Casa container: os preços, prós e contras desse tipo de construção

Arquitetos com experiência na técnica falam sobre tempo de obra, tratamento térmico, e quando se deve ou não usar o container

Para quem gosta de um estilo industrial, dificilmente as construções em containers passaram despercebidas: usados em uma série de projetos comerciais, a tendência que ganhou espaço lá fora chegou com força ao Brasil já há alguns anos, e muito se fala em suas vantagens econômicas e ambientais. Talvez você já tenha lido, por exemplo, que os containers são uma forma de construção barata, sustentável e muito rápida. E isso pode ser verdade… mas não em todos os casos! Então, para entender melhor tudo o que envolve uma construção com o material, Casa Vogue conversou com os arquitetos Danilo Corbas, da Container Box, e Lula Gouveia, arquiteto e engenheiro sócio do estúdio Superlimão.

Aliás, se você se interessa pelo tema, talvez você já tenha até se deparado com a casa de Danilo Corbas, onde o arquiteto mora com a família há anos. Ela foi a primeira casa container do Brasil. Quando o projeto ganhou notoriedade, o escritório de Danilo passou a fazer mais e mais construções do tipo. Hoje a Container Box também realiza projetos em alvenaria, mas acaba sendo mais requisitado para produzir com containers mesmo. Para o arquiteto, o que chama a atenção na prática é toda a sustentabilidade oferecida pela técnica. “Não conheço hoje outro método mais sustentável de construção”, afirma.

Já Lula Gouveia, do Superlimão, aponta outras vantagens para o uso do material, que é extremamente leve e resiliente, mas alerta: não vale copiar projetos europeus! Segundo o profissional, usar o container da mesma forma que estúdios estrangeiros usam é contraproducente, considerando as condições climáticas do Brasil.

E engana-se quem pensa que usar o material para construções é novidade: basta olhar para o projeto Container City, em Londres, construído no final da década de 90. Ou para Amsterdã, que abriga um condomínio de containers, com mais de mil apartamentos, desde 2006. Como referência internacional, Gouveia cita ainda o escritório LOT-EK, fundado em 1993.

Segundo o arquiteto, o uso dos containers pode ser dividido em três fases, ou gerações. Atualmente, já estaríamos na terceira fase. “A primeira geração foi aquela que usou as estruturas apenas como local de estoque, ou em canteiros de obras, somente para suprir uma necessidade. Já a segunda geração é aquela na qual se enquadra a maior parte dos projetos que vemos hoje: o container é usado apenas como elemento com finalidade estética. E a terceira geração, que está surgindo, propõe usar o container como material, e não como fim, aproveitando o que ele tem de melhor e não apenas porque é bonito”. Por isso, é necessário ver a finalidade do seu projeto e seu objetivo antes de decidir se este é ou não o melhor caminho.

Ambos os profissionais concordam que, para valer a pena, um projeto em container por si só não basta e deve ser aliado a outros recursos e práticas da boa arquitetura. Condições de terreno, posicionamento do espaço, disposição dos ambientes e paisagismo devem ser elementos levados em consideração desde o princípio. Fora as características dos containers, que estão longe de serem todos iguais. Como o assunto é um pouco longo, vamos por etapas:

Tipos de containers e de onde vêm

Existem dois grandes tipos de containers: os do tipo reefer e os do tipo dry. Os do tipo reefer, ou refrigerados, geralmente são usados no transporte de cargas perecíveis e já vêm com isolamento térmico semelhante ao que encontramos em geladeiras. Já os containers do tipo dry se dividem em três tipos principais usados no Brasil: os de 20 pés, os de 40 pés e os do tipo HC (“High Cube”, ou “alta cubicagem”, em português). Os containers do tipo HC acabam sendo muito usados, porque são os que possuem pé-direito mais alto. “Eu dou preferência para o modelo HC sempre que posso. Eu não construo, por exemplo, ambientes de longa permanência com os containers do tipo reefer, porque o material usado para fazer o isolamento térmico deles pode, em casos de incêndio, intoxicar pessoas. Por isso, não recomendo o seu uso para fazer dormitórios e quartos”, explica Danilo.

Todos estes tipos de containers chegam ao Brasil após terem transportado cargas (geralmente da China) para o país. Vem daí um dos aspectos sustentáveis do seu uso em construção, que reutiliza um material que já cumpriu sua função inicial. Para adquirir um, é necessário entrar em contato com a empresa dona daquele container ou utilizar empresas que os revendem (existe também a plataforma Easy Container, que localiza as estruturas à venda mais próximas). E é importante usar estes canais oficiais e seguir todo o processo legal de aquisição, alerta Lula Gouveia. “Nunca compre um container barato demais e sem registros, porque muitos podem ser provenientes de roubo de cargas. Além disso, quando você compra por vias registradas e autorizadas, você está adquirindo um produto que já passou por um processo de descontaminação”.

Quando vale a pena e quando não é indicado usar containers?

