Conjuntura favorável para o rental

Com demanda proveniente de setores como infraestrutura, mineração e agronegócio, o setor colhe bons resultados em meio a juros altos, inflação e dificuldades logísticas

A demanda de setores como infraestrutura, mineração e agronegócios parece incrementar as expectativas do mercado de rental, a despeito de fatores conjunturais como alta dos juros, proximidade das eleições e dificuldades de obtenção de novos equipamentos. Perdurando por prazos mais longos que o razoável, esses fatores afetam negativamente o setor neste momento de instabilidade global.

A alta acentuada dos juros é um agente potencialmente inibidor de projetos que normalmente recorrem ao rental, enquanto a eventual demora na obtenção de equipamentos pode prejudicar a capacidade dos locadores de atender a um maior volume de solicitações. Mas, paradoxalmente, também têm o efeito contrário, de ampliar a demanda, ao menos momentaneamente, como relata Victor Melo, gerente geral da Mason Rental.

“Os juros mais altos favorecem a busca por equipamentos locados ao encarecer o capital, em detrimento da compra de máquinas próprias, enquanto as incertezas políticas estimulam as empresas a reduzir o CAPEX (investimento em bens de capital), valendo-se mais do rental como alternativa”, diz.

Atualmente, diz Melo, a taxa de ocupação chega a 92%. “Nossa meta de 85% é ousada, pois o mercado geralmente trabalha com 75%”, ressalta o especialista da Mason, que atua com um portfólio que inclui desde compactos até plantas de britagem, passando por soluções de Linha Amarela, geradores, manipuladores e outros produtos.

De acordo com ele, a demanda vem crescendo nos diversos segmentos, destacadamente na Linha Amarela destinada à mineração, ferrovias, portos e demais projetos de infraestrutura, assim como agrícolas e compactos utilizados em plantas de energias renováveis.

“Acredito que a demanda continuará aquecida durante todo o ano, pois o agro segue crescendo e, nos próximos dois anos, haverá muitos projetos de descomissionamento de barragens, assim como expansão da demanda por energia renovável”, completa.

Setor avança com a tendência de se reduzir o volume de ativos próprios nas empresas

CRESCIMENTO

O presidente da Escad, Eurimilson Daniel, também cita obras de infraestrutura, mineração e agropecuária como as atividades que mais impulsionam a demanda, garantindo um crescimento sustentável ao rental, atualmente em índices expressivos mesmo quando cotejados com os dados de 2021, que já foi um bom ano. “Este ano, o mercado de rental deve expandir-se em índice superior ao da venda de equipamentos novos, que no Brasil deve avançar entre 10% e 15%”, prevê Daniel.

Entre os motivos dessa expansão mais acentuada, o executivo cita a ampliação do mercado de atuação das locadoras, que há apenas alguns anos era restrito a poucas construtoras de grande porte e, hoje, é composto por muito mais players. Inclusive, fundos de investimento que arremataram concessões de infraestrutura e cujas obras – por cálculo financeiro – privilegiam o uso de equipamentos locados.

Outro motivo, ele prossegue, é que a participação do rental ainda é muito baixa no Brasil, comprada a outros países. Na Linha Amarela, por exemplo, atinge apenas cerca de 30%, enquanto nos EUA e em alguns países europeus já chega a 60%. “Também há uma tendência natural de crescimento do rental, que nos últimos dez anos registrou um aumento médio de 20% ao ano, subindo para 30% no ano passado”, ressalta o especialista da Escad, que disponibiliza todos os itens da Linha Amarela para locação.

Outro player de destaque, a Vamos Locação prevê um volume de negócios entre 70% e 80% acima de 2021, como revela o diretor comercial José Geraldo Santana Franco Jr. “No ano passado, já havíamos dobrado o volume de negócios em relação a 2020”, ressalta o executivo, cuja frota para locação conta com cerca de 30 mil equipamentos, incluindo 24 mil caminhões.

Esses índices expressivos de expansão, observa Franco Jr., revelam não apenas a qualidade do trabalho da empresa, mas também o potencial de expansão do mercado de rental. “Nos EUA, a locação já responde por 25% do mercado de caminhões, enquanto aqui esse índice ainda é de apenas 1,5%”, compara.

Antes restrito a poucas construtoras,mercado de rental já é muito mais diversificado

ENDÊNCIA

Além do transporte, o diretor vê potencial de negócios também no segmento das empilhadeiras, maior que o de caminhões, porém ainda pouco trabalhado. “Há espaço para um crescimento em todos os segmentos, uma vez que o parque nacional de máquinas é muito antigo, o custo de aquisição é muito alto e, ainda, há uma tendência global de se trabalhar com ‘asset light’, com o menor volume possível de ativos fixos”, argumenta o profissional da Vamos, cujo portfólio também inclui itens de Linha Amarela, agro e logística interna.

Já no segmento das plataformas elevatórias, a penetração do rental atinge um nível superior a 90%, estima Daniel Brugioni, diretor-executivo da Mills. Afinal, ele justifica, as plataformas geralmente não integram o conjunto de equipamentos destinados à atividade básica de uma empresa: “É uma ferramenta utilizada para manutenção ou reformas”, explica.

Atualmente, a Mills disponibiliza cerca de 10 mil plataformas para locação, distribuídas por mais de 50 modelos, com alturas entre 6 e 60 m. Desde o final do ano passado, a demanda por esses equipamentos vem se aquecendo no país, muito em decorrência da utilização em projetos de infraestrutura, incluindo energia, telecom e saneamento. “Se tudo correr conforme o previsto, esse aquecimento deve manter-se, talvez não tão intenso quanto foi no final do ano passado, mas aquecido mesmo assim”, ele projeta.

