As linhas de crédito sem garantias -como crédito pessoal e cartão de crédito- cresceram cerca de 15% nas carteiras dos quatro maiores bancos do país (Bradesco, Itaú e Santander, além do estatal Banco do Brasil) em 2019.
O movimento, segundo analistas, acompanha o ambiente de maior otimismo com a economia brasileira para este ano, mas também reflete esforços maiores dos bancos para manter o lucro em um cenário de juros na mínima histórica e ante um índice de emprego com recuperação abaixo do esperado.
Por não apresentarem garantia de pagamento -como é o caso do financiamento imobiliário ou do crédito para veículos, cujo próprio bem é a salvaguarda-, os bancos costumam cobrar juros mais altos nessas modalidades como forma de cobrir o risco de um eventual calote.
Para Victor Martins, analista bancário da Planner Corretora, a tendência é que as instituições busquem alternativas para captar recursos e também para manter o lucro.
“Os bancos recorrem a essas linhas porque buscam spreads (diferença entre o custo de captação e o de empréstimo) maiores e assim conseguem manter o lucro. Mas a presença mais forte das fintechs e o PIB ainda baixo limitam esse ganho”, disse Martins.
O crescimento em linhas mais arriscadas não significa queda em outros empréstimos, avalia o analista da Austin Ratings Luiz Miguel Santacreu.
“Os bancos já terão desafios para manter a margem financeira (receita com operações de crédito) e não vão abrir mão das modalidades com garantias”, disse.
Parte desse desafio viria pelo limite imposto pelo Banco Central nos juros cobrados no cheque especial. Outro fator seria o aumento da contribuição sobre lucro líquido dos bancos para 20% neste ano.
As linhas de crédito consignado e financiamento imobiliário cresceram 16,6% e 9,6%, respectivamente, quando considerados os quatro bancos.
No caso do Banco do Brasil, o último dos quatro a divulgar o balanço de 2019, a linha de crédito que mais cresceu foi a de empréstimo pessoal, com alta de 45,2%. Crédito consignado subiu 14,3%, e cartão de crédito, 10,7%. O lucro do BB foi de R$ 17,8 bilhões em 2019.
A carteira total (que inclui pessoa jurídica e crédito agrícola) caiu 2,6%, puxada pelo recuo nos empréstimos a grandes empresas. Como reflexo, o banco reforçou o foco na administração de recursos.
Para Santacreu, da Austin Ratings, a mudança na carteira dos bancos, com mais risco de crédito, força-os a provisionar mais recursos contra eventual inadimplência.
“O controle desses indicadores é importante, principalmente em relação aos cortes de custos, que continuam primordiais para este ano”, diz.
Segundo Martins, da Planner, a expectativa é que a composição do lucro dos bancos também tenha uma mudança estrutural.