O setor imobiliário residencial brasileiro manteve estabilidade na procura e vendas de imóveis no 1º trimestre de 2025, puxado pela continuidade do bom desempenho do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). Mesmo com leve desaceleração em relação a 2024, o segmento segue como pilar de sustentação do mercado, segundo a pesquisa Indicador da Confiança do Setor Imobiliário Residencial, realizada pela Abrainc em parceria com a Deloitte.
O levantamento consultou construtoras e incorporadoras atuantes nos segmentos de habitação popular (MCMV), Médio e Alto Padrão (MAP) ou em ambos. Os indicadores mostram estabilidade: a média da procura por imóveis residenciais ficou em 1,95 pontos e a de vendas em 1,96 pontos, em uma escala de até 3, conforme metodologia da Deloitte.
Em 2024, o setor havia registrado crescimento de 11,8% nas vendas gerais — o melhor desempenho desde 2014 — impulsionado por recorde de lançamentos do MCMV desde sua criação, em 2009. A demanda sólida por imóveis populares segue sendo um fator decisivo para o equilíbrio atual do mercado.
Segmento MAP sente impacto dos juros
No setor de Médio e Alto Padrão, os efeitos da alta da taxa Selic são mais perceptíveis. A expectativa de vendas caiu para 1,69 pontos, recuo de 0,09 em relação ao trimestre anterior, refletindo um cenário de maior cautela entre compradores e investidores diante do encarecimento dos financiamentos.
Mesmo assim, a intenção de compra de imóveis segue em patamar elevado, influenciada pelo aumento do valor dos aluguéis e pela percepção de valorização dos imóveis, mesmo entre consumidores de menor renda. A faixa etária entre 35 e 40 anos, que mais adquire imóveis, cresceu 16% na última década, segundo o IBGE — contribuindo para a manutenção da demanda.
Empresários mostram otimismo com novos lançamentos
A pesquisa também revelou que 98% das empresas do MCMV pretendem lançar novos empreendimentos nos próximos 12 meses. No segmento MAP, esse número chega a 89%, indicando apetite crescente por investimentos, especialmente após o aumento de 13 pontos percentuais na intenção de compra de terrenos, que passou de 51% no fim de 2024 para 63% no primeiro trimestre de 2025.
A expectativa é de continuidade nas vendas do MCMV e manutenção da tendência de desaceleração no MAP, cenário que pode ser alterado com novas medidas governamentais e redução dos juros.
Faixa 4 do MCMV amplia acesso da classe média
O programa habitacional ganhou reforço com a criação da Faixa 4, voltada a famílias com renda mensal entre R$ 8.600 e R$ 12 mil. A nova modalidade oferece condições de financiamento mais vantajosas, com juros de 10% ao ano + TR, frente aos cerca de 13% ao ano + TR praticados no mercado. A diferença pode significar redução de até 27% nas parcelas mensais, facilitando o acesso da classe média à casa própria.
Segundo a Abrainc, esse grupo representa cerca de 1,4 milhão de trabalhadores, conforme dados da Rais de 2024. A entrada dessa faixa no programa deve movimentar a cadeia da construção civil, gerar empregos e aquecer a economia.
Aluguéis desaceleram em maio após altas consecutivas
No mercado de locação, o Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (Ivar) caiu 0,56% em maio, revertendo a alta de abril. A variação acumulada em 12 meses também desacelerou, passando de 5,92% para 5,11%, segundo o Ibre/FGV. O resultado foi puxado pela forte queda em São Paulo, onde o Ivar passou de 3,60% em abril para -6,02% em maio.
Nas outras capitais avaliadas, houve variações positivas:
- Porto Alegre: de -0,46% para 3,81%
- Belo Horizonte: de -3,34% para 4,83%
- Rio de Janeiro: de -1,43% para 3,01%
Na análise interanual, São Paulo e Rio apresentaram desaceleração nas taxas, enquanto Porto Alegre e Belo Horizonte tiveram leve aceleração.