Fortaleza – CE | sábado 2 de agosto de 2025 / 21:29

Consórcios de imóveis desafia financiamentos e transforma o mercado imobiliário

Adesões disparam 40,8% no primeiro semestre de 2025 e já representam quase 1 em cada 4 imóveis adquiridos; comportamento do consumidor e juros altos impulsionam tendência

Em meio a um cenário de juros elevados e mudanças no perfil do consumidor, o mercado imobiliário brasileiro está passando por uma transformação silenciosa, porém significativa: o consórcio de imóveis está substituindo o financiamento tradicional como principal meio de aquisição da casa própria para milhares de brasileiros.

Segundo dados da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcio (Abac), o primeiro semestre de 2025 registrou mais de 590 mil novas adesões a consórcios imobiliários, um crescimento expressivo de 40,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse movimento gerou R$ 118,1 bilhões em negócios, contrastando com a retração de 10,4% nos financiamentos habitacionais com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que totalizaram R$ 73,6 bilhões, conforme números da Abecip.

A crescente preferência pelo consórcio pode ser explicada por diversos fatores econômicos e comportamentais. De acordo com a Abac, entre janeiro e maio de 2025, 23,8% dos imóveis financiados foram adquiridos por meio de consórcio, contra 19,1% no mesmo intervalo de 2024. Na prática, isso significa que quase um em cada quatro imóveis financiados no Brasil atualmente é adquirido via consórcio.

Os dados confirmam um fenômeno que vem se intensificando. Um estudo do Banco Central revelou que o segmento de imóveis liderou o crescimento entre todas as categorias de consórcio, com alta de 30% nas cotas vendidas, ultrapassando 998 mil no último ano. O sistema como um todo movimentou R$ 121,8 bilhões em 2024, com 4,53 milhões de cotas comercializadas e um total de 11,35 milhões de cotas ativas até dezembro, o que representa uma alta de 9,7%.

Segundo Robinson Assis, especialista em consórcios e sócio da The Hill Capital, o consórcio se fortaleceu como alternativa justamente por driblar as barreiras dos financiamentos, cada vez mais rigorosos. “Com os juros altos, os bancos passaram a exigir entradas maiores. Há pouco tempo, financiava-se até 80% do imóvel. Agora, alguns bancos pedem 30% ou até 50%, dependendo do perfil do cliente. O consórcio surge como uma solução sem juros e com menos exigências de crédito”, explica.

De fato, as parcelas dos consórcios não têm juros, ao contrário dos financiamentos imobiliários, que hoje variam entre 11,29% e 13,50% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR). Essa vantagem tem sido decisiva para quem busca planejamento financeiro de longo prazo.

Contudo, o consórcio também possui suas particularidades. Conforme destaca o planejador financeiro e especialista em investimentos Jeff Patzlaff, mesmo sem juros, as parcelas dos consórcios sofrem correção anual pelo INCC (Índice Nacional de Custo da Construção). No acumulado dos últimos 12 meses, o índice está em 7,19%. “O valor do crédito contratado e as parcelas são reajustados anualmente, inclusive após a contemplação. Isso pode surpreender quem entra achando que pagará o mesmo valor até o fim”, alerta.

Patzlaff também destaca um aspecto comportamental relevante: o brasileiro tem facilidade para lidar com compromissos mensais com objetivo definido, como um boleto fixo com finalidade clara. “Existe um viés comportamental de que é mais fácil guardar dinheiro quando se paga por algo concreto, como a futura casa ou carro. Esse fator emocional é um dos pilares do sucesso do consórcio no país”, afirma.

Mesmo com as correções pelo INCC, o consórcio tende a se manter atrativo, especialmente em um ambiente de queda gradual da taxa Selic, como previsto para os próximos meses. A expectativa é que essa redução pressione o INCC para cima, mas ainda assim a modalidade continuará competitiva em relação aos financiamentos, cada vez mais inacessíveis para boa parte da população.

Diante desse novo panorama, o consórcio de imóveis se consolida não apenas como uma alternativa viável, mas como uma preferência crescente entre os brasileiros que buscam adquirir seu imóvel com planejamento, menos burocracia e, principalmente, fora do alcance dos juros sufocantes do crédito imobiliário tradicional.

Fonte: Redação

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