da linha de 50, esses índices vêm em trajetória descendente, o que indica que o setor espera crescimento fraco e gradual no segundo semestre de 2025.
Investimentos continuam abaixo do ideal
Outro ponto de preocupação é o Índice de Intenção de Investimento, que caiu 0,7 ponto, fechando em 42,8 pontos. Embora ainda esteja 4,8 pontos acima da média histórica (38 pontos), o resultado mostra resistência das empresas em ampliar seus investimentos diante da conjuntura atual.
O levantamento da CNI entrevistou 297 empresas entre os dias 2 e 11 de junho de 2025, sendo 108 de pequeno porte, 128 de médio porte e 61 de grande porte.
Perspectiva
Com juros ainda elevados, baixo nível de confiança empresarial e pouco espaço para expansão, a construção civil deve atravessar o restante de 2025 em ritmo moderado, dependendo de mudanças na política monetária e estímulos ao crédito para retomar o fôlego. As expectativas mais realistas e os sinais de contenção nos investimentos reforçam a necessidade de atenção do setor às próximas decisões econômicas do governo.