Por que a arquitetura brutalista é tão mal compreendida?

Professoras explicam que as linhas utilizadas no estilo podem causar a sensação de estranhamento. Por outro lado, esses traços podem ser vistos como uma arquitetura honesta, que não esconde as suas estruturas

Por diferentes razões, os estilos arquitetônicos contam com admiradores e também com pessoas que não se agradam por determinada estética. Entretanto, a singularidade da arquitetura brutalista gera controvérsias devido ao aspecto de obra inacabada. Com surgimento marcado pela recuperação da Europa após a 2ª Guerra Mundial, esse estilo prioriza o uso dos materiais em seu estado natural, sem revestimento.

Por que a arquitetura brutalista pode ser mal compreendida? (Foto: @alvesdocarmogustavo)
O edifício do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi projetado pelo arquiteto franco-brasileiro Affonso Eduardo Reidy (Foto: Reprodução/ Instagram/ @alvesdocarmogustavo)

“Observa-se também um gosto especial pelo emprego do concreto. Por isso, o efeito que ela nos causa pode ser diferente para cada observador. Para algumas pessoas, ela dá a sensação de uma arquitetura honesta, que não esconde as suas estruturas”, explica Caroline Ganzert Afonso, professora de Teoria e História da Arquitetura e de Restauro e Conservação. Ela também é mestre em tecnologia, na área de patrimônio, e doutoranda em Geografia, na área de paisagem cultural.

Por que a arquitetura brutalista pode ser mal compreendida? (Foto: Reprodução / Instagram / @sputnik__57)
O Sesc Pompeia, em São Paulo, é uma das obras de Lina Bo Bardi (Foto: Reprodução / Instagram / @sputnik__57)

Segundo a professora, o impacto desfavorável que o brutalismo pode causar também está relacionado às linhas pontiagudas nas construções, que remetem à agressividade. “Outro ponto que devemos citar é o fato de as obras, em geral, serem de grande porte, como edificações institucionais, prefeituras, edifícios corporativos e prédios destinados ao ensino, por exemplo”, afirma.

No Brasil, o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) são alguns dos exemplos desse estilo. Já no exterior, algumas construções brutalistas são: a Biblioteca Nacional Mariano Moreno, na Argentina; o Edifício Genaro Valverde Marín, na Costa Rica; o Complexo Habitat 67, no Canadá e a Biblioteca da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.

Por que a arquitetura brutalista pode ser mal compreendida? (Foto: Reprodução / Instagram / @rpfigueiredo)
O edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo conta com projeto realizado por João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Foto: Reprodução / Instagram / @rpfigueiredo)

Para Tarsila Miyazato, arquiteta, urbanista e professora universitária pela Universidade Cruzeiro do Sul, a arquitetura brutalista é mal compreendida, pois há pessoas que assumem que uma arquitetura bela deve possuir os elementos clássicos, do período da Antiguidade Grega e Romana, tais como: simetria e proporções rigorosas, a utilização de materiais nobres (como mármore e granito) e o equilíbrio perfeito entre as formas de uma construção, tornando-se um símbolo de poder e sofisticação. “Com a ausência desses itens, pode haver certo estranhamento por parte do observador”, afirma.

Por que a arquitetura brutalista pode ser mal compreendida? (Foto: Getty Images)
Localizada em Buenos Aires, a Biblioteca Nacional Mariano Moreno foi projetada pelos arquitetos Clorindo Testa, Francisco Bullrich e Alicia Cazzaniga (Foto: Getty Images)
Fonte: Casa Vogue