BIM: processos e sistemas construtivos em realidade construída
Com o BIM é possível a pré-construção em modelo 3D, incluindo as etapas de concepção, construção e pós-obra, simulando diversos aspectos do projeto.
Apesar de ainda não ter seu uso normatizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o BIM (Building Information Modeling, no inglês, e Modelagem de Informações da Construção, em português) vai se popularizando no país. Na capital paulista, 40% dos escritórios de arquitetura e de engenharia estrutural já trabalham integrados ao BIM.
BIM na prática
O BIM é uma representação digital 3D do processo de construção, que facilita a troca e a interoperabilidade de informações sobre projetos e obras em andamento. É possível fazer uma “pré-construção” em modelo 3D composto por todas as disciplinas envolvidas em sistemas e processos construtivos, simulando diversos aspectos da obra, antes mesmo do início da execução.
O modelador auxilia a detectar e solucionar problemas previamente, para melhor a tomada de decisões gerenciais. Comporta, ainda, a inserção de informações e requisitos de normas técnicas de desempenho referentes a cada material, e suas possíveis aplicações em canteiros.
O uso do BIM vai desde a concepção do projeto (softwares para desenvolvimento da arquitetura, estruturas, instalações, orçamento e gerenciamento de obras), até o final da vida útil da edificação, ou a sua demolição.
A manutenção de edifícios também é muito facilitada no pós-obra. Requisitos de desempenho e sustentabilidade podem ser inseridos nos modelos criados. Todas as informações do projeto, as built, ficam incorporadas ao modelador.
Como o sistema funciona?
Segundo o professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Eduardo Toledo Santos, “entre os muitos interessados, a maioria ainda não entende bem o processo, que, basicamente, reúne informações de diversos softwares num lugar só”, explica.
Em projetos de arquitetura, Revit, ArchiCAD, AECOsim e Vectorworks são os programas mais viáveis, com resultado final semelhante, sendo praticamente impossível observar qualquer diferença prática nas respectivas impressões.
Já para projetos de engenharia, Revit Structure, Scia Engineer, Tekla Structures e o TQS-CAD costumam ser os mais indicados. Softwares mais específicos, como o GerPrE (da TQS-Planear, em parceria com a TQS Informática) também podem ser apropriados.
Este último, organiza, integra e simplifica o fluxo de informações gerado durante a execução de estruturas de concreto. “Ele calcula a quantidade de insumo necessário para a execução de um pavimento ou laje”, ressalta Eduardo Toledo. O sistema facilita não só a coleta de informações pelos projetistas, mas a visualização e entendimento de aspectos do projeto por meio de desenhos em 3D.
Para a coordenação dos projetos, programas como o Solibri e o NavisWorks surgem como ferramentas recomendadas. “Reúnem em uma só apresentação todas as informações geradas por outros softwares de projeto. Eles também identificam possíveis interferências, como a presença de tubulação em área indevida, alertando ao problema”, esclarece Santos.
O professor lembra que a correção do projeto deverá ser feita pelo próprio projetista. “Tudo é salvo no servidor BIM, normalmente em rede, para que os envolvidos no projeto possam consultar o documento atualizado”.
Qualificação fundamental
Apesar de eficiente, o BIM não faz milagres. O sistema requer trabalho intelectual para fazer a diferença, pois não há software que substitua um arquiteto ou engenheiro qualificado. Por outro lado, os prazos necessários são maiores. Para desenvolver a partir de uma ferramenta mais complexa e completa, mais tempo de trabalho será ocupado.
O BIM viabiliza a concepção de projetos tridimensionais e facilita sua execução. Visto dentro de uma nova geração de ferramentas CAD, “um projeto resultante de BIM não pode ser comparado aos demais.
Nele, a informação gráfica e não gráfica é muito maior. Reúne dados do ciclo de vida do edifício, definições, métodos de trabalho, práticas de projeto, de construção e de operação”, define Kimura.
Ele processa, ao mesmo tempo, dados geométricos, dimensões espaciais, sobre mão de obra, tipologia de materiais e custos, tudo calculado e detalhado. Segundo o professor da USP, não há um preço único para implantar o método: “O consultor precisa, antes, identificar as necessidades da empresa, quantos e quais softwares ela precisará, e se a mesma possui computadores com memória apropriada para isso”.
O BIM vem se consolidando como uma revolução na construção civil por oferecer novas funcionalidades na execução das obras, e por romper com paradigmas de produtividade nessa atividade econômica.