Arquitetura de Gaudí: casas ou obras de arte em Barcelona?

Nada é óbvio , erguida em 1877 por Emílio Sala Cortés e reformada por Gaudí nos primeiros anos do século 20. E, ao mesmo tempo, tudo faz demasiadamente sentido nela. Beleza e funcionalidade andam de mãos dadas neste que é um dos ícones da arquitetura modernista gaudiniana no Paseo de Gracia, principal avenida de Barcelona – o outro é a Casa Milà, ou La Pedrera.

 

Com um guia que, além de áudio, mostra imagens 360 graus dos cômodos, fui percorrendo, boquiaberta, o caminho até o topo. Era abril e já havia muita gente disputando espaço neste caminho. Como gosto de olhar cada detalhe, minha visita levou mais do que a uma hora prevista. Mas valeu a pena: foi como viajar pela natureza fantástica que só se encontra nos livros. E em Gaudí.

A escadaria logo na entrada, por exemplo. O corrimão é semelhante à ossada de um réptil. Na sala principal, o teto parece um redemoinho – o áudio me conta sobre a ideia de imitar o movimento das ondas do mar. Esqueça portas quadradas: elas são sempre curvadas e vazadas com vidros coloridos que aguardam a incidência da luz para brincarem de arco-íris internos. E as paredes parecem ser a pele descamada da família do réptil lá do início.

 

Cada detalhe da casa, uma construção tipicamente burguesa do início do século 20, foi pensado por Gaudí para agradar aos gostos e às necessidades de seu dono à época, o industrial D. José Batlló y Casanovas. Materiais reciclados, azulejos, ferro forjado, ornamentos de pedra, madeira e muitos vitrais foram usados para fazer do espaço um lugar funcional na vida prática e um retrato da natureza marinha na vida imaginária.

E, se a ampla janela da sala mostra o Paseo de Gracia, a vista para o pátio interno é curiosa: num degradê de azulejos azuis, Gaudí conseguiu equilibrar a chegada de luz aos ambientes internos do topo à base. Quer uma vista mais espetacular? Aguarde até alcançar o terraço da construção, para ver a cidade e a parte traseira do telhado do dragão, aquele bem colorido no alto da fachada.

MILÀ, OU LA PEDRERA

 

Dois projetos modernistas num só dia? Quem for à Batlló e à Milà vai perceber que, além de diferentes arquitetonicamente, têm propostas distintas. Gaudí foi responsável por toda construção de La Pedrera, encomendada pelo casal Pere Milà e Roser Segimon em 1905.

Ao longo dos anos, diversas pessoas e comércios ocuparam seus espaços, incluindo o Partido Socialista Unificado da Catalunha

(PSUC) na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Foi só em 1987 que uma parte dela, o terraço, foi aberta ao público e que a restauração para fazer do espaço um centro cultural e turístico (aberto em 1996) teve início.

As curvas estão já na fachada, bem mais extensa do que a da Batlló. Como o próprio nome denuncia, é feita de pedras. Suas sacadas, de ferro, parecem uma simples cortina escondendo os costumes da vida burguesa.

Há menos colorido na Pedrera do que na Batlló. Mas as bases de sustentação e objetos como as maçanetas são ainda mais trabalhadas. Cada pedaço de pedra, concreto ou ferro é uma escultura. E há exemplos de peças desenhadas por Gaudí: cadeiras que acompanham a dinâmica dos braços humanos e bancos que se voltam levemente para dentro, em posição para uma conversa.

Na parte interna, é possível conhecer a disposição de um dos apartamentos, e os cômodos reproduzem o dia a dia da elite do início dos 1900, com mobiliário e trajes. No sótão, uma exposição aborda as técnicas de Gaudí e a história de cada uma delas.

O terraço, onde a maioria das pessoas gasta a maior parte da visita, é ainda mais interessante do que o da Casa Batlló. Ali, a bela vista só se soma a um cenário muito mais rico: chaminés retorcidas; torres revestidas com pedaços de cerâmica ou material reciclado; escadas construídas dentro de espaços curvos. Repare em um dos arcos dos cantos: ele enquadra a Sagrada Família ao fundo.

Fonte: Obra 24horas