Como a arquitetura pode ajudar nas novas relações com a casa
O mundo e a conjuntura atual impuseram novas funções para a casa por conta do isolamento social causado pela pandemia da Covid-19
Se há quase um ano alguém contasse que o mundo passaria por uma pandemia provocada por um vírus e a população tivesse que viver em isolamento social, ninguém acreditaria ou, quem sabe, ligaria a história a um bom argumento de filme. O fato é que estamos vivendo essa situação provocada pela Covid-19 e, mesmo quando for amenizada por descobertas de vacinas eficientes, a vida não será a mesma de imediato.
Afinal, a cada dia, estamos nos adaptando ao “novo normal”, com hábitos diferentes e ressignificação da casa, dos objetos e dos relacionamentos. Fácil não é, mas, segundo especialistas, é um momento para rever conceitos e prestar atenção naquilo que é essencial. Um verdadeiro mergulho em si mesmo e no seu mundo, que neste momento se resume à sua casa.
Porém, as moradas não foram pensadas para cumprir as funções e os desejos que temos fora dela, como trabalho, escola, academia, amigos, lazer e por aí vai. É uma nova maneira de viver e um grande desafio de encaixar isso tudo em um mesmo espaço, principalmente quando envolve várias pessoas da família.
“O interessante dessa mudança é descobrir que é possível viver com menos em todos os setores da vida. Tenho esperança que se criem novas visões, como compartilhar e ter uma nova consciência sobre consumo e espaços mais saudáveis”, diz a arquiteta Sabrina Wernicke, de São Paulo.
Para isso, ela acredita que a arquitetura pode ajudar e muito. “Separar os momentos coletivos da privacidade individual, criar cantos de lazer dentro de casa, saber manter a produtividade no trabalho em home office ou até mesmo desenvolver habilidades e passatempos adormecidos pela falta de tempo, podem ser solucionados com melhorias no âmbito da arquitetura e da reorganização de espaços”, diz.
Essa relação com o lar pode ser ainda mais impactante do que se imagina. O psicoterapeuta e professor Leo Fraiman, de São Paulo, autor do livro “O que é a síndrome do imperador”, entre outros, cita como grande aliado no momento o “sentido da vida” – objeto da logoterapia, uma abordagem psicoterapêutica criada pelo psiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl.
“O ser humano precisa desse sentido. E a forma como sente a vida depende também de como cuida da casa”, analisa. “Sabe aquela rachadura na parede, a cama desarrumada o dia inteiro, o jogo de panela amassado e sujo? Tudo isso pode impactar negativamente na autoestima e no estresse”, diz.
Segundo ele, há evidências de que cuidar, limpar, perfumar e colorir a casa traz benefícios para a saúde mental. Então, a dica é redobrar os cuidados com limpeza, organização e beleza da morada, como um ato de amor próprio.