A expansão acelerada da Inteligência Artificial está provocando uma mudança profunda no design e na construção de data centers, mas a infraestrutura mundial segue incapaz de acompanhar esse avanço. De acordo com o 2025-2026 Data Centre Construction Cost Index, pesquisa da Turner & Townsend, o setor vive um “ponto de virada”, com a migração de instalações resfriadas a ar para centros de alta densidade que dependem de resfriamento líquido. O levantamento, baseado na opinião de especialistas globais, revela um dado preocupante: 83% dos entrevistados não acreditam que as cadeias de suprimentos estejam preparadas para entregar as tecnologias avançadas de resfriamento exigidas por data centers voltados à IA.
A transição é técnica e também financeira. A análise mostra que existe um “prêmio de IA”, com custos de construção entre 7% e 10% maiores que os de data centers tradicionais de capacidade semelhante. Essas instalações demandam sistemas complexos e soluções de resfriamento mais robustas para lidar com cargas de trabalho elevadas. Embora os atrasos na entrega de equipamentos de resfriamento sejam relevantes, o principal fator de risco para o cronograma é a disponibilidade de energia, já que a IA tende a ampliar significativamente o consumo elétrico — atualmente estimado em 1% da demanda global.
A natureza de um data center dedicado à IA é marcada por alta densidade energética, o que eleva de forma expressiva a necessidade de eletricidade. A diretora de Real Estate da Turner & Townsend no Brasil, Kamila Lima, explica que o aumento de 7% a 10% nos custos está diretamente associado à demanda energética e às soluções de resfriamento. Segundo ela, o resfriamento líquido se tornou indispensável, o que impacta tanto a engenharia quanto o orçamento dessas instalações, reforçando sua característica de missão crítica.
Desafios estruturais para o Brasil
O Brasil consolidou-se como o maior hub de data centers da América Latina, concentrando cerca de 40% dos investimentos regionais. São Paulo e Campinas são os principais polos tanto para hyperscale quanto para colocation. O país se destaca pela posição geográfica, pela oferta de energia renovável e pelo ambiente regulatório alinhado à LGPD. Entretanto, Kamila Lima afirma que o principal entrave não é a geração de energia, mas sim a infraestrutura necessária para conectá-la às instalações. A ligação de alta e média tensão exige obras e estruturas que muitas vezes não acompanham o ritmo de expansão do setor.
Para superar o ceticismo da cadeia de suprimentos e os gargalos energéticos, o relatório recomenda inovação no design e mais robustez nas estratégias de aquisição. Como data centers são equipamentos de missão crítica, exigem redundâncias, sistemas complexos e planejamento detalhado. A eliminação de atrasos passa por gestão antecipada da cadeia. Kamila destaca que os maiores desafios estão na entrega de equipamentos pesados — geradores, transformadores e sistemas de resfriamento líquido — que têm prazos longos e dependem frequentemente de importação.
Uma das soluções apontadas é o desenvolvimento da indústria nacional para reduzir dependência externa. “Temos trabalhado com diversas empresas para fomentar o mercado local, permitindo que esses equipamentos sejam produzidos no Brasil e não apenas importados”, destaca Lima. Apesar dos obstáculos, ela reforça que o país ainda tem vantagem competitiva: o custo médio de construção de data centers é de US$ 10,75 por watt, contra US$ 15,2 por watt em Tóquio. O desafio central é garantir capacidade técnica e velocidade de execução.
Perspectivas para a liderança brasileira
Para Kamila Lima, o Brasil tem escala e ambição para liderar a nova geração de data centers para IA na região. Mas manter essa posição exigirá estratégias de compras mais sólidas, investimentos em resiliência da cadeia de suprimentos e soluções inovadoras para lidar com a disponibilidade de energia. Ela afirma que, em um cenário de demanda crescente e complexidade técnica, proatividade será determinante para sustentar a competitividade do país.
