O mercado de imóveis verticais de médio e alto padrão na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) sofreu uma forte retração no primeiro semestre de 2025. Segundo levantamento do Sinduscon-CE em parceria com a Brain Inteligência Estratégica, houve queda de 91% nos lançamentos, passando de 712 unidades no mesmo período de 2024 para apenas 63 neste ano.
Os empreendimentos impactados estão concentrados em áreas litorâneas, como Porto das Dunas, Cumbuco, Prainha e Presídio, conhecidas por atrair compradores com maior poder aquisitivo. Já os imóveis enquadrados no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) seguiram tendência contrária, com crescimento de 15% nas unidades lançadas – de 828 para 995.
Para Fábio Tadeu Araújo, diretor da Brain, o mercado freou os lançamentos de alto padrão, especialmente no litoral. “A queda se concentra nesse perfil, já que cidades da RMF normalmente não têm muita oferta para a classe média alta. Isso reflete no Valor Geral de Vendas (VGV) também, que caiu 62% – de R$ 983,2 milhões para R$ 369,4 milhões”, afirma.
Araújo alerta ainda para um cenário de escassez de imóveis voltados a famílias de maior renda. “Há poucos produtos com três dormitórios ou suítes, o oposto do que víamos durante a pandemia, quando eram lançados empreendimentos com até 700 unidades”, explica.
Por outro lado, o mercado vem se adaptando. As construtoras voltaram o foco para um novo perfil de comprador: consumidores com menor poder aquisitivo e investidores, interessados em imóveis compactos com até dois dormitórios e voltados à locação por temporada. Esses imóveis, com metragem média entre 30 m² e 40 m², oferecem preço médio de R$ 12 mil/m² no Cumbuco e R$ 15 mil/m² no Porto das Dunas, segundo Sérgio Soares Macêdo, diretor de Estatística do Sinduscon-CE.
“A demanda é de cearenses que compram para lazer em família ou para gerar renda extra com aluguel. O turismo movimenta o litoral, tornando esse tipo de apartamento bastante atrativo”, pontua Macêdo.
Patrícia Mota, do Creci-CE, destaca que o público médio padrão ainda investe no litoral, mas exige estrutura de lazer completa e segurança reforçada, já que o objetivo é, muitas vezes, transformar o imóvel em fonte de receita. “É um movimento influenciado pelo crescimento das plataformas de locação de curto prazo. Há apartamentos sendo vendidos por R$ 410 mil no Porto das Dunas e R$ 340 mil no Cumbuco”, afirma.
O cenário revela um mercado em transição, saindo do foco em grandes unidades de alto padrão e apostando em empreendimentos menores, mais acessíveis e com potencial de rentabilidade, adaptando-se às novas demandas dos consumidores e à dinâmica econômica atual.