Com ‘Entrada Moradia’, construtoras triplicam vendas e aceleram lançamentos
Programa aqueceu as vendas e o ritmo da indústria da construção civil no Estado, apontam empresas, que projetam ritmo semelhante para 2025
O mercado imobiliário vive o seu melhor momento e o programa “Entrada Moradia”, lançado em junho deste ano, vem contribuindo para esse cenário, avalia o setor da construção civil cearense. Com a iniciativa do governo estadual, as empresas têm triplicado as vendas de imóveis e, diante dos números positivos, estão revendo os cronogramas para lançar novos empreendimentos antes do previsto.
É o caso da MRV. A construtora já vendeu mais de 600 unidades dentro do programa no Ceará e possui mais 500 em estoque. “Até o lançamento do programa a média era de 100 unidades vendidas por mês. A partir do lançamento, triplicamos as vendas: foram 320 em junho e 305 em julho, então foi uma alavancagem muito boa”, diz Marcelo Carneiro, gestor comercial da empresa. Ele projeta vender, dentro do programa, de 1.100 a 1.200 imóveis no Ceará até o fim deste mês.
O sucesso da iniciativa permite à construtora “ampliar as oportunidades de lançamentos” para o ano que vem, embora a MRV não tenha antecipado o cronograma de lançamentos. “Com a chegada do ‘Entrada Moradia’ neste ano, fizemos o planejamento de 2025 ampliando as oportunidades de lançamentos e comprando mais terrenos”. De acordo com o gestor comercial, a MRV deve lançar 10 empreendimentos no próximo ano, dois a mais do que os oito empreendimentos que estão sendo lançados em 2024. “Muito disso (ocorre) com o aquecimento do Entrada Moradia”.
Em número de unidades, para 2025, serão 2.600, considerando não apenas os imóveis que se encaixam no programa, mas outros a exemplo dos que se enquadram na Faixa 3 do Minha Casa, Minha Vida.
A Victa Engenharia, braço da Diagonal voltado para imóveis no perfil do Minha Casa, Minha Vida, também viu as vendas triplicarem após a implementação do programa. “Nós triplicamos as vendas depois que o ‘Entrada Moradia’ entrou em vigor há 90 dias. É muito forte”, diz João Ximenes Fiuza, diretor comercial do grupo. O produto feito para o programa tem preço de venda em torno de R$ 200 mil e foi feito para atingir um público com renda de R$ 2,7 mil.
Ele destaca que, com a iniciativa, que subsidia com até R$ 20 mil o valor de entrada na compra do imóvel, o consumidor acaba não precisando parcelar a entrada. O mecanismo de parcelamento de entrada é uma estratégia amplamente adotada pelas construtoras e incorporadoras para facilitar a aquisição do imóvel.
Entrada
Como muitos compradores em busca da realização do sonho da casa própria moram de aluguel, a entrada, mesmo parcelada, ainda é um entrave, pois as famílias têm dificuldade de arcar com o aluguel e a parcela da entrada concomitantemente. É nessa vulnerabilidade que o programa atua.
“O governo entrar nisso é necessário para o desenvolvimento do País, porque a construção é o segmento econômico que puxa a economia, na nossa visão. Quando a gente chega para construir um empreendimento, a gente melhora a infraestrutura da região. A gente ‘puxa’ energia, esgotamento sanitário, melhora o entorno, conversa com a comunidade e transforma bairros. E para isso acontecer, o Entrada Moradia é essencial”, pontua Fiuza.
Sobre rever os planos em termos de lançamento em decorrência do Entrada Moradia, ele revela que vão ser necessários “novos lançamentos porque estão acabando os estoques de imóveis no perfil MCMV”. “Vamos ter três lançamentos até dezembro, todos MCMV, mas dois para a Faixa 2, no Planalto Ayrton Senna e no Jangurussu, que se encaixam no Entrada Moradia”. O outro empreendimento é da faixa três do MCMV e será no Jóquei Clube.
A construtora Tenda corrobora o crescimento nas vendas em função do Entrada Moradia. Já foram 700 unidades comercializadas dentro do programa. “Hoje somos uma das principais construtoras operando com o Entrada Moradia”, comemora Rodrigo Hissa, diretor regional Nordeste da empresa. Apesar de afirmar que as comercializações foram alavancadas, a Tenda não disse exatamente quanto sob a justificativa de ser uma empresa de capital aberto. Os resultados devem ser divulgados em novembro.
Hissa também afirma que, com o subsídio, fica mais fácil enquadrar os clientes.”Traz um enorme benefício para as famílias que tinham dificuldade de conseguir pagar a entrada. Agora, com o subsídio de R$ 20 mil, ficou mais fácil de enquadrar o cliente”.
“O programa tem um potencial de transformar de maneira substancial a moradia no Ceará e reduzir o déficit habitacional que continua elevado”, avalia Rodrigo Hissa.
VGV histórico
Além disso, o programa também tem produzido impactos sobre os lançamentos da Tenda. A construtora vai lançar dois empreendimentos, ainda em setembro e outro em outubro, “fazendo assim um volume histórico de Valor Geral de Vendas (VGV) lançado no Ceará desde o início da nossa operação. E estamos preparando mais crescimento para 2025”.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias, reforça que o programa é fruto de um levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), que identificou o seguinte cenário: as pessoas tinham capacidade de pagar a prestação de um financiamento de imóvel, mas não tinham como dar entrada. Assim nasceu o programa no Ceará e em outros estados. “Com esse subsídio o Governo do Ceará também ganha, porque gera emprego e renda e isso retorna por meio do ICMS”.
Segundo o Governo do Ceará, 69 empreendimentos foram aprovados para a venda de casas com o subsídio do programa, sendo 5.853 unidades imobiliárias. Quase três mil pessoas se cadastraram pelo portal do Entrada Moradia para ter acesso ao benefício na compra da casa própria.