Fortaleza – CE | quinta-feira 7 de agosto de 2025 / 02:55

Copom mantém Selic em 15% e acende alerta na construção civil

Após sete altas seguidas, taxa básica de juros é mantida em 15% ao ano. Setor da construção sente impacto direto no crédito e projeta riscos para o crescimento futuro.

Pela primeira vez desde setembro de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu interromper a sequência de altas da taxa Selic, mantendo-a em 15% ao ano, conforme anunciado nesta quarta-feira (30). A decisão já era amplamente esperada pelo mercado, mas o patamar atual — o mais alto desde 2006 — ainda impõe sérios obstáculos à economia, especialmente à construção civil.

De acordo com Ieda Vasconcelos, economista-chefe da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o setor não sentirá alívio imediato. “A taxa elevada dificulta o acesso ao crédito e compromete investimentos em um setor que depende de financiamentos de longo prazo”, explica. O cenário é agravado pela inflação fora da meta, com o IPCA estourando o teto da nova política monetária por seis meses consecutivos, configurando descumprimento oficial da meta.

No ambiente externo, a pressão também aumenta. A partir de 1º de agosto, os Estados Unidos aplicarão tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, o chamado “tarifaço”. A medida pode desvalorizar ainda mais o real e alimentar pressões inflacionárias, criando um ambiente desfavorável para investimentos.

Crédito imobiliário em retração histórica
Um dos reflexos diretos dos juros altos é a fuga da poupança, principal fonte de financiamento habitacional. Só no primeiro semestre de 2025, a captação líquida foi negativa em R$ 38,4 bilhões, ultrapassando a perda de todo o ano anterior. Desde 2021, a perda acumulada já ultrapassa R$ 248 bilhões.

Como resultado, o número de unidades habitacionais financiadas com recursos da poupança caiu 14,62%, segundo a Abecip. Ainda mais preocupante é a queda de 60,83% na produção de novos imóveis no mesmo período, de 81.858 para apenas 32.065 unidades. “Sem crédito, os lançamentos recuam, afetando toda a cadeia da construção”, alerta Ieda.

Geração de empregos sustenta otimismo moderado
Apesar das dificuldades, a construção civil segue como destaque na geração de empregos formais. Entre janeiro e maio, 14,2% das vagas com carteira assinada foram geradas pelo setor, que superou três milhões de trabalhadores formais — patamar não visto desde 2014.

Esse desempenho mantém, por ora, a projeção da CBIC de crescimento de 2,3% para 2025. Mas Ieda ressalta que o resultado é impulsionado por obras lançadas em anos anteriores. “A falta de novos investimentos poderá impactar negativamente o desempenho nos próximos anos”, afirma.

Em meio a um contexto de juros altos, inflação resistente e incertezas internas e externas, a CBIC reforça a necessidade de políticas que garantam previsibilidade econômica e acesso facilitado ao crédito. “A construção civil é motor de desenvolvimento. Precisamos criar um ambiente mais propício para que ela continue gerando moradias, empregos e crescimento sustentável”, conclui a economista.

O tema se insere no projeto “Conhecimento, Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção”, uma iniciativa da CBIC com apoio do Serviço Social da Indústria (Sesi).

Fonte: Redação

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