Arquitetura em tempos de quarentena: é hora de reinventar
A arquiteta Sabrina Wernicke encontrou na quarentena uma oportunidade para se reinventar o dia a dia a partir da própria casa
Com a nova realidade imposta pelo isolamento social face aos riscos de transmissão do coronavírus, a maior parte das pessoas nunca observou –por tanto tempo e com tanta atenção– sua relação com o espaço da própria moradia. Palavras da arquiteta Sabrina Wernicke, que atribui ao período de quarentena a oportunidade que cada um tem, dentro de sua realidade, de reinventar o dia a dia.
“Alguns desafios, como separar os momentos coletivos da privacidade individual, criar espaços de lazer dentro de casa, saber manter a produtividade no trabalho em home office ou até mesmo desenvolver habilidades e passatempos adormecidos pela falta de tempo, podem ser solucionados com melhorias no âmbito da arquitetura e da reorganização de espaços”, diz Sabrina.
A arquiteta própria cita que comprovou suas observações quando postou nas redes sociais uma foto com seu marido, o fotógrafo Gal Oppido, com uma furadeira na mão e contou que estavam adaptando o apartamento em que residem para passar a quarentena. “Foi muito curioso receber as mensagens de amigos querendo saber como estávamos melhorando nossa casa. Tenho certeza de que a mesma foto não teria a mesma repercussão três meses atrás”, avalia.
De acordo com Sabrina, essa ressignificação da foto postada pode ser ainda mais profunda. “As pessoas desejam um novo estilo de vida, uma nova maneira de viver e se relacionar com seus espaços, reconhecendo-se em suas casas e aprendendo a morar com elas próprias”, argumenta. Para ela, o isolamento que se instaurou proporciona a oportunidade de dar início a este processo de mudança por meio da organização de um novo sistema para as residências que simplifique a rotina, deixe os espaços visualmente mais claros e de fácil entendimento para todos os moradores, evitando-se, assim, perda de tempo e estresse.
“Como resultados dessa nova postura também se espera um consumo mais consciente, redução de gastos, espaços mais saudáveis e bem-estar para todos”, complementa Sabrina.
Novos tempos pedem novas atitudes
Abaixo a arquiteta Sabrina Wernicke mostra alguns projetos feitos com pequenas adaptações, mas que resultaram em grandes mudanças
“Particularmente, acho um desafio e tanto a proposta de Marie Kondo (escritora japonesa e especialista em organização pessoal), quando ela diz que devemos rever nossos itens materiais para identificar que, se eles não nos fazem feliz, devem ser descartados. Sinto que, muitas vezes, temos objetos que poderiam ser ressignificados ou pela função, pela composição estética ou por sua ordenação no espaço”.
Neste projeto feito a quatro mãos em parceria com a arquiteta Gabriela R. Gurgel fizemos um estudo minucioso de todos os objetos e móveis da moradora e desenvolvemos um estudo para reposicionar cada item no espaço, configurando, dessa forma, novas funções, composições e estéticas. O resultado desse trabalho fez com que as peças que a moradora não gostava tanto e pensava em descartar ganhassem um novo significado em sua “nova” casa.
Como manter foco, disciplina e produtividade em home office
Nesse período em que ainda está em vigor o distanciamento social e com muitas pessoas trabalhando em sistema de home office, a exemplo de estudantes que estão tendo aulas on-line, é importante eleger um espaço dentro da própria casa para essas atividades. O local pode ser pequeno, como ocorre, geralmente, em apartamentos de grandes cidades.
Para residências com mais de dois moradores, o ideal é pensar em um lugar que possa ser fechado com portas para se garantir privacidade. Já no caso de duas pessoas vivendo no mesmo imóvel, esses espaços de trabalho podem estar na copa ou até nos corredores. Utilização de mesas retráteis que escondem uma área de trabalho, encaixes dentro de um armário ou trocar o criado-mudo por uma mesa são algumas possibilidades que podem contribuir para solucionar um projeto de home office que permita manter foco, disciplina e produtividade, seja no desempenho das atividades profissionais ou na execução de trabalhos escolares.