O setor de materiais de construção em Minas Gerais começa a sentir os efeitos da desaceleração econômica nacional. O aumento da inflação, aliado à elevação da taxa básica de juros (Selic), tem gerado um cenário de incerteza que impacta diretamente o mercado. De acordo com Wagner Matos, diretor do Sindicato do Comércio Varejista e Atacadista de Material de Construção, Tintas, Ferragens e Maquinismos de Belo Horizonte e Região (Sindimaco), as vendas estão em queda, especialmente no primeiro trimestre deste ano.
Primeiro Trimestre Reflete Desaquecimento
Embora o primeiro trimestre seja historicamente marcado por baixo desempenho no setor – devido ao maior volume de chuvas, férias escolares e feriados como o Carnaval –, em 2025 os sinais de desaquecimento são mais evidentes. “O aumento dos juros e a inflação têm levado as pessoas a comprarem menos, reduzindo o ticket médio nas lojas”, explica Matos.
Com a Selic em 14,25% ao ano, o crédito se torna mais caro, desestimulando o consumo e impactando investimentos. Essa medida, embora necessária para conter a inflação, pode resultar em menor atividade econômica e reduzir a intenção de novos projetos de construção.
Impacto nos Preços dos Materiais
Os insumos básicos, como areia, cimento, tijolo e torneiras, apresentaram aumentos moderados, superando a inflação em cerca de 7% a 8%. Já produtos dependentes de matéria-prima importada, como cobre, tintas, materiais elétricos e hidráulicos, registraram altas mais expressivas. “Produtos vinculados ao mercado internacional, como o cobre negociado na bolsa de Londres, tiveram aumentos significativos”, destaca Matos.
Falta de Mão de Obra Agrava o Cenário
Outro desafio enfrentado pelo setor é a escassez de mão de obra qualificada. Com a redução do desemprego no país, encontrar profissionais, principalmente para cargos de entrada, está cada vez mais difícil. Além disso, o aumento salarial nesta faixa de trabalho também pressiona os custos operacionais das empresas do setor.
Descompasso Econômico Preocupa
A divergência entre as políticas fiscais expansionistas do governo federal e as medidas contracionistas do Banco Central tem gerado preocupação no setor. “Observamos um descompasso na economia que afeta diretamente as expectativas dos consumidores e empresários. Essas ações antagônicas podem trazer prejuízos para diversos setores, tornando 2025 um ano extremamente desafiador”, avalia Matos.
Os próximos meses serão decisivos para definir as projeções de crescimento do setor em Minas Gerais. Atualmente, a estimativa é de um aumento de 2% a 3% acima da inflação. No entanto, dependendo do ritmo de elevação da Selic, há risco de deflação no setor. “Aguardamos sinais mais claros para ajustar nossas expectativas, mas é evidente que o cenário atual exige cautela e planejamento estratégico”, conclui o diretor do Sindimaco.