Arquitetura Pneumática: o ar configurando espaços
É inevitável que estruturas estáticas e pesadas venham à nossa mente quando pensamos em arquitetura . Mas pilares, vigas e lajes não são as únicas coisas que definem uma arquitetura, definitivamente.
A arquitetura pneumática é aquela constituída por materialidades leves, flexíveis, suportada por bases fixas, mas sem a capacidade de suportar a si mesma decorrente da leveza, com a função de cobrir um vão a partir da injeção de ar. Isto é, são estruturas conformadas a partir de membranas pneumáticas infladas por sistemas de ar que atuam de mesma forma como o mecanismo de um balão inflado por ar quente ou antigos zepelins preenchidos por um gás menos denso que o ar. Há dois grupos constituídos por estas estruturas, aquelas sustentadas pela pressão do ar e aquelas que são enrijecidas por ele.
Historicamente, a ideia foi transposta ao campo arquitetônico na década de 1970 pelo coletivo vienense Haus-Rucker-Co. Junto de outros coletivos independentes que questionavam a produção da época e que ousaram criticar, incitar e redefinir os conceitos colocados, fundiram uma visão considerada utópica entre arquitetura, tecnologia e psicologia. Destaca-se o projeto Oase Nr., uma estrutura esférica, pneumática, inflável e anexada a um edifício existente, construída durante a Documenta 5 – mais importante exposição de arte ocorrida em outubro de 1972 em Kessel na Alemanha –, criando um ambiente de contemplação.
Em 1969, Peter Cook propunha o projeto experimental denominado Instant City, uma arquitetura efêmera pontuada por uma série de intermédios culturais e espaços de entretenimento, estruturada a partir da ideia de uma cobertura de circo composta por uma extensa lona erguida por balões pneumáticos, que seria então, instalada em uma série de metrópoles.
É nesse mesmo período que o arquiteto norueguês Sverre Fehn, inscrito como um dos mais importantes do período pós-guerra e com uma produção marcada pela solidez estética e material propõe uma ruptura a tudo o que já havia produzido até então e projeta um pavilhão com sistema pneumático ao participar do concurso para o Pavilhão Nórdico na Exposição Mundial em Osaka, no Japão.
Mas, se inicialmente a proposta era estruturada a partir de experimentação técnica e formal, é a partir da década de 1990 que o escritório Plastique Fantastique passa a incorporar o mecanismo não apenas na busca por resultados experimentais, mas, sobretudo, pela escassez financeira, como declara Marco Canevacci, fundador da empresa.
Com uma pegada consciente, o coletivo de pesquisa e experimentação focado no desenvolvimento de arquitetura efêmera pneumática e baseado na cidade de São Paulo, Estúdio Inflável, atualmente cria estas estruturas a partir do reúso de resíduos descartados, como sacolas plásticas, por exemplo. Ultrapassando os limites entre arquitetura, arte e instalação, propõe “dispositivos de ativação dos espaços urbanos, valorizando a possibilidade de novas trocas e encontros”, onde “leves e flexíveis, as estruturas pneumáticas funcionam como organismos vivos que são animados a partir de atividades artísticas colaborativas, shows, exibição de filmes, performances, encontros e conversas”.
As estruturas buscam despertar novos relacionamentos junto ao público, tanto no que diz respeito às propostas inusitadas a partir de um novo espectro, quanto na consciência ambiental.
m 2018, o escritório chileno GA Estúdio, propôs um pavilhão itinerante intitulado Pavilhão de Hélio, adotado a partir das premissas de fácil transporte, instalação e flexibilidade na concepção de um edifício “vivo, interativo, frágil em sua aparência e forte em sua capacidade” [3]. O projeto ainda apropria a ideia de compreensão dos limites da paisagem local, sem afetar a leitura do horizonte.
As estruturas pneumáticas nos revelam, além da ideia de experimentação formal, a idealização de novos modelos estruturais, de fácil e rápida montagem, baixos custos, desenvolvimento com a possibilidade de coautoria àqueles que irão utilizá-la, e por fim, a investigação de novas tipologias.