Permeabilidade na arquitetura: 20 projetos que reinterpretam os tradicionais muxarabis

Frequentemente, existe uma relação intrincada entre a arquitetura e o ambiente. Cada parte do mundo definiu suas próprias técnicas arquitetônicas com base em suas condições climáticas únicas. No entanto, as preocupações ambientais no século 21 provocaram novas técnicas, implementando soluções para preservar os recursos naturais e proporcionar conforto térmico. Enquanto alguns optaram por uma abordagem futurista com soluções mecânicas e tecnologicamente avançadas, outros decidiram voltar no tempo e explorar como as civilizações protegiam seu povo, arquitetura e meio ambiente quando não tinham mais nada a que recorrer a não ser o próprio meio natural.

O clima da região mediterrânea é caracterizado por um clima quente e muitas vezes seco devido ao fato de ser cercado por desertos, seja o Saara no norte da África, ou o deserto no Golfo da Arábia. Naturalmente, as estruturas nos tempos antigos não eram equipadas com sistemas de ventilação mecânica, por isso foram projetadas para lidar com as condições naturais e otimizar o conforto térmico interno com base nos recursos naturais. O Musharrabiya, também conhecido como Mashrabiya, ou muxarabi, foi introduzido pela primeira vez nas regiões árabes do Oriente Médio e Norte da África. Acredita-se que seu nome tenha derivado da palavra árabe “Sharab” que se traduz por “beber”, devido ao fato de Musharrabiya se referir a um local fresco e sombreado onde se pode beber água de uma panela de barro. Outros acreditam que a palavra foi derivada de “Mashrafiya”, que se traduz como “um local de observação”, razão pela qual era frequentemente associada a uma pequena sacada de madeira protuberante nas casas.

Cortesia de Wikimedia
Cortesia de Wikimedia

O muxarabi foi implementado pela primeira vez como um elemento arquitetônico tradicional que cobre aberturas e janelas não apenas para fins térmicos, mas também por motivos culturais. Por definição, é uma tela perfurada feita de madeira, argila ou pedra, que regula a luz, o calor, a ventilação e a umidade e cria um espaço de privacidade não muito obscuro. A privacidade foi um fator muito importante, pois é um dos principais valores distintivos do Islã. Seus padrões de perfuração foram derivados de padrões e motivos islâmicos, e cada padrão serviu exclusivamente a um propósito específico; projetos detalhados foram usados para espaços que exigiam mais privacidade, enquanto grandes formas geométricas eram usadas para espaços públicos que precisavam de maior fluxo de ar e luz. O muxarabi se tornou um excelente exemplo de como a estética e as funções podem andar de mãos dadas.

Maison A / Nghia-Architect. Image © Nghia-Architect
Maison A / Nghia-Architect. Image © Nghia-Architect

Embora o muxarabi seja de origem árabe, foi usada no Brasil durante a colonização portuguesa. Sua aplicação tem diminuído ao longo dos anos com o surgimento de novos recursos de filtração solar, mas ainda é possível encontrar projetos contemporâneos no país e no mundo que utilizem o elemento arquitetônico. No entanto, os muxarabi foram reinventados para atender aos requisitos modernos, pois são considerados um recurso caro em termos de fabricação e manutenção. A privacidade também não é mais um fator crucial, uma vez que a própria arquitetura agora é construída para fornecê-la. Independentemente disso, o muxarabi testemunhou uma evolução própria em termos de forma e materiais, adaptando-se às exigências arquitetônicas do século XXI.

Maison A / Nghia-Architect. Image © Nghia-Architect
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Elementos de Fachada

Como afirmado anteriormente, a arquitetura islâmica foi caracterizada pela preservação da privacidade. Os muxarabis eram usados para bloquear a visão de vizinhos ou pessoas que andavam na rua e impedi-los de olhar através do que está além das paredes perfuradas. Em países onde as condições climáticas eram extremas, as fachadas foram construídas inteiramente como muxarabis para permitir o fluxo de ar natural e a difusão de luz dentro de todos os espaços do edifício e manter a privacidade dos residentes. Os materiais mais comuns usados foram argila, tijolo e pedra.