Atualmente, especifica Brugioni, apenas cerca de 30% das plataformas vão para obras de construção, enquanto o restante segue para setores como indústria, serviços e mineração. “Hoje, nosso maior cliente é a Vale, que usa plataformas na manutenção de plantas de mineração”, destaca. “Mas também se usam muitas plataformas na manutenção de usinas sucroalcooleiras e parques eólicos, entre outras operações.”

Embora não vislumbrem nuvens capazes de nublar um horizonte de negócios tido como promissor, os especialistas não deixam de acompanhar movimentos como a alta de juros e inflação, potenciais geradores de riscos para qualquer setor. E, nesse momento, precisam lidar também com as dificuldades no recebimento de novos equipamentos. Ao menos por enquanto, contudo, essas dificuldades ainda não moderam os projetos de investimentos das locadoras, que se mantêm atentas.

Nesse sentido, Daniel, da Escad, cita motoniveladoras e tratores de esteiras entre os equipamentos com a menor disponibilidade no mercado. De acordo com ele, no entanto, as dificuldades de aquisição de novos equipamentos já são menores que no ano passado. “Por falta de máquinas, em 2021 deixamos de atender a cinco em cada dez demandas”, comenta. “Agora, essa proporção baixou para três em cada dez demandas.

Caminhões estão entre os produtos com maior tempo de espera para recebimento

INVESTIMENTOS

Essas dificuldades também não impedem as locadoras de seguirem investindo na ampliação e atualização das frotas. A Mason, por exemplo, programou para este ano um investimento em equipamentos superior aos R$ 100 milhões aportados no ano passado. “A tendência é de haver demanda em obras de infraestrutura, no setor agropecuário e na mineração, cujos projetos de descomissionamento de barragens devem exigir muitos equipamentos nos próximos dois anos”, ressalta Melo, destacando que os problemas no recebimento de novos equipamentos estão mais concentrados na linha agrícola. “Colheitadeiras, por exemplo, só é possível receber em 2023”, assinala.

Do mesmo modo, Franco Jr, da Vamos, também cita máquinas agrícolas, juntamente com caminhões, como os equipamentos com maior tempo de espera. “Mas seguimos ampliando nossa frota, pois começamos o ano com 23 mil equipamentos e já estamos com mais de 30 mil unidades, devendo fechar na faixa de 35 a 38 mil”, revela. “Trabalhamos com um planejamento bem antecipado e, por isso, estamos conseguindo atravessar esse momento de dificuldades na aquisição.”

Já a Mills, afirma Brugioni, realizou no final do ano passado um aporte de US$ 60 milhões na ampliação e modernização da frota. E a maior parte dos 1,3 mil equipamentos adquiridos deve chegar à empresa apenas no último trimestre. “Isso é quatro vezes o prazo normal de entrega, de 90 dias”, observa.

Para ele, entretanto, movimentos atuais como aumento da inflação, elevação dos juros e guerra na Europa devem ser acompanhados de perto pelo mercado, pois embutem riscos. “Por enquanto, geram apenas atenção, pois ainda não sofremos nenhum impacto oriundo desses fatores”, ressalta.

Atenta ao potencial do mercado, a Mills projeta até mesmo expandir seu campo de atuação, como revela o executivo. “Temos estudos avançados para nos colocarmos como uma locadora multiprodutos, com atuação em outras vertentes, como movimentação de terra ou produtos agrícolas”, antecipa Brugioni.

MERCADO 1
Crescimento supera expectativas, diz executivo

Em comparação com 2021, a apreensão com uma eventual crise no fornecimento de energia reduziu bastante neste ano, o que fez com que muitas empresas que locaram geradores no final do ano passado devolvessem os equipamentos, conforme relata Cândido Terceiro Júnior, diretor comercial da A Geradora.

Mesmo assim, nos primeiros cinco meses do ano a empresa deve apontar um volume de negócios entre 10% e 15% superior ao do mesmo período de 2021. “É até mais do que esperávamos, uma vez que prevíamos uns 10%”, destaca. “E acho possível que superemos nossas metas para o ano completo.”

Com 14 filiais, a locadora de Salvador (BA) tem presença mais marcante justamente no segmento de geradores, mas também disponibiliza compressores de ar, plataformas elevatórias, torres de iluminação e sistemas de climatização.

De acordo com Terceiro Jr., a demanda por esses equipamentos vem se expandindo em ritmo similar nas diferentes regiões do país. “É algo até atípico, pois geralmente uma região cresce mais que outra”, observa. “Mas ainda estamos com dificuldades para comprar equipamentos, que não só demoram mais para chegar, como ainda estão mais caros.”

Locadoras vêm superando metas de negócios previstas para o ano

MERCADO 2
Empresas de rental continuam comprando, diz a Komatsu

De acordo com Rodrigo Pautilho, representante de vendas de aluguel e máquinas usadas da Komatsu, a alta demanda por equipamentos de terraplenagem continua e as empresas de rental vêm se beneficiando disso. “Os segmentos que se destacam são os de agronegócio, construção, florestal, indústria, mineração e agregados, setores muito aquecidos”, afirma Pautilho.

O especialista destaca ainda que novas empresas têm entrado no mercado, sinalizando que o setor tem muito espaço para crescer. “A competitividade favorece também o emprego de tecnologias como a telemetria, que permite uma gestão de frota eficiente, essencial para atender as exigências de qualidade, disponibilidade e custos deste mercado”, explica Pautilho, destacando outro fator que contribui para o crescimento do rental.

“O período de incertezas políticas e econômicas que vivemos acaba favorecendo o mercado de rental, sendo a melhor opção viável no curto e no médio prazo”, aponta.

Competitividade no rental favorece o emprego de tecnologias como a telemetria
Fonte: Revista M&T