Inteligência Artificial pode gerar 26 mi de empregos no País até 2030
Presente em diversas ferramentas do dia a dia, como assistentes virtuais, freios ABS e leitores digitais de notebooks, estudo aponta que a tecnologia pode impulsionar a economia brasileira na próxima década
Distante da ideia de um mundo pós-apocalíptico dominado pelas máquinas retratada pelos filmes, a Inteligência Artificial (IA), é utilizada hoje para realizar diversos serviços, como assistentes virtuais de atendimento a consumidores – a Alexa (Amazon), Cortana (Microsoft) e Siri (Apple), por exemplo. Tecnologia esta, inclusive, que já está sendo replicada por empresas brasileiras.
De fato, a adoção máxima da IA no País pode criar 26 milhões de novos empregos no setor de serviços e aumentar a taxa composta anual de crescimento (CAGR) do Produto Interno Bruto (PIB) para 7,1% ao ano até 2030, considerando um cenário de máximo impacto pelos benefícios da Inteligência Artificial. Os dados são do estudo “O impacto da IA no mercado de trabalho”, elaborado pela consultoria norte-americana DuckerFrontier a pedido da Microsoft.
O resultado é superior à projeção de 2,9% de crescimento do PIB brasileiro realizada pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o mesmo período.
A pesquisa analisou os efeitos que a tecnologia pode trazer ao Brasil, até 2030, na economia, sociedade e mercado de trabalho em cenários de mínimo e máximo benefício da adoção de Inteligência Artificial. As simulações consideram áreas como as de serviços públicos, prestação de serviços corporativos, comércio varejista, atacadista, hotelaria e alimentação, entre outros.
Em relação ao mercado de trabalho, no cenário ideal, as empresas no Brasil fariam um investimento maior na incorporação da tecnologia, permitindo a criação de novos produtos e serviços. Neste contexto, o setor de serviços corporativos será o mais beneficiado, com 26 milhões de empregos novos criados.
Seriam 103% mais postos de trabalho até 2030 em comparação a estimativas feitas pelo Banco Mundial e o FMI, uma vez descontados os efeitos de automação e criação de empregos novos (os empregos novos aumentariam 258% no setor de serviços corporativos). Outros setores que teriam ganhos importantes na criação de novos postos de trabalho seriam o de manufatura (73% de crescimento) e o da construção civil (42%).
Ainda de acordo com o estudo, uma redução na carga horária não levaria automaticamente a uma perda de postos de trabalho em todos os casos. Segundo a consultoria, as empresas poderiam alocar novas tarefas a seus empregados ou até reduzir a carga horária graças aos ganhos de produtividade que a IA oferece.
Desenvolvimento
“Há muito mais mitos do que realidade. E as pessoas tomam como verdade resultados preliminares de pesquisa ainda em nível acadêmico como sendo algo já disponível no mercado. Um mito que se propaga com certa facilidade é que a IA vai se tornar mais inteligente que o ser humano e dominar o mundo. Os programas de Inteligência Artificial disponíveis são, na verdade, construídos a partir de algoritmos muito simples, que nem de longe se assemelham à capacidade cognitiva dos humanos”, argumenta Guilherme Barreto, doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo (USP) e titular do Departamento de Engenharia de Teleinformática da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Ele deixa claro que já há muitos recursos que utilizam a tecnologia de IA que são úteis para toda a sociedade. Entre eles, as assistentes virtuais são um exemplo já disponível para acesso de milhões de usuários, mas não são as únicas.
“Há algum tempo, a IA está presente no cotidiano das pessoas, por exemplo, no sistema de controle do ar-condicionado com selo de economia, no sistema do freio ABS, em leitores de digitais de notebooks, para citar apenas uns poucos casos. Os sites de várias empresas, tais como Unimed e Sky, possuem atendimento com assistente virtual que usam técnicas de IA para tentar resolver as demandas dos usuários. Nos próximos anos, veremos certamente maior presença deste tipo de serviço”, afirma Barreto.
Outra experiência com o uso dessa tecnologia está sendo testada no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e mostra como a IA pode ser útil para empresas e seus clientes. Trata-se de uma robô-assistente batizada de Gal, resultado de uma parceria entre a companhia Gol Linhas Aéreas e a Pluginbot. Já conhecida nos canais de autoatendimento da companhia, a robô ganhou corpo físico e responde dúvidas sobre portão de embarque ou quando sairá o próximo voo para algum destino, por exemplo.
Desde outubro, ela está no check in próximo à área da Gol no terminal. A tendência é que ela chegue a mais aeroportos à medida que o equipamento for evoluindo. Além disso, em um segundo momento, a companhia prevê conectá-la ao sistema da Gol para que serviços como a troca de assentos, remarcação de voos e outros serviços possam ser realizados diretamente pela robô. “Contamos com a chegada do nosso primeiro robô de atendimento. É a inteligência artificial, literalmente, ganhando vida na Gol”, afirma Paulo Palaia, CEO da companhia aérea.
Microsoft
O estudo foi apresentado no último dia 11, em São Paulo, no AI + Tour. Realizado pela Microsoft, o evento tratou da evolução da IA e sobre como a companhia vem adotando e ajudando clientes a utilizarem melhor a tecnologia em seus produtos. Na ocasião, Tim O’Brien, diretor geral de programas de Inteligência Artificial da Microsoft, ressaltou a importância de desenvolver a tecnologia de forma transparente, ética e responsável.
“A IA tem potencial para nos ajudar a resolver alguns dos maiores desafios do mundo. A oportunidade é significativa, mas o design, o desenvolvimento e o uso responsáveis são igualmente importantes. A tecnologia e as ciências sociais devem andar lado a lado para garantir um impacto positivo na sociedade”, disse ele.