Entenda a alta dos preços de materiais de construção civil
Variação de preços de insumos de construção civil impactam negativamente no setor.
Com o período de quarentena a que o mundo foi submetido em virtude da pandemia do Coronavírus, todos os setores tiveram impactos. Entre prós e contras, alguns sofreram mais e outros menos.
Para a construção civil, houve várias implicações. A projeção de grande aquecimento do setor, da ascensão esperada pelo comportamento senoidal histórico do setor, foi adiada pela pandemia. Após alguns meses de adaptação, o setor segue despontando para dias melhores.
No entanto, um grande problema tem assolado as empresas do setor: a alta dos preços de materiais de construção civil.
Construtoras logo identificaram um aumento significativo nos preços dos materiais de construção civil. Logo, com os acréscimos observados – que em alguns casos chegaram a 100% do que era praticado no mercado antes da pandemia – os contratos já firmados tornaram-se desequilibrados.
Desequilíbrio de contratos
A avaliação é clara nesta situação: os contratos – especialmente de obras licitadas – enfatizam a necessidade do equilíbrio dos preços acordados, de modo que não sejam lesadas as partes envolvidas.
O aumento dos preços foi justificado imediatamente de forma não clara, atribuindo-se como causa a pandemia.
Em pesquisas realizadas com pequenas, médias e grandes construtoras, fornecedores e lojas de materiais de construção por sindicatos setoriais, foi possível verificar que as variações de preços não eram suportadas pelos contratos firmados.
Pesquisas de mercado
Com o objetivo de entender de forma clara os aumentos, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) iniciou tratativas legais com fornecedores nacionais.
Após estudos realizados, o presidente da CBIC, José Carlos Martins, avalia que o aumento é resultado da falta de oferta de produtos em quantidade suficiente para atender o mercado.
“Com a insegurança inicial provocada pela pandemia, em março, foi gerado um falso desabastecimento, que foi sendo aproveitado pelos fornecedores para recuperar preços. Se não houver um choque de oferta urgente, a memória inflacionária irá criar um caminho sem volta para a nossa economia”, destaca Martins.
A primeira pesquisa da CBIC, que ocorreu entre os dias 16 e 21 de julho, contou com 462 respostas de construtoras e incorporadoras de 25 estados. A segunda, no início de setembro, compilou documentos das empresas fornecedoras de materiais. O que observou-se foi um incremento expressivo nos preços dos materiais acima da inflação.
Outro indicador do aumento é dado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), através do Índice Nacional de Custos da Construção – Materiais e Equipamentos, que resultou aumento de 3,80% somente entre junho e agosto. A inflação do IPCA (Índice nacional de Preços ao Consumidor Amplo), no mesmo período, foi de 2,40%.
Abuso no ajuste de preços
As empresas construtoras e suas entidades representantes entenderam diversas situações como de abuso na precificação dos materiais.
A narrativa se baseia no cruzamento de informações presentes em diversos documentos, cotações e declarações para acionistas por parte de grandes indústrias. Por exemplo, foram identificados registros de comunicações por diferentes fabricantes informando aumento idêntico nos mesmos produtos, simultaneamente, nas mesmas regiões. Outras situações que representam este abuso foram o posicionamento de entidade do setor cimentício declarando estar aproveitando o contexto para recuperar preços devido à ociosidade produtiva e também, por parte de uma indústria siderúrgica demonstrando interferência no mercado.
A onda de aumento iniciou-se com alguns materiais como cimento, aço e PVC. No entanto, já está sendo acompanhada por diversos outros materiais sem razões aparentes para tais aumentos.
Após as investigações feitas, a CBIC apresentou um documento relatando o abuso no aumento de preços de materiais de construção à Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia. No documento, são relatados as causas, consequências e propostas para solução da situação atual.
Diante do cenário de desabastecimento e aumento do preço de materiais sem justificativas, as propostas estão ligadas à solicitação de reequilíbrio no abastecimento dos materiais, facilitação de importação, fiscalização do capital de giro, combate ao abuso econômico e instituição de câmara de mediação.
O que esperar do mercado?
Caso os aumentos sejam mantidos, devemos esperar a volta de memória inflacionária e reindexação dos contratos, busca por reequilíbrio com judicializações e insegurança jurídica.
Ainda devemos esperar: aumento do custo para empresas e risco de entrega dos projetos em andamento ou inserção de taxas extras; aumento do custo dos imóveis populares; aumento dos custos das obras públicas; desemprego na construção civil; atraso de entrega de obras em virtude do desabastecimento; entre outros impactos negativos.
O cenário ainda é incerto. O que teremos por enquanto é insegurança jurídica para a contratação de obras, e insegurança das empresas construtoras e incorporadoras para novos lançamentos. Além disso, a disputa e discussão acerca dos aumentos deve ser mantida por um longo período.
A possibilidade dos preços retomarem o patamar pré-pandemia é baixa, principalmente por se tratar de uma cadeia bastante fragmentada que possui dificuldade de comunicação entre os diversos subsetores de fabricantes.
Por outro lado o ministro da economia, Paulo Guedes, sinalizou com a possibilidade do governo desonerar a importação de insumos para a construção civil. Agora, resta aguardar o desfecho das discussões e propostas setoriais para que os preços e o abastecimento possam ser adequados novamente.