Desastre em Miami: o que pode ter levado a estrutura do edifício ao colapso?

Recentemente, aconteceu mais um lamentável acidente de queda estrutural. Agora foi um edifício de apartamentos de temporada em Miami. Saiba mais!

Recentemente, foi amplamente divulgado pelos veículos de mídia que um prédio residencial em Miami ruiu, levando a uma série de prejuízos, que não se comparam com as vidas humanas perdidas.

Em situações como essa, as perguntas que brotam imediatamente são: quem é o responsável? Qual a causa do “acidente” em Miami? Houve negligência na manutenção? O projeto foi mal feito? Os materiais utilizados na construção foram adequados? Havia questões relevantes em relação ao tipo de solo? Houve algum tipo de recalque de apoio mais pronunciado?

Miami

O que se sabe até então sobre o caso de Miami?

Para entender o que pode ter ocorrido em Miami, é preciso conhecer o histórico de eventos da vida útil do edifício nos últimos anos.

1.Falha em piscina

Um fato extremamente relevante, é que há cerca de 3 anos, foi realizada uma inspeção no edifício, onde foram identificadas fissuras excessivas em lajes, vigas e pilares, na região da piscina. Foi apontada ainda uma falha no sistema de impermeabilização da piscina.

2.Obra nas proximidades

Soma-se a isso, o fato de haver uma obra nas proximidades do desastre de Miami: estava sendo construído um estacionamento, havendo movimentação de máquinas e possíveis escavações que podem ter correlação com o acidente.

3.Qualidade do projeto

Outro ponto importante: o edifício ruiu parcialmente. Isso dá indícios de que muito provavelmente, o problema não esteja relacionado à qualidade do projeto (isso é apenas uma hipótese, que, evidentemente, só pode ser confirmada consultando os projetos).

4.Localização

Há que se considerar ainda que o edifício encontra-se na orla da praia de Miami, região marítima e com ambiente agressivo do ponto de vista de corrosão do aço das armaduras. Isso é bastante relevante, pois a depender do tamanho das fissuras, a armadura fica exposta e sujeita à agressividade do meio, levando à corrosão das armaduras e sua falha estrutural.

Miami

O que pode ter ocorrido?

Quem projeta prédios ou qualquer outra edificação, independente do fim a que se destina, sabe que é fundamental um projeto de fundação adequado. Dependendo do tipo de solo, são previstos recalques (deslocamentos, afundamentos dos pontos de apoio) e a fundação é dimensionada considerando esses deslocamentos.

Reação das fundações

Como o solo pode apresentar características não homogêneas, regiões distintas podem apresentar comportamentos distintos, levando aos conhecidos recalques diferenciais, que ocorrem quando um apoio recalca mais que outro. Esse mecanismo gera distorções na estrutura, que geram fissuras, que expõem a armadura e, caso estas não se encontrem devidamente protegidas, irão ser corroídas e falharem.

Esse é um possível mecanismo de ruptura, que inclusive pode justificar porque o edifício não caiu inteiro, mas uma parte apenas!

Possível corrosão

Sabendo-se que havia problemas de impermeabilização na piscina, há um agravante: a água. Não precisa ser gênio de química para entender o dano que se pode causar à armadura do concreto: fissuras causadas por recalques/acomodação do edifício deixam a armadura exposta à água (infiltração/falha do sistema de impermeabilização) e à agressividade da maresia. Pronto: tem-se o ambiente ideal para a corrosão da armadura, levando à falha estrutural da peça em que se localiza (laje, viga ou pilar).

Esse problema é gravíssimo, pois a ferragem que é colocada dentro do concreto, tem como função absorver esforços de tração (que o concreto é incapaz de absorver). Ou seja: se a armadura é corroída, perde sua capacidade estrutural, fazendo com que se perca também a capacidade portante da estrutura.

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Impacto de vizinho

Há que se considerar ainda o impacto da obra existente nas proximidades do edifício. Caso tenha havido escavações no local, pode ter havido um agravamento da segurança estrutural do edifício. Isso porque é possível que tenha havido movimentação de terra sob os blocos de fundação. Como a estrutura não se encontrava íntegra, havendo perda de material na base, pode ter havido o afundamento da base e o efeito cascata que culminou na ruína parcial do edifício.

O que se apresentou foi um possível mecanismo de ruptura e acompanharemos a evolução do estudo desse acidente. A perícia que está sendo realizada pelos engenheiros locais, certamente está avaliando o efeito conjunto desses fatores, para que se chegue ao real mecanismo de ruptura.

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O que poderia ter sido feito?

Quem projeta estruturas, sabe que cada parte do sistema estrutural tem uma função e deve ser responsável pela segurança local para então ter a segurança do todo.

Nesse caso, houve clara negligência em relação aos cuidados de manutenção da edificação.

Embora não seja uma construção tão antiga (1981), toda estrutura tem uma vida útil e demanda, ao longo dessa vida útil, ações de manutenção para garantir a segurança estrutural e dos demais sistemas, garantindo que o edifício irá funcionar adequadamente enquanto estiver em uso.

Portanto, nessa situação de Miami, em que foram identificados danos consideráveis há 3 anos, naquela época, já deveria ter sido realizada uma intervenção, onde, no mínimo, deveriam ter sido feitos os seguintes serviços:

  • monitoramento dos deslocamentos/recalque de apoio;
  • tratamento e/ou substituição da armadura passiva do concreto; e
  • tratamento das fissuras e preenchimento com nata de concreto; resolver a impermeabilização.
Fonte: Engenharia360