Construção aplica técnicas de uso eficiente de recursos

Numa das áreas com maior consumo de água, novas técnicas estão minimizando o uso do recurso natural, ao mesmo tempo em que reduz o consumo de energia elétrica. Trata-se do processo construtivo com o uso de painéis termoisolantes.

Relativamente nova no Brasil, a técnica se dá por meio da montagem, de forma semelhante à construção de blocos de lego, podendo ser usadas em residências, supermercados, shoppings ou aeroportos. Os painéis são formados por duas chapas, que contêm poliuretano em seu meio, o que garante o isolamento da temperatura. “Quando mais se isola, menor é o gasto de energia”, diz o diretor da Dow Chemical, Marcelo Fiszner.

Segundo ele, na América Latina o uso de isolamento é muito incipiente, frente a outros países, como os do hemisfério Norte, como Estados Unidos e Europa. “No Brasil, não temos a necessidade calefação, mas temos temperaturas muito quentes, que faz com que se use por um longo tempo o ar-condicionado”, diz.

Entre as vantagens da técnica está a possibilidade de não usar água no processo. Como as peças são modulares, acabam sendo produzidas nas fábricas sob medida ao espaço em que será instalada. Assim há uma otimização do espaço no canteiro obra e, consequentemente, dos resíduos na obra.

Em termos de trabalhadores, pode ocorrer uma redução de 12 pessoas, pelos métodos convencionais, para quatro com os painéis. Já em termos de tempo, pode ocorrer uma redução em até 50% frente às formas tradicionais.

Conforme dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), compilados pela Dow, a utilização de painéis de poliuretano na construção civil pode reduzir o consumo de energia em 5% num escritório, em 15% num edifício e em 21% no caso de um galpão industrial. Para se ter a mesma eficiência térmica de um painel de 50 milímetros (mm) de poliuretano são necessários 600 mm de espessura de tijolo, 300 mm de fibrocimento e 70 mm de isopor.

Comercial

Uma das principais aplicações dos painéis é na área comercial. Segundo o diretor de desenvolvimento e relações com o mercado da Isoeste, Sérgio Bandeira de Mattos, o uso dos painéis com poliuretano numa fachada ou cobertura de um supermercado, por exemplo, pode gerar uma queda de 55% na carga térmica, em relação às obras com blocos de concreto e telhado convencionais – como de amianto, ferro ou aço, sem isolamento. “Com menos uso de carga térmica, se reduz o consumo de energia”, destaca o executivo da Isoeste, que constrói os painéis.

De acordo com Mattos, a empresa já preparou a cobertura de mais de 80 shoppings, além de supermercados e de várias indústrias, com destaque para a de alimentos, que necessita manter baixas temperaturas nas plantas.

Mas um dos destaques recentes da Isoeste foi a utilização dos painéis na construção do novo terminal de passageiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, Governador André Franco Montoro, localizado Guarulhos (SP).

Outra empresa que opera com painéis termoisolantes é a DânicaZipco. O presidente da companhia, Pablo Ibanez, explica que a técnica foi utilizada na montagem do canteiro de obras para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

“Montar toda uma estrutura para abrigar os trabalhadores de forma convencional seria muito arriscada. Com os painéis conseguimos um custo menor, mais rapidez e eficiência”, complementa Ibanez.

Residencial

De acordo com Ibanez, a solução é importante também para a construção de unidades residenciais modulares. “A produção acaba sendo muito rápida, ideal para programadas habitacionais”, ressalta ele.

A Isoeste atua no programa Minha Casa Minha Vida. “Já fizemos a cobertura termoisolante de cerca de 10 mil habitações. Ainda é um número baixo, mas deve crescer”, conta Mattos. “Uma residência, mesmo sem ar-condicionado, pode ter uma redução entre 6 e 8 graus centigrados”, completa.

“Temos uma cultura construtiva baseada no concreto armado e uma mão de obra abundante e disponível”, avalia o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do sindicato da habitação de São Paulo (Secovi), Carlos Borges, em relação ao fato de não haver ainda uma disseminação do uso da técnica. Segundo ele, mesmo com o recente ciclo de crescimento, a mão de obra em relação a outros países seguia relativamente baixa.

No entanto, o executivo do Secovi projeta ser “uma questão de tempo” para que a técnica ganhe relevância, apoiada pela queda dos custos pelo aumento da escala.