Quanto custa uma casa modular? Como é feita a construção que já vem pronta
O modelo tem forte apelo sustentável e oferece vantagens como melhor controle do orçamento e menos “surpresas” durante a obra
Ainda pouco conhecidas no Brasil, as casas modulares são uma opção para quem quer uma obra mais rápida e com menos imprevistos. Com modelos pré-definidos e sistemas pré-fabricados, elas chegam prontas e são, literalmente, “montadas” no terreno, reduzindo o retrabalho e diminuindo em até 50% o tempo de construção, segundo dados da consultoria Mckinsey.
“Uma das grandes vantagens é ‘levar’ o canteiro de obra para um ambiente controlado de fábrica. Faça chuva ou sol, teremos controle do que estamos fazendo, tornando o processo de construção muito mais ágil, eficiente e menos sujeito a interferências externas”, fala Eduardo Pires Neto, sócio de Thiago Santana Maurelio na Muda Prefab, empresa especialista neste tipo de construção.
As estruturas pré-fabricadas podem ser feitas de perfis de aço (Steel Frame) ou de madeira (Wood Frame e MLC – madeira laminada colada), e incluem instalações elétricas, hidráulicas, de gás e climatização feitas por dentro do piso, da parede e do teto, como nas construções tradicionais.
“Como é uma construção seca, o uso de água é praticamente nulo durante a montagem da casa, além de termos um menor desperdício de materiais e preocupação de utilizar materiais de fontes renováveis ou recicladas”, comenta Breno Lima, arquiteto e urbanista, especialista em construções industrializadas.
Sustentabilidade
Em uma época onde tanto se fala e pensa na questão ambiental, um dos principais apelos das casas modulares é exatamente esse: a sustentabilidade. A construção civil é uma indústria altamente poluente – estima-se que ela seja responsável por 10% da emissões anuais globais de gases do efeito estufa, segundo reportagem do jornal The Economist –, e os modelos pré-fabricados podem ajudar reverter esse cenário.
Como todos os elementos e a estrutura são feitos em fábrica, o modelo gera bem menos resíduos e usa os materiais com mais critério. “Também vale citar a questão da qualidade de uma casa que utiliza de métodos de construção a seco. Fatores como impermeabilização, isolamento termoacústico e vedações adotam normas de desempenho e contribuem para um produto final mais eficiente”, explica Eduardo.
Todo o processo demanda mão de obra especializada e um projeto extremamente bem detalhado. “Ele é como um mapa de montagem para a casa e, no caso de construções modulares, é essencial, porque cada detalhe da obra deve ser previsto com antecedência para que tudo corra bem. Muitas vezes, o projeto leva mais tempo que a execução, garantindo que haverá um maior rendimento de material e todas as peças se encaixarão”, explica o arquiteto.
Lucas Bonfogo, gerente técnico da Decorlit, empresa que trabalha com soluções construtivas a seco, conta que, feitas as fundações, o tempo para construir uma casa modular é muito menor do que as inúmeras horas gastas para fazer imóvel de alvenaria do zero. “Em geral, é possível erguer uma casa modular em até 5 dias, já que a montagem consiste, basicamente, na instalação de estruturas previamente fabricadas em ambiente industrial”, destaca.
Mas, afinal, quanto custa uma casa modular?
Apesar das inúmeras vantagens, a casa modular no Brasil ainda é mais cara do que as tradicionais de alvenaria. O custo esbarra na pouca demanda, que torna esse tipo de construção pouco escalável. “Como é um modelo pensado em repetição e otimização de peças e processos, começa-se a ter um ganho quando temos não apenas uma casa de determinado modelo para montar, mas sim 30, 50, 100 ou 1000”, avalia Eduardo.
Enquanto uma construção de alvenaria sai entre R$ 2.000 o m² e R$ 15.000 o m², uma opção modular custa entre R$ 1.800 e R$ 7.000 o m². Nos dois casos, o valor dependerá do tamanho, dos materiais usados, dos acabamentos, das instalações e da região do Brasil, entre outros custos variáveis.
A diferença é que na opção pré-fabricada, estes valores não incluem itens que na tradicional já fazem parte, como preparação do terreno e fundações, e outros inexistentes, como o – literalmente – transporte da casa da fábrica para o local de instalação, um dos pontos mais caros do orçamento por conta da precariedade do sistema viário nacional. Segundo Lucas, o frete gira em torno de R$ 20 por quilômetro – mas pode ser bem maior em regiões mais remotas ou de difícil acesso.
Breno dá um exemplo mais realista: “Uma casa com estrutura, acabamentos (médio padrão), elétrica, hidráulica, esquadrias e fundação, com aproximadamente 90 m² (1 suíte, 2 quartos, banheiro, lavanderia, cozinha, sala de estar e sala de jantar) térrea, custará a partir de R$ 360 mil + frete”, diz.
Vantagens do modelo
Apesar de ser mais cara inicialmente, a casa modular ainda apresenta vantagens que tornam o modelo uma alternativa a ser considerada. Além da já citada sustentabilidade, em uma casa pré-fabricada, o orçamento total da construção é mais previsível. Como o modelo é pré-definido e não há margem para erros, é difícil aparecerem problemas e custos de última hora, como em obras comuns.
“A construção tradicional é arcaica, tudo é feito de forma muito artesanal. Com a industrialização você otimiza tempo, ganha em produtividade, sem estourar orçamentos. Toda a montagem é pensada em milímetros, evitando que ocorra problemas com medidas e todos os encaixes funcionam perfeitamente”, comenta Breno.
Uma casa modular também rende uma economia no longo prazo, devido ao seu modelo flexível de construção, onde é possível fazer reformas e futuras alterações na planta de forma mais prática e fácil. “Isso tudo é possível graças a padronização dos módulos. Ela se adequa às suas necessidades, e a expansão é feita de forma ordenada. Diferente da alvenaria, não deixa com ‘cara de puxadinho'”, fala o arquiteto.
Eduardo finaliza: “As pessoas precisam entender o que uma construção entrega e também que a localização geográfica no nosso país impacta bastante no preço da construção. O outro ponto a ser considerado é a dor de cabeça da construção tradicional, que acaba dando muito mais trabalho para o cliente”.