Como o plástico foi parar na rotina doméstica e na construção civil

No início, o plástico era empregado em instalações, mas, com o passar do tempo, o material ganhou visibilidade e assumiu o protagonismo do décor

Matéria-prima versátil, o plástico tem sua origem creditada a vários inventores que, desde o século 17, buscavam um material durável e resistente. O item sintético veio a público da maneira que o conhecemos, inserido na rotina doméstica, no começo de 1900. Jacques Brandenberger, químico francês, teve a ideia de substituir as toalhas de mesa por uma capa plástica capaz de facilitar a limpeza e a higienização e batizou a criação de celofane. “Os materiais plásticos estão presentes na arquitetura desde o fim do século 19 e início do século 20. De lá para cá, seu uso só aumentou”, afirma a arquiteta e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Juliana Suzuki.

Segundo Suzuki, a disseminação dos plásticos está relacionada à crescente industrialização da construção no século passado, sobretudo, em função das duas grandes guerras mundiais, cujas destruições resultaram na urgência da retomada dos processos construtivos com rapidez e, é claro, baixo custo. Os materiais plásticos responderam a essa demanda com muita eficiência.

No início, o plástico era empregado em instalações, como tubos e encanamentos, ocultos aos olhos dos moradores. Mas, com o passar do tempo, o material ganhou visibilidade e assumiu o protagonismo do décor. “Todos se lembram dos revestimentos de cores vivas e brilhantes que caracterizaram a decoração e o design de mobiliário entre as décadas de 1950 a 1980”, recorda Juliana.

No início, o plástico era empregado em instalações, como tubos e encanamentos, ocultos aos olhos dos moradores (Foto: Pexels / Pixabay / CreativeCommons)
No início, o plástico era empregado em instalações, como tubos e encanamentos, ocultos aos olhos dos moradores (Foto: Pexels / Pixabay / CreativeCommons)

Porém, à época que foi criado, a preocupação ambiental não estava em pauta, e a produção desenfreada do material “quase imortal” levou à situação na qual o planeta se encontra hoje. Segundo uma pesquisa realizada em outubro de 2020 pela agência científica australiana CSIRO Oceans and Atmosphere, estima-se que há 14 milhões de toneladas de plástico no fundo dos oceanos. E não para por aí: a fundação alemã Heinrich Böll produziu um relatório no fim do ano passado apontando que até 2025 a Terra pode ter um aumento de 50% na produção de plástico.

a fundação alemã Heinrich Böll produziu um relatório no fim do ano passado apontando que até 2025 a Terra pode ter um aumento de 50% na produção de plástico. Foto de lixão na Indonésia (Foto: Pexels / Tom Fisk / CreativeCommons)
a fundação alemã Heinrich Böll produziu um relatório no fim do ano passado apontando que até 2025 a Terra pode ter um aumento de 50% na produção de plástico. Foto de lixão na Indonésia (Foto: Pexels / Tom Fisk / CreativeCommons)

De acordo com um relatório da WWF, o Brasil está em 4º lugar no ranking dos países que mais produzem resíduo plástico. São geradas cerca de 11,3 milhões de toneladas de lixo proveniente do material sintético por ano. Em média, o brasileiro produz um quilo por semana. “Considerando que somos 212 milhões, segundo dados do IBGE, são 212 milhões de quilos por semana e mais de 11 bilhões de quilos por ano. A média global de reciclagem de plásticos é de 9%, mas no Brasil é de 1,28%, muito abaixo dos índices dos grandes poluidores, como EUA e China. Algumas pesquisas apontam que 40% do plástico produzido se torna lixo em menos de um mês, e a reciclagem é a segunda opção para reduzi-la. A primeira é não produzir tanto plástico”, explica Darlan Firmato, arquiteto e gestor de sustentabilidade da mostra de decoração CASACOR.

Futuro sem plástico (Foto: Ilustração Helton Taveira / Editora Globo)
Futuro sem plástico (Foto: Ilustração Helton Taveira / Editora Globo)

Além da poluição, o material é responsável não só pelos malefícios ao meio ambiente, como também ao próprio ser humano. “O plástico nunca vai embora. Ele é um material feito para durar para sempre, mas 33% de todos os plásticos — garrafas de água, sacolas e canudinhos — são usados apenas uma vez e jogados fora. E esse lixo acaba em nossos rios e no oceano. Já existem até ilhas de lixo plástico. Sem contar que o plástico não é biodegradável; ele se divide em pedaços cada vez menores, os famosos microplásticos, que ameaçam ainda mais os seres humanos”, informa Lori Vargas, cofundadora da Mapeei, primeiro espaço zero desperdício e zero plástico do país.

Fonte: Casa & Jardim