Arquitetura e construção destacam IMS
Obras do complexo cultural na Avenida Paulista receberam materiais e sistemas desenvolvidos sob medida pelos fabricantes para o projeto
Uma abertura bem no meio da fachada do prédio do Instituto Moreira Salles (IMS) em São Paulo descortina a Avenida Paulista para quem visita o complexo cultural desde a inauguração, no segundo semestre do ano passado. Se a visão já impressiona, a fenda é também uma marca da logística sofisticada envolvida na construção do edifício, que se destaca por aliar estruturas museológicas a uma arquitetura peculiar em um endereço restritivamente nobre. Fatores que deram à construtora All’e Engenharia o prêmio de construção de complexo cultural no Master Imobiliário.
O projeto arquitetônico do empreendimento, idealizado pelo escritório Andrade & Morettin Arquitetos e executado pela All’e, previu dois grandes blocos para instalar todas as salas de exposição e as demais dependências do instituto. Há também um vão livre no quinto andar, onde hoje funcionam uma praça com uma loja e um café. As especificações técnicas levaram a construtora a adotar um sistema estrutural misto para a obra, aliando concreto aparente e perfis metálicos. Ficaram instalados no corpo de concreto apenas elevadores e escadas.
A falta de espaço e a localização do canteiro foram um desafio para a armazenagem e para a montagem dos perfis metálicos, produzidos em fábrica. A obra teve também de lidar com aprovações do Metrô e da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET), porque a execução ocorreu ao lado da estação Consolação da linha 2-Verde e com acesso à Avenida Paulista.
De acordo com o sócio-diretor da All’e, Alberto Du Plessis, a construção foi acompanhada pela empresa de gerenciamento de projetos Canal & Mussi para garantir um planejamento sem erros. As entregas de materiais foram feitas “just-in-time”, paulatinamente, e os perfis metálicos chegaram ao canteiro em porções pequenas, capazes de serem transportadas por caminhões à noite, respeitando os limites da lei do silêncio. “Fazíamos reunião toda semana com as empresas envolvidas na obra. E íamos reavaliando o planejamento.”
O projeto arquitetônico demandou outros cuidados. Ele previa, por exemplo, que o core de concreto e algumas das vigas estruturais de metal ficassem à mostra nas áreas internas. Para ter um bom acabamento, a construtora fez a concretagem das paredes com cuidado redobrado para não deixar falhas – as chamadas bicheiras. Foram inclusive usadas placas de madeira compensada novas a cada ciclo para que as paredes ficassem com um aspecto suave ao toque. Somava-se a isso o fato de que os andares tinham pés-direitos diferentes.
Os produtos de acabamento foram um capítulo à parte durante a construção.”Não são acabamentos industriais que se compra facilmente. Muitos foram manufaturados especificamente para lá”, conta Du Plessis. A estrutura da fachada, por exemplo, foi planejada por uma consultoria norte-americana e os perfis e o vidro foram produzidos na Alemanha e na Bélgica. “Depois de detalhar a especificação, chamamos os fornecedores, e eles fizeram um protótipo. Só depois avançamos.”
Os testes foram comuns durante a obra porque, além da fachada, foram desenvolvidos especialmente para o instituto um forro furado em madeira resistente a incêndios, um forro em malha de aço, portas corta-fogo, caixas de hidrantes, estantes da biblioteca e até abafadores de som para as paredes do teatro do instituto. “O conjunto das interface foi o mais desafiador. Como eram soluções escolhidas pioneiramente para o prédio, o encontro dos materiais com a estrutura precisava ser muito bem avaliado.” As revisões de cronograma estenderam a obra por um semestre, segundo o sócio-diretor da All’e.
Museu. As características museológicas do IMS dão peculiaridades extras. Nas três lajes superiores, onde ocorrem exposições, os pisos foram projetados para suportar cargas de até 1 tonelada por metro quadrado. As luminárias desses espaços foram desenvolvidas em claraboias especiais, com telas tensionadas, para proporcionar diferentes cenários de luz aos expositores. Toda a iluminação cênica, aliás, é controlada pelo sistema de automação do prédio.