As obras que utilizam métodos construtivos convencionais (estrutura de concreto armado, alvenaria com blocos de concreto ou cerâmicos) fazem da construção civil um dos setores líderes na geração de resíduos sólidos no Brasil. Aqui são geradas 300 toneladas diariamente, volume que encheria 30 caminhões com capacidade para dez toneladas, segundo informa José Carlos Queiroz de Oliveira, engenheiro e gerente de obras da Riviera Construtora.
O Brasil tem resoluções legais que estabelecem critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, mas o problema está no descarte incorreto, principalmente de obras individuais não regularizadas, afirma ele.
— Nós temos condições de reciclar 98% desse material, mas reciclamos apenas 21%, porque somente as grandes construtoras fazem a gestão correta dos resíduos. O lixo gerado por obras de pessoas físicas é, geralmente, descartado em terrenos baldios.
Professora de Engenharia Civil e Arquitetura e PhD em Engenharia, Iza Valadão destaca que a construção civil, além de responder por 50% dos resíduos gerados no Brasil, é um dos setores que mais impactam o mundo de forma negativa, pelo volume de recursos naturais que extrai para a produção de materiais.
— Extraímos muito da natureza, e a maioria dos recursos não é renovável. Como impactamos mais, precisamos ter mais cuidado — sugere ela, destacando a importância da paginação do piso e da escolha certa do revestimento, por exemplo, para evitar desperdícios.
Mas essa quantidade de lixo, que na maioria das vezes não tem destinação correta, vem sendo drasticamente reduzida com o uso da tecnologia nas construções. A inovação tecnológica aplicada atualmente nos materiais de construção permite transformar as obras em soluções simples, com redução de desperdício de materiais e sem pesar no bolso. Um grande avanço para a obtenção de uma obra limpa e enxuta, segundo o gerente de obras da Riviera, tem sido a utilização de alvenaria estrutural em blocos cerâmicos.
— Esse tipo de alvenaria elimina a estrutura de pilares e vigas, tornando a obra mais rápida e segura, mesmo mantendo o uso do tijolo cerâmico, que é uma mania nacional — diz ele.
Técnicas alternativas
O engenheiro destaca ainda o uso do wood frame, sistema construtivo que utiliza painéis de madeira em substituição à alvenaria tradicional, muito comum na Região Sul, em função das baixas temperaturas; além do steel frame, conhecido como construção a seco, que utiliza estruturas de aço galvanizado e placas cimentícias.
— O wood frame proporciona economia de até 90% no uso de água na construção, pois só requer uma fundação de concreto armado, e o tempo de construção chega a ser três vezes menor do que o da alvenaria tradicional. Já o steel frame significa obra limpa e rápida, mas é uma tecnologia culturalmente rejeitada no país — informa o engenheiro.
Outras soluções que vêm sendo aplicadas nas construções são o tijolo modular, que gera menos resíduos por quebrar menos; e os blocos de concreto, que dispensam pilares e vigas e também se enquadram no conceito de obra rápida que elimina resíduos.
— Os blocos são entregues em paletas e basta assentá-los com argamassa, seguindo o projeto modular. Todos os pré-moldados, como paredes de concreto, tijolos em blocos cerâmicos e steel frame, por exemplo, são montados na construção como se fossem um jogo de Lego — compara Oliveira.
Seja qual for o tipo de obra, o primeiro passo é contar com a ajuda de um profissional para elaborar o projeto. É ele quem irá sugerir os materiais que serão usados e onde adquiri-los, de acordo com o desejo do cliente. É o que a professora Iza Valadão chama de consumo racional. Segundo ela, mais da metade das obras tocadas por pessoas das classes C e D no país não conta com a ajuda de um profissional.
— Engenheiros e arquitetos, cada um na sua área, são importantes para a sustentabilidade da obra, para que ela ocorra na forma correta e aumente o tempo de vida útil da construção — afirma.
A sustentabilidade do drywall e dos laminados
Um bom projeto ajuda a reduzir a quantidade de entulhos gerados numa obra
O ditado popular “casa de ferreiro, espeto de pau”, que se refere às pessoas que têm uma habilidade, mas não a utilizam a seu favor, não se aplica ao arquiteto Alecsandro do Amaral. Recentemente, ele comprou um apartamento em leilão e, na pressa de se mudar, pensou em uma solução sustentável: o uso do drywall, técnica de construção a seco de paredes, forros e revestimentos, feita com placas de gesso acartonado.
— Hoje, é preciso ter preocupação com a estrutura predial e, quando se faz um trabalho com gesso, não há alteração na estrutura do imóvel e não há risco para o prédio como um todo. Além disso, o drywall gera muito menos resíduos do que uma parede de alvenaria, e é possível retirá-lo e colocá-lo em sacos de entulho e descarta-lo em lugar apropriado.
Amaral também ressalta como uma boa opção o papel de parede que só requer o trabalho de um instalador, sem gerar resíduos ou poeira. O material é reciclável e tem uma boa relação de custo x benefício. Para o piso, ele sugere o laminado, principalmente o vinílico muito usado nos quartos, que também dispensa a retirada do piso anterior.
— Os laminados proporcionam mais conforto por ser um piso quente. São mais resistentes, não geram barulho quando pisados e não riscam. A instalação é super-rápida, em apenas um dia pode ser colocado num apartamento de sala e dois quartos — explica.
E, seja qual for a obra, ter um projeto é fundamental para gerar mais rapidez, menor quantidade de entulho e melhor aproveitamento dos espaços. Um profissional, diz Amaral, também tem condições de sugerir o melhor material para cada tipo de reforma ou construção.