“O container é uma caixinha muito resistente, mas é uma caixinha com 2,40 m de largura. Então tudo o que você conseguir fazer dentro dessas dimensões, você pode usar container. Um escritório, por exemplo, cabe bem como um projeto de container. É uma opção que funciona muito bem, desde que respeitada essa estrutura dele”, explica Gouveia. “Mas o container é péssimo para criar grandes espaços. Se você quer criar um salão de 50 metros, por exemplo, esquece. Quanto mais você recortar o container, mais estará saindo do ótimo, porque você vai precisar criar reforços para a estrutura”.

Quais as principais vantagens de construir com container?

Sustentabilidade e menor tempo de obras são dois pontos fortes a favor do uso dos containers. “É um método muito sustentável porque reaproveitamos um material que já foi usado, ou seja, que já teve o impacto no meio ambiente para transportar mercadorias pelo mundo. Em segundo lugar, quando uso o container, eu deixo de usar tijolo, areia, cimento, e água. Se eu não uso tijolo, não preciso fazer a queima dos tijolos, então deixo de usar carvão, consequentemente preservo as florestas. E, junto a isso, sempre procuro utilizar produtos de baixo impacto nos projetos em container, e isso dá uma amplificada nesse aspecto de sustentabilidade, que é o que buscamos”, diz Danilo.

Quanto ao tempo de obras, o profissional afirma que uma casa em container pode ser feita em metade do tempo de uma casa de alvenaria comum. “Mas também podemos fazer em menos tempo ainda. Costumo dizer que um terço do tempo [que levaria para uma casa tradicional] é uma marca que atingimos com uma certa frequência”.

É preciso fazer algum tratamento térmico ou acústico?

Sim. Em geral, usa-se algum tipo de forração para oferecer mais conforto térmico e sonoro dentro do container. Mas, ressalta Danilo, muitas das boas práticas de arquitetura usadas em projetos convencionais já resolvem questões de barulho e temperatura nos containers. Para criar um ambiente com temperatura agradável, que não dependa de ar-condicionados, Danilo cita o uso de diversas técnicas como telhado verde, cobogós e uso de cores que refletem a luz solar. “Eu levo em consideração, no terreno, os locais onde mais bate Sol, levo em consideração as cores que mais refletem a luz solar, e tento criar uma ventilação cruzada como forma de refrescar o ambiente. Também posso usar cobogós, telhado verde, telhas brancas, e paisagismo para sombrear a construção. A gente não se atenta simplesmente às mantas usadas no isolamento”, diz.

Também pode ser usada a técnica conhecida como “efeito chaminé”, quando o profissional faz um furo na parte superior da estrutura para que o ar quente possa sair e, dessa forma, refresque o ambiente.

Sobre o tratamento acústico, o raciocínio é semelhante. É necessário usar algum revestimento ou forro para minimizar o eco, mas também entram em cena recursos como disposição dos ambientes (para que as áreas íntimas sejam mais silenciosas), uso planejado de mobiliário para absorver os ruídos e o uso de paredes duplas. Combinando os tratamentos a essas técnicas, é possível isolar sonoramente o container quase que por completo de barulhos externos, caso o cliente deseje, mas tudo depende do projeto.

Quanto custa construir uma casa container?

“Atualmente, você pode comprar um container por volta dos R$ 6 a R$ 10 mil. Eu diria que um projeto todo em container gira em torno de R$ 10 mil, podendo chegar a R$ 20 mil se você quiser algo com muitos recursos. Mas existem diversos truques, e a boa arquitetura pode fazer esse dinheiro valer muito mais sem implicar em um custo maior”, diz Lula Gouveia.

Segundo Danilo Corbas, uma construção em container tem um preço 20% a 25% menor do que uma construção comum em alvenaria. Isso porque toda (ou ao menos boa parte) da estrutura do imóvel já vem praticamente pronta ao adquirir um container.

Já Gouveia ressalta que a ideia do container como uma opção de construção barata nem sempre se concretiza, dependendo do projeto. A alta do dólar também influencia, já que os containers (que vêm em quase sua totalidade da China) acabam ficando mais caros. “O container pode ser econômico se for bem utilizado na situação correta, mas ele tem que ser uma ferramenta de trabalho, e não o objetivo final. Caso contrário, você corre o risco de usá-lo apenas como ‘modinha’ e cair em um discurso vazio”. E ainda pagar mais caro por isso, vale dizer.

Regularização

O processo para regularizar uma casa com container é o mesmo processo usado para registrar casas comuns. Os municípios brasileiros, quase em sua totalidade, hoje entendem que esta é apenas uma técnica diferente de construção. Então, após obter aprovação da prefeitura, basta pagar o IPTU e os demais impostos em dia. Mas atenção: caso você esteja pensando em transportar a sua casa container para outro município, será necessário obter uma nova autorização, pois cada legislação municipal é diferente.

Fonte: Casa Vogue