Após um tombo de 23% na receita com vendas este ano, o setor de máquinas e equipamentos agrícolas projeta recuperar algum terreno em 2025, com alta de 8% no faturamento, para a casa dos R$ 60 bilhões. Mas a escalada persistente dos juros no país pode atrapalhar o avanço esperado.
Os anos de 2024 e de 2023 foram de perdas para as empresas de máquinas — reflexo da queda dos preços das commodities agrícolas e das taxas de juros elevadas — depois do auge de 2022. Naquele ano de euforia, as commodities nas alturas fizeram o faturamento com as vendas de máquinas alcançar o recorde de R$ 95 bilhões.
Ainda que os juros possam ser novo entrave, por ora, a indústria de máquinas avalia que 2025 será um ano de “normalização” das vendas, com a volta do faturamento ao patamar dos R$ 60 bilhões. Neste ano, deve fechar em R$ 56 bilhões, segundo a Câmara Setorial de Máquinas Agrícolas da Associação Brasileia da Indústria de Máquinas (Abimaq).
Em 2023, a receita havia alcançado R$ 74 bilhões. A indústria pondera que, além do cenário desfavorável, a retração foi grande nos dois últimos anos porque a base de comparação era alta.
Efeito Trump
Afora o comportamento dos juros, a “normalização” em 2025 vai depender também de outros fatores, como os primeiros movimentos do futuro presidente dos EUA, Donald Trump. Na campanha eleitoral, ele prometeu taxar as importações, sobretudo da China, o que pode afetar fluxos comerciais, elevando os preços das commodities.
Analistas já fazem cálculos caso esse cenário se confirme. Segundo o consultor Carlos Cogo, os preços da soja e milho podem subir na bolsa de Chicago e aumentar a rentabilidade do produtor, e, por consequência, o apetite para investir. Se isso se concretizar, as vendas de tratores devem crescer entre 4,5% e 9% no Brasil. Sem o “efeito Trump”, entre 2% e 4%.
As vendas de colheitadeiras podem crescer ainda mais, entre 10% e 20%, porque a base de comparação é ruim e pela expectativa de uma nova safra recorde em 2024/25. “Depois da colheita de soja, é provável que também tenhamos uma safra enorme de milho, e os produtores precisarão de colheitadeiras mais potentes”, diz Cogo.
Entre janeiro e outubro, as vendas de tratores e colheitadeiras totalizaram 60.125 unidades (queda de 26,9%), sendo 53.245 para o mercado interno (-26,4%).
“Neste ano houve uma seca muito severa que diminuiu a rentabilidade do produtor desses dois principais produtos [milho e soja] do agronegócio nacional. Estamos contando que a próxima safra, colhida a partir de fevereiro, apresente uma produtividade e uma rentabilidade melhor para o produtor, que deve voltar às compras de equipamentos”, diz Pedro Estevão, presidente da Câmara da Abimaq.
Segundo ele, equipamentos para soja e milho representam entre 60% e 70% do faturamento do setor e, por isso, apesar dos preços recordes do café e cacau, por exemplo, o resultado de 2024 não foi bom.
Ainda que acredite em normalização, Estevão reconhece que “os juros podem atrapalhar os planos para 2025”. “Como acabaram os recursos do Moderfrota e do Pronaf [do Plano Safra], temos que lidar com taxas de 16% ao ano, que são muito proibitivas”, acrescenta.
Ajustes nas fabricantes
Na avaliação de Antonio Carrere, vice-presidente de vendas e marketing da John Deere no Brasil, “os preços [de soja e milho] não estão ruins, mas os agricultores estão com a cabeça em 2022, quando as cotações eram recorde”. Isso explica a parcimônia para investir.
Para este ano, a John Deere prevê uma queda de 10% em seu faturamento global, para US$ 55 bilhões. Em 2023, a receita havia crescido 16%, para US$ 61,25 bilhões, graças, principalmente, ao bom desempenho no primeiro semestre.
Com o desaquecimento das vendas, a empresa demitiu mais de 3 mil de seus 83 mil funcionários e paralisou operações por períodos determinados tanto em 2023 quanto em 2024. No Brasil, a John Deere tem 9 mil funcionários.
Agora, diz Carrere, a produção está ajustada à demanda atual, mas as fábricas continuarão com capacidade ociosa. A companhia tem quatro plantas no Brasil.
Ele também espera que a valorização do dólar ante o real melhore a rentabilidade dos produtores na exportação de commodities e incentive as vendas no país. Mas admite que os juros altos podem inibir as vendas de máquinas.
Para a CNH, dona das marcas Case e New Holland, 2025 deve ser um ano de estabilidade, com a Argentina sendo o único destaque em volume para a América Latina.
Argentina
Segundo Paulo Máximo, diretor de serviços comerciais e de planejamento na região, as ações do presidente Javier Milei, de baixar os juros e retirar impostos, devem fazer o produtor argentino ter maior rentabilidade. “Vemos um crescimento entre 10% e 15% para o país”, estima.
A Argentina representa cerca de 10% das vendas de máquinas da empresa na América Latina que, por sua vez, responde por 20% do faturamento global da CNH. O Brasil é o maior mercado.
A CNH também sofreu com uma capacidade ociosa este ano e precisou reduzir em 11% o quadro mundial de funcionários. “Fomos surpreendidos pela retração de mercado em 2023, mas agora já nos ajustamos”, afirma Máximo.