O setor imobiliário brasileiro encerrou 2024 em forte expansão, com crescimento expressivo nas vendas, lançamentos e lucros das incorporadoras. O cenário, no entanto, se torna mais desafiador em 2025, segundo o relatório “Incorporadoras Q4 2024”, elaborado pela Grant Thornton.
De acordo com o estudo, o mercado registrou um aumento de 18,6% nos lançamentos entre 2023 e 2024, evidenciando confiança das incorporadoras na retomada pós-pandemia. As vendas cresceram 20,9%, mesmo com a Selic elevada, o que confirma a resiliência da demanda no setor.
Lucros e receita em alta no setor
O lucro líquido combinado das incorporadoras saltou 104% no quarto trimestre, totalizando R$ 1,7 bilhão frente aos R$ 841 milhões registrados no mesmo período de 2023. No acumulado de 2024, o setor atingiu lucro de R$ 5,3 bilhões, representando alta de 88% em relação ao ano anterior.
Outros destaques financeiros:
Margem líquida: aumentou de 27,4% (mar/23) para 31,3% (dez/24);
Receita combinada: R$ 46,1 bilhões, crescimento de 23,7% sobre 2023;
Custos: crescimento de 19,9%;
Despesas administrativas: aumento de 10,1%, acima da inflação (4,83%);
Despesas comerciais: alta de 13,5%, reflexo da competitividade do setor.
Desafios à vista para 2025
Apesar do desempenho positivo, o estudo alerta para um cenário desafiador em 2025. A Selic permanece em 14,75% ao ano, encarecendo o financiamento imobiliário e afetando diretamente o poder de compra dos consumidores.
Outro fator de atenção é o avanço dos custos da construção, com o INCC-DI atingindo 7,54% nos 12 meses até março, o que pode pressionar especialmente as incorporadoras dos segmentos médio e alto padrão, onde o repasse do crédito acontece somente após a entrega do imóvel.
Além disso, o ambiente econômico atual levanta preocupações com o aumento dos distratos e dos custos com IPTU e condomínio de imóveis devolvidos, o que pode impactar a saúde financeira das empresas.
Segmentos reagem de formas distintas
Segundo Maria Regina Abdo, sócia de auditoria da Grant Thornton, o segmento de baixa renda (classes C e D) segue aquecido, sustentado por incentivos governamentais e pelo programa Minha Casa, Minha Vida, mesmo com os desafios no acesso ao crédito.
Já o mercado de média e alta renda tende a desacelerar. “A elevação da taxa de juros e os custos crescentes da construção podem reduzir as vendas e aumentar o estoque de imóveis”, afirma Maria Regina.
Luxo mantém fôlego
Apesar dos desafios, o segmento de luxo e superluxo continua apresentando desempenho sólido, de acordo com Thiago Bragatto, sócio de auditoria e coordenador do estudo. Ele destaca o papel da Lei do Distrato como mecanismo de proteção jurídica para as incorporadoras, ajudando a mitigar riscos em um ambiente de maior volatilidade.
“O mercado imobiliário segue em crescimento, mas 2025 exigirá cautela e planejamento. Será fundamental equilibrar os investimentos com a nova realidade de juros e custos”, conclui Bragatto.