House for a Daughter / Khuon Studio

House for a Daughter / Khuon Studio. Image © Hiroyuki Oki
House for a Daughter / Khuon Studio. Image © Hiroyuki Oki

Museu Yves Saint Laurent Marrakech / Studio KO

Museu Yves Saint Laurent Marrakech / Studio KO / Studio KO. Image © Dan Glasser
Museu Yves Saint Laurent Marrakech / Studio KO / Studio KO. Image © Dan Glasser

Casa Bat Trang / VTN Architects

Casa Bat Trang / VTN Architects Image © Hiroyuki Oki
Casa Bat Trang / VTN Architects Image © Hiroyuki Oki

Sengal House / Play/ Saketh Singh

Sengal House / Play/ Saketh Singh. Image © Nancy Peter, Jaya Sriram
Sengal House / Play/ Saketh Singh. Image © Nancy Peter, Jaya Sriram

Maison A / Nghia-Architect

Maison A / Nghia-Architect. Image © Tuan Nghia Nguyen
Maison A / Nghia-Architect. Image © Tuan Nghia Nguyen

Telas e divisórias externas

Embora os muxarabis fossem considerados dispositivos que separam visualmente espaços públicos e privados, as pessoas muitas vezes queriam mais luz ou abertura em certas áreas de seus espaços, então eles instalaram telas de muxarabi que podem ser movidas ou abertas para dar ao usuário a capacidade de ajustar de acordo com seu ou suas próprias necessidades. O material mais utilizado para as telas é a madeira, por ser leve e de fácil manuseio.

Reforma Residencial / Sudaiva Studio

Reforma Residencial / Sudaiva Studio. Image © Geeth Gopinath
Reforma Residencial / Sudaiva Studio. Image © Geeth Gopinath

Residência Cave Canem / Juliano Barros Arquiteto

Residência Cave Canem / Juliano Barros Arquiteto. Image © Juliano Barros
Residência Cave Canem / Juliano Barros Arquiteto. Image © Juliano Barros

Casa FVB / Claudia Haguiara Arquitetura

Casa FVB / Claudia Haguiara Arquitetura. Image © Christian Maldonado
Casa FVB / Claudia Haguiara Arquitetura. Image © Christian Maldonado

Divisórias Internas

Em termos de divisórias interiores, os muxarabis foram instalados como uma intervenção suave que não é muito imponente ou perturbadora para o espaço, abrindo dois espaços juntos, mantendo seus respectivos limites. Além de serem funcionais, também agregaram um sentido decorativo ao espaço interno. Dependendo do conceito de projeto, as divisórias internas costumavam ser feitas de madeira e argila, limitando o peso que era imposto aos pisos.

Casa da Tranquilidade / Tal Goldsmith Fish Design Studio

Casa da Tranquilidade / Tal Goldsmith Fish Design Studio. Image © Gif
Casa da Tranquilidade / Tal Goldsmith Fish Design Studio. Image © Gif

Mesquita Prefeito Mohammad Hanif Jame / Shatotto

Mesquita Prefeito Mohammad Hanif Jame / Shatotto. Image © Mike Kelley, Will Scott
Mesquita Prefeito Mohammad Hanif Jame / Shatotto. Image © Mike Kelley, Will Scott

Loja TerraMater / RENESA Architecture Design Interiors Studio

Loja TerraMater / RENESA Architecture Design Interiors Studio. Image © Niveditaa Gupta
Loja TerraMater / RENESA Architecture Design Interiors Studio. Image © Niveditaa Gupta

Novos Materiais

O século XXI assistiu ao aumento das torres envidraçadas de grande altura, o que dificultou a implementação dos muxarabis tradicionais devido ao seu custo de fabricação e manutenção, bem como à eficiência nestas tipologias arquitetônicas. No entanto, estes edifícios exigiam uma solução económica e eficiente para evitar os elevados gastos com consumo de energia, razão pela qual os arquitetos decidiram regressar às técnicas históricas, mas num contexto modernizado. A fabricação digital permitiu que os arquitetos recriassem o tradicional muxarabi como um substituto para as fachadas totalmente de vidro. Diversos projetos adotaram o elemento arquitetônico tradicional como camada integrada do sistema de fachada do edifício, para valorizar suas funções e estética.

The Coral Villa / HUNI Architectes

The Coral Villa / HUNI Architectes. Image © Princestudio
The Coral Villa / HUNI Architectes. Image © Princestudio

Villa Z / ARK-architecture

Villa Z / ARK-architecture. Image © Bilel Khemakhem
Villa Z / ARK-architecture. Image © Bilel Khemakhem

Louvre Abu Dhabi / Ateliers Jean Nouvel

Louvre Abu Dhabi / Ateliers Jean Nouvel. Image © Roland Halbe
Louvre Abu Dhabi / Ateliers Jean Nouvel. Image © Roland Halbe
Fonte: ArchDaily