Mineração 4.0 e os desafios para operações mais sustentáveis

Fatores de sustentabilidade têm estimulado a adaptação das operações às tendências de digitalização que vão ocorrer ao longo da década

No Brasil, o setor de mineração marcou um crescimento de 62% no faturamento em 2021, em comparação com o ano anterior. Significa que a alta foi de R$ 339 bilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) de fevereiro de 2022.

Com isso, vem a questão de como manter uma expansão contínua e inovar nos métodos e processos utilizados na cadeia dessa indústria. Para responder à essa pergunta, primeiramente precisamos saber que a tecnologia é uma grande aliada para tornar as atividades mais eficientes, seguras e sustentáveis.

Entre 2015 e 2019, os rompimentos de duas barragens de rejeitos em Minas Gerais, e que foram decorrentes das atividades da mineração, geraram impactos sociais e ambientais na região.

Nestes casos, os rompimentos poderiam ter sido evitados com o uso de softwares de monitoramento de imagens das superfícies com alertas de eventuais movimentos irregulares da terra. Este é um dos exemplos de como as inovações podem ser utilizadas para a modernização do setor.

A transformação deste segmento é mais do que necessária e, para que ocorra, deve ser capaz de diminuir os aspectos negativos que impactam ambientalmente e em larga escala. Trata-se de um dos setores-chave da economia brasileira, que responde por cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de acordo com o levantamento do IBRAM.

O mercado já oferece várias soluções que contribuem para revolucionar a área a partir da automação e gestão inteligente de processos com a análise de dados, inteligência artificial, Internet of Things (IoT) e realidade virtual.

Apesar de todo o incremento tecnológico, haverá desafios em relação ao processamento, armazenamento e análise de uma quantidade crescente de dados, por ser um setor que atua em áreas críticas, usa veículos pesados e movimenta altos volumes de cargas por longas distâncias.

Indo além desses obstáculos, a mineração tem sido impactada por fatores de sustentabilidade que têm estimulado as companhias a adaptar suas operações às diversas tendências de digitalização que vão ocorrer ao longo desta década.

O avanço das tecnologias nessa área foi abordado no relatório “Mine 2021: Great Expectations, Seizing Tomorrow” da PwC, de 2021, com informações envolvendo as 40 maiores mineradoras do mundo. O material aponta que as empresas precisarão ter planejamento, governança e estruturas de segurança cibernéticas bem definidas para garantir a transformação digital em suas operações.

E cita, ainda, dados de previsão do Fórum Econômico Mundial sobre 67% das tarefas repetitivas e manuais, e 60% das tarefas que envolvem mão de obra, serem automatizadas até 2025.

Os investimentos em inovação por parte das mineradoras ocorrem em um período de fortes perspectivas de crescimento para o setor devido à grande demanda por minerais que são necessários em áreas de ampla expansão, como energia renovável, veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia.

Essa transformação digital tem demandado ferramentas inteligentes que se adequem às características dessa indústria, como é o caso das soluções de Edge Computing. Como as operações geralmente ocorrem em áreas remotas e críticas, o processamento, armazenamento e análise de dados realizado localmente se encaixam às necessidades para esse tipo de serviço.

Em relação aos veículos autônomos, essa tecnologia é um diferencial para a otimização de rotas e logística, que vão impactar positivamente os custos operacionais. Ao transportar commodities como minério de ferro e carvão, por exemplo, o rastreamento dos materiais é vital para aperfeiçoar a operação sem incidir em erros ao longo da cadeia.

Além disso, a computação de borda auxilia no planejamento de rotas dos caminhões para evitar ociosidade. Por ser uma operação que envolve vários veículos, o processamento e análise local de dados evita a ocorrência de filas no descarregamento dos materiais, o que gera economias significativas para a companhia.

Essa inteligência proporcionada pela tecnologia às áreas críticas de atuação das mineradoras também tem um papel fundamental em tornar as operações mais sustentáveis. Ao tornar as atividades mais coordenadas, se reduz bruscamente o consumo de energia local, que é baseada em geradores a diesel, um dos grandes vilões da área por conta das emissões associadas a esse combustível.

Nesta que será a década mais desafiadora para a indústria de mineração por conta das transformações do setor, o uso de tecnologias para adaptar as atividades às demandas do mercado será essencial para as companhias.

Da implementação de veículos autônomos à gestão inteligente e integrada de toda a cadeia, passando pelo processamento e análise de dados localmente, as inovações tornam-se base para as mineradoras estarem em linha com as novas práticas do mercado com operações mais eficientes e sustentáveis.

Fonte: Revista MT